A vida não está nada fácil para o trio principal de hatches médios do mercado (Ford Focus, Chevrolet Cruze e VW Golf), que têm sofrido quedas nas vendas desde o início da febre dos SUVs compactos. Para recuperar espaço, a Peugeot anuncia uma nova estratégia para o Brasil que inclui a reestilização do 308, modelo que sempre ficou no pelotão intermediário do segmento em números de vendas.
Renovando seu portfólio no país, com destaque para os globais 208, 2008 e 3008, a marca do leão usou uma velha receita para o 308: para tristeza dos aficionados, o modelo que é produzido na Argentina ganhou apenas um facelift - na Europa o hatchback está disponível na nova geração (que segundo a Peugeot chegará ao Brasil em 2016 para conviver com o modelo reestilizado). Estratégia que remete ao tempo em que a marca lançou por aqui o 207 (na verdade um 206 com a frente similar à do 207 europeu, um carro maior e mais atual).
O que é?
Sucessor do 307, o atual Peugeot 308 demorou para chegar ao Brasil. Só foi lançado por aqui em 2012, um ano antes da atual geração ser apresentada na Europa. Este atraso somado à crise econômica que afeta tanto o Brasil quanto a Argentina inviabilizou a produção do "verdadeiro" novo 308 no país vizinho.
Reestilizado, o hatch médio tem como destaque a dianteira que carrega a nova linguagem visual da marca (e remete ao 308 de nova geração). Novos faróis, para-choque redesenhado, grade dianteira com moldura cromada e LEDs diurnos são novidades. A traseira permanece igual, mas ganhou lanternas com LEDs. Também há novas opções de cores e rodas de liga leve redesenhadas (aro 17" desde a versão de entrada). Apesar da mistura de estilos, ao vivo a impressão é melhor que nas fotos.
Se o visual externo "mistura de gerações" não é unanime, o interior, apesar do desenho cansado, mostra boa qualidade. Acabamento bem feito, painel com material macio ao toque, novos bancos com maior apoio lateral e painel de instrumentos de fácil leitura. Novidade é a central multimídia com tela de 7" e que oferece espelhamento com Android e Apple Car Play. O volante ganhou novo revestimento, mas ainda é o mesmo do modelo anterior.
Mesmo na versão de entrada Allure 1.6 o acabamento é honesto. Embora não tenha revestimento em couro, os bancos também ganharam mais apoio lateral e acabamento parcial em couro e tecido. Painel, portas e instrumentos seguem o padrão de qualidade das versões superiores.
Como anda?
O test-drive do 308 2016 foi feito num trajeto entre o Aeroporto de Guarulhos e o Guarujá, no litoral paulista. O trecho incluiu o Rodoanel Leste e as belas paisagens da descida da Serra do Mar, feito pela antiga Estrada Velha Caminho do Mar, que tem acesso restrito e foi liberada apenas para o evento.
No percurso, avaliamos a versão de topo Griffe, que assim como o 2008 agora recebe o motor 1.6 THP Flex de 173 cv e 24,5 kgfm de torque (que entra no lugar do anterior a gasolina com 165 cv e 24,5 kgfm de torque). Bastante conhecido e utilizado em outros modelos da PSA (2008, C4 Lounge) o propulsor é bem disposto nas arrancadas e retomadas e oferece uma tocada bastante agradável, tanto na cidade quanto na estrada.
Além do motor turboflex, o hatch também recebeu um novo câmbio automático de seis marchas (EAT6), que agradou pelas trocas rápidas e quase imperceptíveis - a nova caixa teve a relação alongada em 11% e recebeu a função ECO, que promete redução de até 7% no consumo. Outra novidade é a função RDT, que reduz vibrações em marcha lenta, colaborando para o conforto na cabine.
Outra evolução foi no nível de conforto de rodagem, resultado dos amortecedores mais macios e reforços na suspensão traseira. Na prática o carro perdeu um pouco da firmeza característica dos antecessores (o que pode desagradar a quem prefere uma tocada mais esportiva) e ficou mais macio, porém, mantendo bom equilíbrio entre conforto e estabilidade - naturalmente que dirigido de forma mais agressiva os limites chegam antes, mas perfeitamente aceitáveis considerando a proposta do carro.
A versão Allure 1.6, equipada com motor 1.6 16V FlexStart de até 122 cv e 16,4 kgfm de torque, segue sem alterações no conjunto mecânico. Avaliado num trecho misto urbano/rodoviário, o 308 de entrada agradou pelo câmbio manual com engates precisos e curtos, suspensão bem calibrada (mais macia e com melhor filtragem de irregularidades) e desempenho honesto extraído de um motor que já não é tão moderno.
Um item que pode ser melhorado (em ambas versões), a direção hidráulica tem peso correto em velocidades de cruzeiro, mas não é precisa e comunicativa como nos rivais Focus e Golf, por exemplo - faltou uma direção elétrica e um volante mais compacto como o do 208 (itens que a nova geração do 308 já possui).
Quanto custa?
Se a Peugeot não tinha "bala" para produzir a nova geração do 308 na Argentina, ao menos aplicou um recheio bastante interessante no modelo reestilizado. Desde a versão de entrada, que custa R$ 69.990, o hatch reestilizado já vem equipado com seis airbgas, ar digital dual zone, acendimento automático dos faróis, sensor de estacionamento traseiro, LEDs diurnos, teto panorâmico de vidro, rodas de liga leve aro 17" e central multimídia com Mirror Link (GPS opcional). A intermediária Allure automática sai por R$ 75.990 e adiciona motor 2.0, câmbio A/T de seis marchas e controle de estabilidade. No topo da gama, a versão Griffe 1.6 THP A/T vai a R$ 82.990 e acrescenta sensor de estacionamento dianteiro, bancos em couro, central multimídia com GPS e câmera de ré.
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No fim das contas, apesar defasado frente a rivais como VW Golf, Ford Focus e Chevrolet Cruze, o 308 reestilizado ainda é um carro honesto em termos de acabamento, dirigibilidade e conforto - se fosse o modelo de nova geração competiria de igual para igual com os principais oponentes. Em termos de preço não está mal posicionado, mas, considerando a idade do projeto, poderia custar menos principalmente nas versões aspiradas.
Ficha Técnica: Peugeot 308 Griffe 1.6 THPMotor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.598 cm3, comando duplo variável, flex; Potência: 166/173 cv; Torque: 24,5 kgfm a 1.400 rpm; Transmissão: câmbio automático de seis marchas (EAT6), tração dianteira; Direção: hidráulica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS; Rodas: aro 17″ com pneus 225/50 R17; Peso: 1.392 kg; Capacidades: porta-malas 430 litros, tanque 60 litros; Dimensões: comprimento 4.292 mm, largura 2.064 mm, altura 1.518 mm, entre-eixos 2.608 mm.
Galeria: Peugeot 308 2016
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