Pode reparar que a Apple nunca lança versão básica de seus aparelhos mais novos. É sempre um modelo mais completo, com maior capacidade e, claro, mais caro. Isso porque é no começo das vendas que as marcas conquistam o early adopter, aquele cara que gosta de novidade e não se importa de pagar mais por isso. Quando a Fiat lançou o Argo, pensei que iriam focar de início nas versões mais caras, HGT e Precision 1.8, para depois então ir "descendo" para a Drive 1.3 e, por fim, a Drive 1.0. Ou seja, fazer a fama do Argo com os carros mais completos para depois lançar os mais acessíveis. Mas a estratégia não foi bem essa.
Logo de cara chegaram todos os Argo. "A versão 1.0 é um pedido do mercado", explica Adriano Resende, diretor de marketing da FCA. A Fiat estava ávida por um carro de volume, e o 1.0 deverá responder por 35% do volume do novo hatch. Para não "manchar" a imagem dos Argo mais caros, a versão Drive 1.0 veio bem equipada. Por fora, apenas as rodas aro 14" de aço com calotas e as coberturas plásticas dos nichos onde ficariam os faróis de neblina entregam se tratar do modelo básico. Não há economias como retrovisores e maçanetas sem pintura.
Por dentro, o acabamento é exatamente o mesmo da versão Drive 1.3, o que para o segmento é muito bom. O tecido que reveste os bancos e parte das portas dianteiras é bonito e não muito áspero, enquanto a faixa cinza fosca que atravessa o painel confere certo requinte. O cluster também é vistoso e, com uma tela de 3,5" no centro, exibe uma série de informações do computador do bordo. O volante é bonito e tem boa pegada, mas só ajusta em altura - profundidade só nas versões 1.8.
Opcional mais desejado é a central multimídia "flutuante" com tela de 7", pois parece que o Argo fica "pelado" sem ela. Custa R$ 1.990, valor atraente para um sistema de alta definição e com conexões Apple Car Play e Android Auto - tanto que a marca estima que 80% dos Argo 1.0 venham com a central. Sacada legal da Fiat foi equipar o modelo com duas entradas USB, sendo uma mais deslocada para o banco traseiro.
Se a cabine é igual a do Argo 1.3, a maior diferença do Argo "mil" está debaixo do capô. É o motor 1.0 Firefly de 3 cilindros e 6 válvulas, com bloco de alumínio, projetado para entregar torque em baixas rotações. De fato, o valor de 10,9 kgfm a 3.750 rpm é o maior entre todos os 1.0 aspirados do mercado. Já a potência é mais modesta, de 77 cv a 6.250 rpm. É exatamente o mesmo propulsor que equipa o Mobi Drive e o Uno 1.0, com direito, porém, a uma relação de marchas mais curta para o Argo, devido ao seu maior peso.
Novidade em relação aos irmãos é o sistema stop-start, pela primeira vez num Fiat 1.0. Para que a vibração natural do motor 3 cilindros não incomodasse no liga-desliga do dispositivo no trânsito, a FCA diz ter feito trabalho específico nos coxins do Argo. A ideia da marca era oferecer, mesmo na versão de entrada, o mesmo padrão de construção, acabamento, conforto e dirigibilidade dos modelos mais caros.
Para a primeira experimentação, a Fiat preparou um test-drive pela cidade de São Paulo. Segundo a marca, o consumidor deste carro vai usá-lo cerca de 70% no trânsito urbano. E o que mais chama atenção no Argo é o bom nível de conforto - superior, sem dúvida, ao de rivais como Onix, HB20 e Ka. Desde o modo como o banco acomoda o corpo, passando pelo eficiente isolamento acústico, o novo Fiat sobe o sarrafo da categoria neste aspecto.
