Não negue que, quando a Renault divulgou os preços do Kwid, você ao menos visitou o site da pré-venda para observar o que ele poderia oferecer por iniciais R$ 29.990. Agora mostrado oficialmente no Brasil, os detalhes do "SUV dos compactos" foram revelados e pudemos avaliar as versões Intense e Zen nas ruas congestionadas de São Paulo (SP).
O Kwid é uma das maiores apostas da Renault nos últimos tempos na América Latina. Em 2014, o protótipo de um jipe mostrado no Salão de São Paulo, chamado Kwid, já adiantava que o novo modelo chegaria ao Brasil. Desde então, a equipe de engenharia da Renault praticamente refez o projeto, originário da Índia. Contamos mais detalhes na matéria de lançamento.
Basicamente, a Renault refez toda a estrutura do Kwid para deixá-lo mais seguro, mas sem perder a eficiência de seu baixo peso e espaço interno. Ele é cerca de 80 kg mais pesado que a versão "original". Em parte, pelos reforços, que poderiam ser mais pesado se não fosse o uso de aços de alta resistência. Eles foram aplicados a pontos estratégicos, para torná-lo mais resistente a impactos do que o modelo vendido na Índia, que tirou nota zero em teste do Global NCAP. Ele também pesa mais por conta da presença de itens como os airbags laterais. De série, ele traz em todas as versões a fixação Isofix no banco traseiro.
Com isso, o Kwid pôde se apropriar do motor 1.0 SCe, de 3 cilindros, mas com menos potência e torque que o utilizado no Sandero/Logan. Com cabeçote sem variador de fase (mas ainda usando duplo comando) e coletor não integrado, ele produz 66/70 cv e 9,4/9,8 kgfm de torque respectivamente com etanol e gasolina, suficientes para deixar a relação peso/potência melhor que a do Sandero. Ou seja, mesmo com menos força e potência, o Kwid andará melhor que o irmão maior. Até uma nova caixa de câmbio, projetada para a plataforma CMF-A - para modelos de entrada do grupo -, é otimizada para este torque, sendo mais leve, compacta e barata.
Usando as regras de classificação do Inmetro como escudo, a Renault Kwid é oferecido ao público como um SUV. São 24º de ângulo de entrada, 40º de saída e 180 mm de distância do solo. Foi a mesma tática usada pela Honda com o WR-V, mas o Kwid não entra na lista de SUVs no ranking de vendas. Ele substitui o finado Clio na categoria "Modelos de Entrada" da Fenabrave.
Algumas semanas antes do lançamento oficial, pudemos andar com o Kwid em um curto trajeto de 6 km pelo trânsito de São Paulo (SP), apenas para ter o primeiro contato. Naquele momento, tive uma boa impressão. Começando pela posição de dirigir. Ela é realmente alta, como é o desejo da maior parte do público alvo, e bem posicionada, mesmo sem ajuste de altura para coluna de direção e banco do motorista.
O bom acerto seguiu com o peso e modulação da embreagem. Mesmo curta, ela não é "on/off". Também há bom espaço interno para as pernas na frente e atrás. Para os ombros, o espaço é limitado e pessoas maiores sentirão a coluna da porta bater no ombro algumas vezes. O acabamento é recheado de plástico rígido, mas todos bem encaixados e de boa qualidade.
Ainda neste primeiro contato, o Kwid mostrou que realmente não precisava da potência do Sandero. Nossa segunda volta com ele, mais longo e com outros tipos de vias urbanas, só confirmou essa impressão. Justamente por ser leve, o Kwid responde bem em baixas rotações, mesmo sem o variador de fase dos comandos. A 2.500 rpm, ele já recomenda a troca de marchas no painel. Na prática, ela pode ser feita antes se for uma via plana ou com tráfego pesado. A Renault ficou devendo apenas um trecho rodoviário, mas o câmbio curto e o fôlego limitado do motor sem variador devem prejudicar tanto o desempenho quanto o consumo rodoviários. Responderemos a isso em breve, quando o carro chegar para o teste instrumentado completo.
Aproveitando que o test drive foi realizado na região da Pompeia, fugimos do trajeto normal em um segundo tempo para uma prova mais pesada. A região é conhecida pela quantidade de ladeiras desafiadoras e, logicamente, levamos o Kwid para uma delas. De cara, já observei alguns carros mais potentes descendo de ré por não conseguirem completar a "missão". Parei o Kwid na ponta do ladeirão, primeira marcha engatada e... ele cumpriu a prova. Toda em primeira marcha e pé no fundo, mas completou.
