Durante o lançamento da S10 2.5 automática, a Chevrolet deixou claro que a versão surgiu para recuperar a liderança do segmento. Se até então a Toyota Hilux era a única das picapes médias a oferecer a opção de motor flex com uma transmissão automática (e isso faz diferença nas vendas), a S10 chega atrasada, mas compensa com mais tecnologia e equipamentos. Será suficiente para retomar a antiga posição ou é apenas "papo de vendedor"?
Para tiramos a prova, aqui estão as versões topo de linha das duas picapes. De São José dos Campos (SP), vem a S10 LTZ 4x4, a mais completa da nova gama 2.5 automática. Com ela, a Chevrolet atende a um antigo apelo, já que nunca teve opção flex com câmbio automático. A solução foi trazer a caixa de 6 marchas da versão turbodiesel (também com reduzida), rever a relação do diferencial traseiro, para casar com o novo motor, e ir para a luta.
De Zárate, na Argentina, vem a Toyota Hilux SRV 4x4. Na era do downsizing, ela vai contra o movimento com o maior motor 4 cilindros do país. O 2.7 flex recebeu, nesta atual geração da Hilux, variação de comando na exaustão (antes, ele atuava apenas na admissão) e alguns ajustes para ficar mais econômico. Ele trabalha em parceria com um câmbio automático de 6 marchas que, nesta versão, tem a companhia da tração 4x4 com reduzida.
Na faculdade das picapes (FACAPES), S10 e Hilux frequentaram cursos diferentes. A Hilux foi fazer a aula de desenho e interior com um professor que lecionou ao Corolla, com plásticos de boa qualidade, mistura bem feita de cromo, alumínio, preto fosco e preto brilhante, bancos grandes e envolventes e um volante que bem que poderia estar no sedã médio. O mesmo vale para a posição de dirigir, confortável e fácil de ser encontrada, com a coluna de direção regulável em altura e profundidade, que lembra muito a de um carro de passeio.
A S10 se matriculou na aula de tecnologia. Fazendo inveja até a muitos sedãs médios, a picape traz alerta de colisão frontal e assistente de faixa, central multimídia MyLink 2 com espelhamento de smartphone via Apple CarPlay e Android Auto e serviço OnStar, entre outros itens.
Todo o avanço da S10 não se limitou aos equipamentos. Já não tão recente, mas ainda referência, o motor 2.5 SIDI flex tem injeção direta, duplo comando variável e rende até 206 cv (sem turbo). São 43 cv a mais do que a Hilux (163 cv), que ainda é 36 kg mais pesada. Em movimento, a diferença parece até maior, pois a entrega de força da S10 é mais linear e mais bem aproveitada desde as baixas rotações, mesmo com o torque sendo pouca coisa maior que o da Toyota (27,3 kgfm contra 25 kgfm).
Na prática, a S10 pede menos rotação e aceleração para ganhar velocidade, além de o câmbio reconhecer isso e aproveitar o torque sem muitas reduções de marchas. A Hilux é o contrário. Faz reduções quase que o tempo todo, além de não ter o mesmo vigor da rival nas saídas e retomadas. Na estrada, principalmente com passageiros e carga, a Hilux sofre para segurar os 120 km/h máximos permitidos. Já a S10 se torna um alvo de multas para os desatentos.
Na pista de testes, a picape da Chevrolet comprovou sua superioridade com números. As maiores diferenças apareceram nas acelerações, com quase 2 segundos de vantagem para chegar aos 100 km/h. Nas frenagens, vantagem novamente para a S10, que ainda marcou o melhor consumo urbano (5,3 km/l contra 4,5 km/l) e rodoviário (6,9 km/l contra 6,3 km/l) - uma das vantagens da injeção direta. Não são exemplos de eficiência energética, mas vale lembrar que são picapes de quase 2 toneladas. Não há milagre.
"Então quer dizer que a S10 é perfeita?". Não. Os ajustes de suspensão e direção elétrica estão focados em conforto, o que agrada na cidade por copiar bem menos o asfalto para a cabine, mas se sente a falta de uma conversa mais "sincera" entre picape e motorista. A Hilux, usando sistema hidráulico para a direção, é mais pesada para manobrar, além de pular mais nos buracos, mas é mais "na mão" e comunicativa. Oferece maior sensação de segurança e confiança. Só faltou ser mais potente.
