Entrevista: Paris prova que os Salões do Automóvel estão de volta
Serge Gachot, diretor do Mondial de l'Auto, comentou o sucesso da 90ª edição, que reabilita um formato que se pensava estar condenado
Quem esteve lá viu: o chamado "Mondial de l'Auto" em Paris reviveu o conceito de salão do automóvel "à moda antiga". Uma reabilitação conquistada graças ao conteúdo, à estratégia organizacional e, é claro, ao complexo ambiente de mercado que favoreceu a participação de muitos fabricantes.
Eu estive lá e posso confirmar: os salões estão de volta, mas é preciso que existam novidades e tecnologias a se mostrar. No primeiro dia de portões abertos para o público, vi muitos jovens querendo conhecer os lançamentos, em especial os mais carros elétricos mais acessíveis. A seguir, acompanhe a conversa que Alessandro Lago, Diretor Executivo do Motor1.com Itália, teve com Serge Gachot, Diretor do Mondial de l'Auto, evento que conhecemos por aqui como Salão de Paris.
Estandes lotados na abertura ao público do Salão de Paris 2024
Embora esta entrevista tenha acontecido durante o evento, os números finais após o fechamento das portas no último domingo (20) às 18h30, impressionam: 508.007 visitantes. Mesmo antes destes dados, o entusiasmo dos participantes e o comparecimento de visitantes no meio da semana já eram tangíveis. Tanto que o diretor do "Mondial de l'Auto" mal conseguia conter sua satisfação.
Diretor, então não era verdade que os Salões estavam mortos?
'Eles não estão mortos, mas foi difícil. Você não pode ter salões com cinco ou seis marcas. Pequim e Xangai funcionam bem no maior mercado de carros do mundo. O Japão recebe muitos visitantes, mas é um evento regional. Detroit ainda é difícil. Hoje não há muito mais. Temos sido apoiados pelas marcas domésticas...".
Luca de Meo - CEO Renault Group
O senhor está se referindo à Renault?
Sim, o Grupo Renault e Luca De Meo, que anunciou a presença de cinco marcas com um ano de antecedência. Isso nos ajudou. Depois, fizemos um bom trabalho, colaborando com os fabricantes de automóveis com o objetivo de garantir o retorno do investimento. E com a contenção de custos. Paris custa 185 euros por metro quadrado, o mesmo preço de dois anos atrás. Mas o mais importante é o ROI".
O diretor do Mondial de l'Auto, Serge Gachot; o CEO da Stellantis, Carlos Tavares; e o presidente francês, Emmanuel Macron.
O que depende, antes de tudo, do público...
"Nosso conceito é a celebração do automóvel, a liberdade de movimento. As pessoas querem isso. Tentei ouvir as pessoas e as empresas, e elas me disseram que era preciso fazer um salão do automóvel e não um salão da mobilidade: era preciso centrar-se no automóvel.
Oitenta por cento dos franceses adoram carros, que também fizeram um enorme progresso em termos de redução de emissões. Somos um setor virtuoso, não precisamos nos esconder.
O fato de estarmos em Paris obviamente ajuda. No primeiro dia de abertura ao público, tivemos 50.000 pessoas: é uma grande festa com pessoas vindo e pagando. Elas não estão aqui por acaso".
Até que ponto a presença das novas marcas chinesas influenciou isso?
"Em 2022, as marcas chinesas eram 50% do público, 9 de 18. Hoje, elas são 8 de 50, menos de 20%. É óbvio que as outras empresas precisaram defender seu território contra os chineses. Depois, há as novidades. Quando há novidades a serem apresentadas, é mais fácil comparecer a um salão do automóvel.
E há também a complexa situação política na Europa: pela primeira vez, ouvi CEOs e gerentes que queriam falar mais sobre questões corporativas do que sobre questões de produtos, como a suspensão de 2035 ou impostos. Houve muitas reuniões, públicas e privadas, e o setor estava aqui para conversar e se confrontar. E isso é importante, mesmo que nem todos concordem.
Eu acrescentaria um aspecto positivo que não é muito tangível: a motivação das pessoas. Os revendedores estão motivados, os funcionários, a cadeia de suprimentos... Não é possível medir isso em números, mas a atmosfera é importante".
Renault 4 elétrico revelado em Paris
Como você avalia a ausência das marcas de luxo, aquelas que produzem supercarros? Pela primeira vez na história, a Ferrari apresentou um "hipercarro" (o F80 - ed.) fora de um salão do automóvel.
"É um fenômeno que vem de longe. Sua escolha de fazer coisas exclusivas organizadas por conta própria ou em ecossistemas diferentes não é novidade. É preciso recuperá-los porque no DNA de um salão do automóvel há paixão e você também vende supercarros: o mercado parisiense é rico.
Em 2022, tivemos um espaço para pequenos fabricantes franceses. Devaillet registrou 22 carros. Havia um Delage de dois milhões de euros. Basta que alguém passe por nós e talvez não conheça a marca antes... Acredito que, se tivermos sucesso este ano, ajudaremos as empresas a mudar de ideia.
De qualquer forma, tenho que mostrar os carros especiais ao público e é por isso que trouxemos carros de corrida com um distribuidor local e simuladores de direção. Temos a Bentley com o novo Continental GT, a Rolls-Royce, a Aston Martin e a Lamborghini de um YouTuber como o POG. O problema é que os revendedores oficiais queriam participar, mas as marcas os proibiram...".
Público no Salão de Paris 2024
Em sua opinião, esse Mondial mudará o futuro dos salões?
"Agora, na Europa, temos um evento anual, um ano na França e um ano na Alemanha, em Munique.
Em Paris, não podemos voltar a receber 1 milhão de visitantes com apenas uma semana de evento, mas queremos crescer. Reunimos o mundo automotivo novamente. Trouxemos 5.000 jornalistas e esperamos um mínimo de 500.000 visitantes...
O importante é ouvir as empresas, medir os resultados e fazer. Eu fui diretor da Toyota e da Lexus. Eu era um cliente nas feiras e conheço todos os problemas e necessidades.
E, ao contrário do que as pessoas dizem, na era digital, o digital não é tudo. Estamos com 5% das vendas nessa área. As pessoas querem ver, experimentar e tocar. Todos nós precisamos nos encontrar".
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