Em movimento, a suspensão macia e o câmbio leve, embora um pouco longo nos engates, agradam. Os pedais são leves e a direção elétrica ficou muito bem calibrada: levinha em manobras e em baixa velocidade, ela ganha mais firmeza em velocidade. Foi a primeira vez que andei no Argo com rodas aro 14". Ele inclina um pouco mais nas curvas que um Onix, mas é mais dinâmico que o HB20. Os Freios são eficientes.
O motor Firefly não encontra dificuldades para levar os 1.105 kg do Argo 1.0. Com boa força em baixas rotações, o hatch tem saídas suficientemente rápidas e não reclama nas ladeiras. A Fiat declara aceleração de 0 a 100 km/h em (otimistas) 13,4 segundos, o que provaremos em breve num teste completo. Como no Mobi, porém, é um propulsor que "acaba cedo". Depois de umas 4.500 rpm é mais barulho do que ganho de velocidade. A vantagem é que, no Argo, o motor fica mais bem isolado da cabine. Tanto em ruído quanto em vibrações, ele é bem mais refinado que o Mobi - o que faz o sistema stop/start não incomodar com seu liga e desliga do motor 3 cilindros.
Quanto ao consumo, nosso test-drive urbano revelou média de bons 9,6 km/l pelo computador de bordo, com etanol, um número próximo dos 9,9 km/l divulgados pelo Inmetro. Com gasolina, a média passa a 14,2 km/l na cidade. Na estrada, as médias oficiais são de 10,7 e 15,1 km/l, com etanol e gasolina, respectivamente.
Ao contrário do que alguns esperavam, o motor 1.0 dá conta do recado no Argo. A questão é que esta versão não é barata como deveria ser, por se posicionar na base da gama. Por R$ 46.800, o novo Fiat é o mais caro do segmento. O Onix LT 1.0 baixou de preço nesta semana, ficando a R$ 46.150, e a GM ainda trabalha com descontos nas concessionárias. O Ford Ka SE 1.0 é tabelado a R$ 44.290, mas na prática é vendido a R$ 39.900. Já o Hyundai HB20 1.0 começa em R$ 42.500.
Se colocarmos os opcionais central multimídia e kit convenience (retrovisores com seta e ajustes elétricos, vidros elétricos traseiros), o preço do Argo 1.0 salta para R$ 49.990. Por um pouco mais, a GM oferece o Onix LT com motor 1.4 de 106 cv (R$ 51.050) e a multimídia MyLink. Já a Hyundai entrega o HB20 1.0 turbo (105 cv) por R$ 49.830 e o 1.6 (128 cv) por R$ 52.380. Por fim, a Ford oferta o Ka 1.5 (111 cv) a R$ 48.590.
Voltamos, então, à questão do início. O Argo é o hatch para a Fiat voltar a ser protagonista no Brasil, um modelo para elevar o moral da marca. Nas versões intermediárias e mais caras, ele chegou com preços que se embolam com os da concorrência. Mas na versão 1.0 ele ficou um pouco salgado. Tanto que, nas primeiras semanas de venda, a Fiat diz que a procura maior tem sido justamente nas versões 1.3. Cá pra nós, eu também iria de 1.3 se comprasse um Argo.
Fotos: autor e divulgação
MOTOR | dianteiro, transversal, três cilindros, 6 válvulas, 999 cm3, comando simples variável, flex; |
POTÊNCIA/TORQUE | 72/77 cv a 6.250 rpm; Torque: 10,4/10,9 kgfm a 3.250 rpm; |
TRANSMISSÃO | câmbio manual de 5 marchas, tração dianteira; |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira; |
RODAS E PNEUS | aço aro 14" com pneus 175/65 R14 |
FREIOS | discos na dianteira e tambores na traseira, com ABS; |
PESO | 1.105 kg |
DIMENSÕES | comprimento 3.998 mm, largura 1.724 mm, altura 1.503 mm, entreeixos 2.521 mm |
CAPACIDADES | tanque 48 litros; porta-malas 300 litros |
PREÇO | R$ 46.800 |
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