Assim que um novo C3 surgiu na Europa, durante o Salão de Paris do ano passado, a Citroën do Brasil já se apressou em dizer que o compacto de terceira geração não seria vendido aqui. Pelo que apuramos, o modelo não agradou em clínicas realizadas no país, além de a marca ter optado por esperar a nova plataforma CMP para compactos que chega em 2019. Por enquanto, o hatch receberá apenas atualizações locais para se manter competitivo.
Lançado em 2012, o C3 atual ainda tem desenho e soluções interessantes, com seu formato redondinho e o para-brisa Zenith que se alonga por parte da capota. O espaço interno é bom e o acabamento interno agrada, exceto pela ergonomia dos botões dos vidros elétricos. Mecanicamente, as versões de entrada já haviam trocado o motor 1.5 de 4 cilindros pelo novo 1.2 Puretech de 3 cilindros, que deixou o modelo mais econômico. Já nos modelos mais caros... Bem, o motor 1.6 ainda é o mesmo (recalibrado para 118 cv, contra 122 cv de antes), mas a antiga transmissão automática de 4 marchas enfim dá lugar ao câmbio de 6 marchas (EAT6) da japonesa Aisin - já utilizado no C4 Lounge e no C4 Picasso, porém com relações específicas.
Com duas marchas extras, a engenharia da Citroën encurtou as duas primeiras relações para ganhar agilidade nas saídas. Já na estrada a ideia era se beneficiar de uma sexta marcha longa para reduzir o consumo de combustível. Uma novidade que veio com a transmissão é a opção ECO, que deixa o carro até 5% mais econômico em trajetos urbanos, segundo a marca. Há também o modo Sport, que estica as marchas em busca de melhor performance, e o modo manual, no qual as mudanças são feitas com leves toques na alavanca (não há mais as borboletas no volante como havia no C3 de 4 marchas). Neste modo, é preciso se acostumar com a posição invertida do sistema (+ pra frente e - para trás), o que contraria o movimento do corpo (para a frente nas reduções e para trás nas acelerações).
As relações de marcha ficaram as seguintes:
1ª |
4,044:1 |
2ª |
2,371:1 |
3ª |
1,556:1 |
4ª |
1,159:1 |
5ª |
0,852:1 |
6ª |
0,672:1 |
Ré |
3,193:1 |
Diferencial |
4,316:1 |
Ainda acordo com a Citroën, somente a adoção da nova transmissão já melhorou o consumo do C3 em até 7% na comparação com o câmbio anterior. Fora isso, o motor 1.6 VTi foi recalibrado por conta de emissões. Embora não seja a última palavra em tecnologia (é basicamente o mesmo usado no primeiro C3 de 2003), ele tem comando de válvulas variável e o sistema Flex Start, que elimina a necessidade do tanquinho de gasolina da partida a frio. Rende agora 118 cv e 16,1 kgfm de torque quando abastecido com etanol, contra 122 cv e 16,4 kgfm de antes.
O maior problema do antigo câmbio automático da PSA não era nem o fato de ter apenas 4 marchas (com um grande degrau entre elas), mas sim seu funcionamento irregular. Volta e meia ele dava trancos durante as passagens, além de engatar a primeira marcha um pouco antes da parada total do carro, o que ocasionava outro tranco bastante incômodo no trânsito urbano. O novo EAT6 deixou isso no passado: faz trocas suaves, no tempo certo, e deixou a dirigibilidade do C3 muito mais agradável.
A falta de torque em baixa deste motor 1.6 foi atenuada com a nova caixa, mas ainda é possível percebê-la em algumas situações, como saídas de lombadas em aclives. Nada, porém, que uma pressão maior no acelerador não resolva. Fora isso, as marchas agora ficam muito mais próximas e há sempre uma relação mais correta para cada situação - talvez por isso o fim das borboletas. O modo ECO funciona a contento, sem deixar as respostas do motor muito lentas, enquanto o modo Sport realmente deixa as respostas mais ágeis.
