Toyota Corolla 1966-1970, a primeira geração do japonês que ganhou o mundo
O subcompacto KE10 fez mais sucesso do que qualquer um poderia prever
A indústria automobilística japonesa é mais antiga do que se imagina. Já nos anos 1910, Mitsubishi e Datsun (futuramente Nissan) produziam carros e caminhões.
Em 1935, a Toyoda — uma fábrica de teares automáticos — estreou no mundo automotivo com o caminhão G1. Rebatizada de Toyota, a companhia lançou no ano seguinte seu primeiro carro de passeio, o modelo AA. Projetado por meio de engenharia reversa, seu motor era uma cópia exata do Chevrolet seis-em-linha da época, o Stovebolt. Já o visual era “inspirado” no do Chrysler Airflow. A produção do sedã AA se resumiu a 1.404 exemplares até 1943.
Toyota AA _1936–43 - o primeiro carro de passeio da marca
Após a Segunda Guerra, as tropas de ocupação norte-americanas só permitiram que o japoneses construíssem automóveis pequenos com cilindrada inferior a 1.500 cm³ (além de caminhões, jipes e ônibus). Foi o início da especialização do país em automóveis leves e baratos.
A economia japonesa crescia, mas os carros particulares ainda eram raros no país. Com um promissor mercado interno em vista, a maioria das marcas locais firmou acordos para fabricar modelos populares de origem européia. A Hino passou a fazer derivados dos Renault “Rabo Quente” franceses, enquanto a Nissan produzia localmente modelos da britânica Austin. A Mitsubishi foi por outro caminho e fabricava o Jeep Willys.
Já a Toyota preferiu desenvolver projetos próprios e não demorou a fazer suas primeiras exportações de caminhões, jipes e carros de passeio — isso incluiu até o distante Brasil, onde a marca japonesa chegou em 1954, representada pela firma Arpagral Limitada.
Foi nesse ensaio expansionista que os sedãs da Toyota desembarcaram timidamente nos Estados Unidos, em 1958. Eram os Toyopet Crown — um fiasco de vendas. Para os americanos, made in Japan ainda significava imitação barata e produtos de terceira categoria. As exportações para os EUA foram suspensas em 1960.
Toyota Publica Sedan (UP10) _1961–66 - o antecessor do Corolla
Pequena Coroa
Enquanto isso, no Japão, a Toyota ia aprimorando seus produtos. O modelo mais simples da gama, fruto de um programa nacional de carros populares para motorização em massa do país, era o Pubica P10 (1961–1966). Sua mecânica era inspirada na dos Citroën 2CV: tinha tração dianteira e um modesto motor dois cilindros boxer, refrigerado a ar, de 700 cm³. Esse carrinho chegou a ser exportado para a América do Sul. No Uruguai, por exemplo, recebeu o apelido “Toyotín” e ainda é possível encontrar alguns exemplares em uso.
Em 1963, Tatsuo Hasegawa, que fora o engenheiro-chefe no projeto do Pubica, começou a desenhar um compacto para o degrau logo acima do Toyotinha popular. O novo modelo também teria dimensões enxutas, mas deveria ser superior em estilo, acabamento e desempenho. O nome escolhido — Corolla — fazia referência a “pequena coroa”, já que os modelos maiores da marca eram o Crown e o Corona. A pronúncia em japonês é “Karóra”.
Toyota Corolla 2-door Sedan Deluxe Japan (KE10-D) 1966–68
Lançado no Japão em novembro de 1966, o Corolla de primeira geração (KE10) era um carro pequeno, com modestos 3,84 m de comprimento e 2,28 m de entre-eixos. Estreou como sedã de duas portas, mas logo vieram um sedã de quatro portas, uma station wagon e o fastback Sprinter, mantendo essas mesmas medidas. As linhas eram retas e limpas, com um quê de design italiano.
