Entre tantos lançamentos de 2016, os novos Jeep Compass e Honda Civic foram certamente os mais importantes em termos mercadológicos. Seja nas ruas ou na roda de amigos, todos estão curiosos para saber se vale a pena colocar na garagem uma das duas sensações do ano.
De um lado, um SUV médio que nasceu para brigar diretamente com Kia Sportage, Honda CR-V e Hyundai New Tucson. Do outro, um sedã médio totalmente reformulado que, em sua décima geração, vem fazer frente à concorrentes que também se atualizaram, como o Chevrolet Cruze. Se na teoria eles não se cruzariam, por serem de categorias bem diferentes, no mundo real eles acabam desejados pelo mesmo cliente: aqueles que procuram um carro moderno e espaçoso para a família e/ou amigos, com câmbio automático e bem equipado na faixa dos R$ 100 mil.
Um bom reflexo dessa disputa apareceu nos números de vendas em novembro: a briga entre os dois foi acirrada, mesmo com o Compass recém-chegado às lojas. O Honda emplacou 2.534 unidades, pouco menos que os 2.539 Jeep que saíram das concessionárias.
Reunimos as versões de entrada de ambos para matar essa dúvida. Listamos o que gostamos - e o que não gostamos - de cada um deles para você tomar sua decisão conforme o perfil e necessidade. O Honda Civic vem na versão Sport 2.0 equipada com câmbio CVT, que custa R$ 94.900. O Jeep aparece, coincidentemente, na versão também Sport 2.0, com câmbio automático de seis marchas e tabelada a R$ 99.990.
Além dos métodos de comparativo tradicionais, com as impressões ao dirigir e os números de pista, consideramos o valor das revisões até os 50.000 km (feita a cada 10.000 km no Civic e 12.000 km no Jeep) e a média de três apólices de seguro, cotado com o seguinte perfil: homem, 35 anos, casado, morador da zona norte de São Paulo, com garagem em casa e no trabalho.
Preço: R$ 99.990 | Seguro: R$ 7.139 | Revisões até 50.000 km: R$ 2.776 |
Mais do que seus próprios concorrentes diretos, o Compass mostra capacidade para brigar em outras frentes nesta versão de entrada. Era até esperado que o novo Jeep colocasse um ponto de interrogação no comprador dos sedãs médios, que em suas novas gerações e reestilizações saltaram para a faixa dos R$ 90 mil, mas oferecendo maior espaço interno, mais versatilidade e altura elevada do solo.
A Jeep surpreendeu ao chegar com o Compass abaixo dos R$ 100 mil, um preço que ameaça até mesmo o irmão menor, o Renegade, em suas versões mais caras. Deixa de lado alguns mimos, como o ar-condicionado de duas zonas, partida e abertura de portas com chave presencial e a central multimídia com tela de 8,4", mas mantém a saída de ar para os bancos traseiros, a chave canivete e a central com tela de 5" que vem com navegador GPS e tela sensível ao toque. De série, ainda traz os controles de tração e estabilidade com assistente de partida em rampa, freio de estacionamento elétrico, sensor de estacionamento traseiro com câmera de ré, direção elétrica e o conjunto de vidros, travas e retrovisores elétricos.
Como propulsor, vem do México o Tigershark 2.0 Flex. Gera 166 cavalos de potência e 20,5 kgfm de torque, ligado a um câmbio automático de seis marchas. Neste caso, a tração é apenas dianteira, o suficiente para a selva das cidades e estradas leves de terra.
Compre se você...
Quer passar por cima de (quase) tudo. É um Jeep. Mesmo com motor flex e tração 4x2, o Compass conta com a mesma arquitetura de suspensão do turbodiesel. Independente nas quatro rodas, tem curso longo e altura do solo elevada, com 20,6 cm. Se não fosse um defletor plástico na dianteira, dava para passar nas lombadas sem frear. Além disso, a calibração do conjunto traz equilíbrio entre conforto e estabilidade. O Jeep é firme, mesmo em velocidades mais altas, e passa pelos piores pavimentos urbanos sem castigar a turma de dentro.