Com acerto voltado ao conforto, notadamente percebido pela suspensão macia e direção leve, o C3 também ficou mais silencioso com a nova transmissão, uma vez que o motor agora trabalha em rotações mais baixas na maior parte do tempo. Antes, havia situações em que a quarta marcha era longa demais e a terceira fazia o motor berrar. Agora isso foi resolvido e o motor só fala mais alto na cabine se você exigir desempenho.
Mas, falando em performance, confesso que esperava um pouco mais do C3 EAT6 em nossas medições. Ele acelerou de 0 a 100 km/h em 12,2 segundos e retomou de 40 a 100 km/h em 9,4 segundos - o que é apenas um pouco melhor do que o Fiat Argo 1.3 GSR (automatizado) recém-testado, que fez 12,8 s e 9,5, respectivamente, nas mesmas provas. Se formos comparar com um compacto 1.6 de câmbio automático, como o Hyundai HB20, o Citroën fica bem para trás. O HB de 128 cv chegou a 100 km/h em 11 segundos e retomou em 9 segundos. Ainda assim, o C3 está mais esperto do que antes.
Para não perder o pique, repare que a Citroën deixou a relação de diferencial um tanto curta para um câmbio de 6 marchas (4,316:1). O resultado é que, rodando a 120 km/h em sexta, o motor trabalha em 3 mil giros, o que está no limite para começar a "beber" - alguns rivais fazem o mesmo com 2,5 mil rpm. Mas, de fato, o consumo do C3 está melhor: registramos médias de 7,8 km/l na cidade (usando o modo ECO) e 11 km/l na estrada, sempre com etanol.
Resumindo, o novo câmbio valorizou o ponto forte do C3, o conforto. E deu uma melhorada na economia e no desempenho. Mas o motor 1.6 mostra sua idade, ficando a expectativa de sua substituição pelo 1.2 Puretech com turbo e injeção direta num futuro não muito distante.
Sem o fator novidade para ajudar nas vendas, como no caso do novo C3 europeu, restou à Citroën trabalhar na relação custo-benefício. Para isso a marca criou uma inédita versão de entrada com motor 1.6 e câmbio automático (não há mais versão 1.6 manual), chamada de Attraction. Por R$ 58.540, ela já vem com central multimídia com tela de 7" e conexão Apple CarPlay e Android Auto, faróis de neblina, vidros e travas elétricas, volante com ajuste de altura e profundidade, rodas de aro 15" com pneus 195/60, ar-condicionado e direção elétrica. Um pacote "attraction", sem dúvidas.
A versão seguinte é a Tendance, tabelada a R$ 61.940, que adiciona o para-brisa Zenith, rodas de alumínio e ponteira de escape cromada. Por fim, a topo de linha Exclusive (como a avaliada) é a única a vir com ar digital, sensor de estacionamento traseiro, acendimento automático dos faróis e sensor de chuva, por R$ 65.490 - bancos de couro não são oferecidos nem como opcional.
Já que a ideia do C3 agora é brigar por preço, a versão intermediária Tendance nos parece a melhor opção para quem gosta do compacto francês - agora com o câmbio que faltava. Só não esqueça que, em contrapartida, o modelo da Citroën possui uma das maiores desvalorizações do segmento.
Fotos: divulgação
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.587 cm3, duplo comando, variável na admissão, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 115/118 cv a 5.750 rpm / 16,1 kgfm a 4.000 rpm (gas) e 4.750 rpm (etanol) |
TRANSMISSÃO | automática de seis marchas; tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga-leve aro 16" com pneus 195/55 R16 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira com ABS e EBD |
PESO | 1.182 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 3.944 mm, largura 1.708 mm, altura 1.521 mm, entre-eixos 2.460 mm |
CAPACIDADES | tanque 55 litros; porta-malas 300 litros |
PREÇO | R$ 65.490 (Exclusive) |
MEDIÇÕES MOTOR1 | ||
---|---|---|
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 5,5 s | |
0 a 80 km/h | 8,6 s | |
0 a 100 km/h | 12,2 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 9,4 s | |
80 a 120 km/h em S | 9,3 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 42,7 m | |
80 km/h a 0 | 26,4 m | |
60 km/h a 0 | 14,9 m | |
Consumo (etanol) | ||
Ciclo cidade | 7,8 km/l | |
Ciclo estrada | 11,0 km/l |
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