Ele me fez lembrar do meu primeiro carro, um 206 1.0 16V, com motor de origem Renault, pela "acordada" que o Kwid deu após os 3.000 rpm, mas que não se estendeu tanto quanto o do meu antigo carro e de seu 4-cilindros, também com 70 cv. Basta observar o pico de potência a 5.500 rpm para entender o motivo.
Em um segundo teste, parei o Kwid no meio da ladeira. A embreagem sofreu, mas subiu sem problemas. E ele era ocupado por duas pessoas e o equivalente a duas malas pequenas no porta-malas. Apenas o pedal de freio, mesmo frio, é borrachudo, com ação baixa, e ficou pior ao descer as ladeiras duas ou três vezes. Discos sólidos não dissipam o calor tão eficientemente quanto os ventilados, mas são mais baratos...
Como um SUV, a suspensão é mais firme para segurar o carro nas curvas mesmo com a altura elevada. As pancadas dos buracos são mais sentidas que, por exemplo, no Fiat Mobi. Do concorrente, o Kwid também traz a ausência da barra estabilizadora na dianteira. Diferentemente do que foi divulgado em material técnico, o Renault traz eixo de torção, não rígido, na traseira. É suficiente para o uso urbano, mas as respostas em alta velocidade são prejudicadas.
A direção elétrica, sistema que poderia estar em outros Renault mais caros, é leve para manobrar e usar na cidade, mas perde comunicação conforme a velocidade sobe. Mais uma vez, o suficiente para a cidade, acompanhado por um volante com desenho diferente do visto nos demais irmãos e com tamanho menor.
Na apresentação, a Renault falou sobre a procura de cada versão durante a pré-venda, que superou em muito as expectativas iniciais da marca. Cerca de 10% dos clientes reservaram a versão Life que, por R$ 29.990, traz 4 airbags, Isofix e desembaçador traseiro. Nada de ar-condicionado ou direção elétrica, que entrarão no pacote de opcionais da versão em outubro, ainda sem preço divulgado. 50% deles preferiram a versão Zen, com ar-condicionado, direção elétrica, vidros dianteiros elétricos e, na pré-venda, som com Bluetooth e USB por R$ 35.390. Os demais 40% optaram pela Intense, de R$ 39.990, que recebeu pacote Connect, com retrovisores elétricos, sistema multimídia com GPS e câmera de ré, além de painel com conta-giros, computador de bordo, faróis de neblina, grade cromada e calotas de aro 14" que acompanham o desenho das rodas. Sim, é uma calota.
Questionada sobre as pré-vendas, a Renault se recusou a falar em números. Disse apenas que foram reservados 4 vezes mais Kwid na pré-venda que o esperado. O que não bate com nossas contas. Conforme já explicamos por aqui, a pré-venda inicial previa 400 unidades do carro. Se ele tivesse vendido 4 vezes mais do que o esperado, teria vendido 1.600 unidades, mas essa foi a quantidade adicional oferecida na segunda ampliação de oferta. Cinco vezes maior que a inicial. E ainda houve uma terceira, que elevou as unidades disponíveis para 10.000 unidades. Ou 25 vezes mais do que o previsto inicialmente.
Talvez a Renault não comente os números porque prometeu entregar os carros primeiros a quem os encomendou. E a última previsão da empresa era conseguir entregar as encomendas só no final de novembro. Isso jogaria todos os compradores do carro que forem às revendas para uma fila. E os primeiros a chegar só receberiam o carro em dezembro.
A Renault nega que isso vá acontecer. Diz que já tem como atender aos compradores que forem às revendas. Das duas, uma: ou a Renault vai quebrar a promessa de priorizar quem reservou seu Kwid, dividindo a produção para atender aos dois públicos, ou terá de acelerar a entrega dos já reservados para que o prazo até novembro seja devidamente reduzido.
Seja como for, o "SUV dos compactos" já pode ser comprado nas concessionárias. Mais para a frente, começam as vendas diretas. Segundo fonte da marca, as locadoras já estão procurando pelo Kwid para abastecer a frota. Se vender como toda esta expectativa mostra, o subcompacto será um sucesso.
Colaborou Gustavo Henrique Ruffo
Fotos: divulgação
MOTOR | dianteiro, transversal, 3 cilindros, 12 válvulas, 999 cm3, comando duplo sem variador, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 66/70 cv a 5.500 rpm / 9,4/9,8 kgfm a 4.250 rpm |
TRANSMISSÃO | manual de cinco marchas; tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | aço com calotas, aro 14", pneus 165/70 R14 |
FREIOS | discos sólidos na dianteira e tambor na traseira com ABS e EBD |
PESO | 786 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 3.680 mm, largura 1.579 mm, altura 1.474 mm, entre-eixos 2.423 mm |
CAPACIDADES | tanque 38 litros; porta-malas 290 litros |
PREÇO | R$ 39.990 (com pacote Connect) |
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