Deseja amplo espaço interno. Por mais que o entre-eixos seja menor que o do Civic (2.636 mm contra 2.700 mm), a cabine do Compass acomoda quatro adultos com folga. O teto elevado proporciona sensação de maior conforto e mais espaço para a cabeça, além de os bancos terem assentos grandes. No porta-malas, a mesma coisa. Se na capacidade até a linha dos vidros o compartimento é menor, com 410 litros contra 525 l do Civic, ele compensa por não ter a limitação para carregar cargas mais altas, como plantas ou bicicletas com o banco rebatido. Para completar, o acabamento é caprichado, com material emborrachado no painel e nas portas.
Gosta de conforto. É um SUV. A posição de dirigir é alta, o que agrada o público alvo do segmento, a suspensão é suave no trato com o piso e a cabine é bem isolada do mundo externo. Além disso, a ampla visibilidade ajuda no dia a dia urbano. Em suma, é um carro que não cansa.
Não compre se você...
Quer andar rápido. Não que o Jeep seja fraco, longe disso. Ele entrega até 166 cv, 11 cv a mais que o Civic, mas pesa 252 kg extras, ou cerca de três adultos em tempo integral a bordo. Coloque na conta a aerodinâmica de um SUV, mais quadrado e alto que um sedã, e tenha desempenho inferior ao do Civic, tanto nas acelerações quanto nas retomadas. Acelerou de 0 a 100 km/h em 11,6 segundos, ainda uma boa marca, mas o Honda fez o mesmo em 9,9 s.
Reclama quando gasta dinheiro. O Tigershark é um motor moderno, com duplo comando de válvulas variável, funcionamento suave e boa entrega de torque em baixas rotações. Mas não há milagre. Ainda é um 2.0 com câmbio automático e levando mais de 1.500 kg. O Compass gosta de visitar o frentista, principalmente quando abastecido com etanol. Marcou, na estrada, quase o mesmo consumo do Civic na cidade. O mesmo vale para a conta do seguro, que passou dos R$ 7 mil, contra os R$ 4 mil do Honda para o nosso perfil proposto.
Faz questão de muitos mimos. O Compass é bem equipado desde a versão Sport. Mas ele corta alguns luxos para custar o que custa. Ar-condicionado automático digital? Apenas na Longitude. A central multimídia usa uma tela de 5" no lugar da gigantesca de 8,4" das demais versões. Não há bancos de couro nem partida do motor por botão, mas o piloto automático está incluso.
Preço: R$ 94.990 | Seguro: R$ 4.639 | Revisões até 50.000 km: N/D |
É quase uma injustiça chamar a décima geração do Civic de Civic, de tanto que o carro mudou. De tão boa, a plataforma do modelo dará origem aos próximo Accord, um sedã grande e mais refinado. O Civic rejuvenesceu e ganhou design arrojado, focando um o público mais jovem. Também por isso ganhou a inédita versão Sport, com acabamento preto, seja na carroceria, rodas ou cabine. Pena que, para não ficar tão caro, manteve o motor 2.0 aspirado que já sente um pouco o peso de idade, principalmente quando comparado aos rivais com motor turbo. O câmbio é o CVT com função de simulação de sete marchas, no modo manual.
Visualmente, ele é um imã de olhares. Largo e baixo, deixa os sedãs médios concorrentes com cara de "tiozão". Diferentemente do Compass, o Civic não parece um carro de família, apesar de poder atender à esta necessidade sem nenhum problema. Porta-malas e espaço ele tem.
Na lista de equipamentos estão os controles de tração e estabilidade, freio de mão elétrico com função Auto Hold (mantém o carro freado mesmo sem o pé no freio), câmera de ré, bancos semi-concha, painel digital e ar-condicionado digital. Tropeça na parte multimídia, ao trazer apenas um rádio com Bluetooth e USB numa tela de 5" não táctil. Mas ganha do Compass na parte de segurança ao vir com seis airbags, enquanto o Jeep tem apenas os obrigatórios dianteiros como item de série.
Compre se você...
Gosta de um carro "na mão". A Honda foi categórica na definição do novo Civic: foco na dirigibilidade. A suspensão com buchas hidráulicas (na dianteira nesta versão) e a direção afiada deixam o sedã divertido de tocar. É confortável? Sim. Faz curva? Muita. Lógico que a suspensão não trabalha sozinha. O Civic é largo, baixo e conta com o vetorizador de torque, que pinça os freios das rodas de dentro da curva para ajudar no seu contorno, além da caixa de direção elétrica ter peso e relação variáveis. Por fim, freou em bem menos espaço que o Compass.