Interior Toyota Corolla 2-door Sedan Deluxe Japan (KE10-D) _1966–68
O objetivo do engenheiro-chefe era que o carro tivesse uma boa nota média em conjunto — mas se destacasse em determinados pontos para conquistar o coração do público. Originalmente, o Corolla traria um motor de 1 litro, mas Hasegawa decidiu aumentar a cilindrada para quase 1,1 litro quando soube que a Nissan estava desenvolvendo o Datsun Sunny (ou Datsun 1000). Esses “100 cm³ extras” (eram 77 cm³ a mais, para ser exato!) seriam apregoados nas propagandas como uma grande vantagem do novo Toyota. Outro rival era o Subaru 1000, com motor boxer e tração dianteira.
Como era comum na época, o Corolla KE10 tinha motor longitudinal dianteiro, de quatro cilindros em linha, e tração traseira. Inicialmente, Hasegawa queria que o comando de válvulas fosse no cabeçote, mas acabou sendo obrigado a adotar um OHV, com oito válvulas e o comando posicionado o mais alto possível no bloco, de modo que as varetas fossem curtas.
Motor Toyota Corolla 2-door Sedan 1
Enquanto muitos sedãs da época tinham alavanca de câmbio na coluna de direção, o novo Toyota tinha alavanca no assoalho. Eram quatro marchas sincronizadas e com acionamento fácil e suave. Essa transmissão aproveitava bem os 60 cv (SAE) do motorzinho OHV.
Assim, o primeiro Corolla podia acelerar de 0 a 100 km/h em cerca de 16 segundos e alcançar a máxima de 136 km/h — na época, eram excelentes marcas para um compacto de sua cilindrada. Para completar, oferecia bom espaço para quatro adultos, posição de dirigir confortável e um quadro de instrumentos completinho e bem organizado.
Na dianteira, o KE10 já trazia suspensão MacPherson, uma solução moderna na década de 60. De resto vinha com freios a tambor, molas semi-elípticas na traseira e aros de 12”. Apesar de pequeno e barato, era um carrinho bem construído, muito ágil e gostoso de guiar.
Toyopet Crown (1959–60) - o primeiro modelo exportado para os EUA (1)
Exportação
As primeiras exportações do Corolla KE10 ocorreram ainda em 1966, para a Austrália. O modelo também passou a ser montado na Tailândia e no Canadá. Em maio de 1968, o compacto começou a ser vendido nos Estados Unidos — e, desta vez, a Toyota já estava pronta para uma investida definitiva no mercado norte-americano.
Fabricantes de petroleiros sobre rodas, os Estados Unidos já tinham muitos consumidores de enxutos modelos europeus, como o Fusca. E foi nessa briga que o Corolla entrou — afinal rendia bem e gastava pouco, chegando a fazer 18 km/l. Logo as boas vendas do pequeno Toyota abriram os portos do país a outras marcas nipônicas.
Toyota Corolla 2-door Sedan Deluxe Japan (KE10-D) _1966–68 lateral
Crescimento na crise
Mais baratos e práticos que os carros europeus, os japoneses eram também aprimorados com mais rapidez. Quando o mundo precisou de automóveis econômicos, por conta da crise do petróleo de 1973, os japoneses já faziam os melhores modelos do gênero.
A essa altura, o Corolla já havia chegado à sua segunda geração (KE20), com entre-eixos maior, motor de 1,6 litro e 75 cv e opção de câmbio automático de três marchas. De carro para um nicho de mercado, o modelo passou a ser campeão mundial de vendas em 1974.
Com a segunda crise do petróleo, em 1979, os japoneses substituíram os Estados Unidos como maiores produtores de automóveis no mundo — uma liderança que só seria superada pela China em 2008.
Hoje, o Corolla está na décima-segunda geração (E210). O marco de 50 milhões de unidades vendidas em todo o mundo foi atingido em 2021 — um recorde histórico! Contudo, do modelo original de 1966 resta apenas o nome. Desde sua quinta geração (1983), o Corolla tem motor transversal e tração dianteira. De compacto, virou um sedã médio com 4,63 m de comprimento e 2,70 m de entre-eixos. Sem grandes emoções no desempenho, tem como destaque a mecânica extremamente confiável.
Galeria: Toyota Corolla KE10, a primeira geração (História Automotiva)
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