Lembra que falamos sobre o acabamento da Hilux? Pois é: a S10 ficou para trás neste quesito. Longe de ser ruim, mas a Chevrolet parece ser mais simples e menos trabalhada, mesmo depois do facelift de 2016. A posição de dirigir é mais alta, com o volante mais reto e baixo (mesmo quando regulado todo para cima), o que lembra uma...picape. Numa viagem mais longa, o motorista da Hilux chegará ao destino mais "inteiro".
E, como são versões 4x4, ambas têm capacidade para passar por terrenos mais difíceis sem dificuldades. Em altura do solo e ângulos de entrada e saída, a Hilux crava uma vantagem, mas a S10 traz o controle de descida e motor mais forte para sair do atoleiro. Apesar de que, com a reduzida, nenhuma das duas ficará presa. Basta não abusar.
O pacote de equipamentos das duas picapes é generoso, com o painel de instrumentos trazendo computador de bordo (mais completo na S10, colorido na Hilux), central multimídia com GPS (muito lenta na Toyota), bancos de couro e o conjunto elétrico com rebatimento de espelhos. A S10 ainda tem luzes diurnas de LEDs, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro (ambas possuem câmera traseira), retrovisor fotocrômico e controle de descida. As duas tropeçam na segurança. A Chevrolet traz apenas air bags frontais, obrigatórios por lei; a Toyota acrescenta só o de joelho, para motorista. Ranger e Amarok oferecem mais bolsas. Pelo menos as duas dispõem de controles de tração e estabilidade.
E não espere carregar 1 tonelada na caçamba, como nas versões diesel. As duas estão limitadas a 816 kg (S10) e 830 kg (Hilux), ficando a vantagem apenas para o grande volume de carga dos compartimentos.
A S10 2.5 automática chega forte para brigar com a Hilux 2.7. Mais barata (R$ 129.990 contra R$ 133.740), equipada, potente e econômica, é uma ameaça real para a atual líder de vendas do segmento. Tem seus pecados, mas se mostrou superior à rival nos aspectos mais relevantes. Até abril, a vantagem da Toyota no mercado era de 1.855 unidades. Se a S10 vender cerca de 230 unidades a mais pelos próximos 8 meses, o placar pode virar. No que depender na nova versão flex AT, argumentos para isso não faltarão.
Fotos: Mario Villaescusa
Chevrolet S10 LTZ 2.5 Flex | Toyota Hilux SRV 2.7 Flex | |
MOTOR | dianteiro, longitudinal, quatro cilindros, 16 válvulas, 2.457 cm3, duplo comando com variação, injeção direta, flex | dianteiro, longitudinal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, 2.694 cm3, duplo comando variável, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 197 cv a 6.300 rpm/206 cv a 6.000 rpm / 26,3/27,3 kgfm a 4.400 rpm | 159/163 cv a 5.000 rpm / 25 kgfm a 4.000 rpm |
TRANSMISSÃO | automática de 6 marchas; tração 4x4 com reduzida | automática de 6 marchas, tração 4x4 com reduzida |
SUSPENSÃO |
independente de braço duplo na dianteira e semi-independente com eixo rígido e feixes de molas na traseira |
independente com braços sobrepostos e molas helicoidais na dianteira e eixo rígido com feixe de molas na traseira |
RODAS E PNEUS | alumínio de aro 18" com pneus 265/60 R18 | liga-leve aro 17″ com pneus 265/65 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira com ABS e EBD | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, ABS e EBD |
PESO | 1.934 kg em ordem de marcha | 1.970 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 5.361 mm, largura 1.874 mm, altura 1.831 mm, entre-eixos 3.096 mm | comprimento 5.330 mm; largura 1.855 mm; altura 1.815 mm; entre-eixos 3.085 mm |
CAPACIDADES | tanque 76 litros; capacidade de carga 816 kg | tanque 80 litros; capacidade de carga 830 kg |
PREÇO | R$ 129.990 | R$ 133.740 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | |||
---|---|---|---|
Chevrolet S10 LTZ 2.5 Flex | Toyota Hilux SRV 2.7 Flex | ||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h | 3,8 s | 5,7 s | |
0 a 80 km/h | 5,9 s | 9,0 s | |
0 a 100 km/h |
11,8 s |
13,6 s | |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em D | 9,2 s | 9,2 s | |
80 a 120 km/h em D | 9,0 s | 10,7 s | |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 |
42,0 m |
43,9 m | |
80 km/h a 0 | 26,0 m | 27,6 m | |
60 km/h a 0 | 14,8 m | 15,3 m | |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 5,3 km/l | 4,5 km/l | |
Ciclo estrada | 6,9 km/l | 6,3 km/l |
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