Não quer passar despercebido. Principalmente na versão Sport, o Civic tem um jeito de futurista e "malvadão". Há quem se apaixone por esse estilo. Pena que o câmbio CVT e o motor 2.0 não colaborem para manter essa alma esportiva. Lado a lado, o Civic chama bem mais atenção que o Compass.
Valoriza o prazer de dirigir. O Civic 10 foi todo reposicionado para redução do centro de gravidade. Entre outras vantagens, traz um cockpit bem projetado e com posição de dirigir esportiva, volante compacto e comandos próximos das mãos, além de um interessante painel digital. Mas, se a intenção for se divertir mesmo, abra mão do conforto do CVT e leve a versão manual (usada nas fotos), que tem engates curtinhos e precisos na caixa de seis marchas.
Não compre se você...
Não tem paciência de reduzir em lombadas. Eu já disse que o Civic é baixo? Pois é. Ele gosta de raspar o protetor de cárter, principalmente quando carregado, além de pegar o fundo nas lombadas mais altas. Toda a sua beleza e dirigibilidade tem um preço.
Quer uma central multimídia. Se o Compass Sport traz uma tela pequena, o Civic nem isso. É um aparelho de som com Bluetooth, tela azul de 5" não táctil e sem GPS. Pelo menos os alto-falantes têm boa qualidade sonora. E não pense que é fácil trocar esse aparelho. Ele está integrado ao painel.
Quer motorzão. O 2.0 de 155 cv tem suas qualidades. Mas já sente o peso da idade, com comando único e torque mais concentrado em altos giros. Tocada esportiva? Pela suspensão e direção, sim. Pelo câmbio CVT? Não. Pelo conjunto, o Civic merecia o motor 1.5 turbo em todas as versões, como acontece na Europa.
Definitivamente, escolher entre esses dois depende do perfil de quem está fazendo a compra. Aqui mesmo na redação as opiniões foram divididas. Particularmente, eu levaria o Civic por sua dirigibilidade, mesmo com o motor 2.0 limitado, e visual futurista. A versatilidade do Compass, no entanto, deverá atender a uma parcela mais ampla de clientes, além daqueles que sonham com a chance de levar um "jipão" para casa.
Por Leonardo Fortunatti
Fotos: Rafael Munhoz
FICHAS TÉCNICAS
Honda Civic Sport CVT | Jeep Compass Sport AT | |
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.997 cm3, comando único, variador de fase, flex | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.995 cm3, duplo comando, duplo variador de fase, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 150/155 cv a 6.300 rpm/ 19,3/19,5 kgfm a 4.800 rpm | 159/166 cv a 6.200 rpm/ 19,9/20,5 kgfm a 4.000 rpm |
TRANSMISSÃO | CVT com simulador de sete marchas; tração dianteira | automática de seis marchas; tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira; independente multibraços na traseiras | independente McPherson na dianteira e traseira |
RODAS E PNEUS | alumínio de 17" com pneus 215/50 R17 | alumínio de aro 17" com pneus 225/60 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira com ABS e EBD | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira com ABS e EBD |
PESO | 1.275 kg em ordem de marcha | 1.527 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.627 mm, largura 1.799 mm, altura 1.433 mm, entre-eixos 2.700 mm | comprimento 4.416 mm, largura 1.819 mm, altura 1.638 mm, entre-eixos 2.636 mm |
PORTA-MALAS | 525 litros | 410 litros |
PREÇO | R$ 94.900 | R$ 99.990 |
Honda Civic Sport CVT | Jeep Compass Sport AT | |
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 5,1 s | 5,2 s |
0 a 80 km/h | 7,2 s | 8,0 s |
0 a 100 km/h | 9,9 s | 11,6 s |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em D | 7,4 s | 11,4 s |
80 a 120 km/h em D | 6,5 s | 8,8 s |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 38,0 m | 44,8 m |
80 km/h a 0 | 24,2 m | 28,1 m |
60 km/h a 0 | 13,4 m | 15,7 m |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 7,8 km/l | 5,5 km/l |
Ciclo estrada | 11,2 km/l | 8,0 km/l |
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