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Entrevista Exclusiva: Zeekr confirma lançamentos anuais no Brasil

Motor1.com conversou com exclusividade com Mars Chen, VP da marca, que falou sobre os planos, modelos e estratégia no país

Carros da Zeekr na loja na China - Motor1.com Brasil

A montadora chinesa Zeekr, subsidiária da Geely, já confirmou que chegará ao mercado brasileiro agora no segundo semestre de 2024. Com exclusividade, Motor1.com Brasil entrevistou Mars Chen, Vice-Presidente Global da Zeekr, que revelou os planos da marca para conquistar os consumidores brasileiros.

Em abril, a Zeekr confirmou que o início da operação brasileira se dará com os modelos 001 e X, mas ainda falta a definição do terceiro carro para esta primeira fase. De acordo com o executivo, a marca ouvirá a opinião do mercado brasileiro para decidir. Confira a seguir a entrevista completa.

Mars Chen - Vice-Presidente Global da Zeekr

Mars Chen - Vice-Presidente Global da Zeekr

Motor1 (M1): Qual é o público-alvo que vocês querem conquistar com a Zeekr?

Mars Chen: No Brasil, são consumidores de marcas como Porsche, BMW, Mercedes-Benz, Audi e Volvo.

M1: Competir com essas marcas não é tarefa simples. Quais atributos a Zeekr têm para conseguir conquistas esses clientes?

Mars Chen: De acordo com o feedback dos em outros países, eu acho que o primeiro é a linguagem de design. Esse é o primeiro feedback direto. As pessoas gostam do desenho, tanto do exterior como interior. Parece muito moderno, futurista. E o segundo é a performance. Alguém disse que o Zeekr provavelmente é o que veículo elétrico que mais parece um modelo tradicional. Fácil de dirigir com o suficiente sistema de interação. Não como o Tesla, que só tem uma tela. É muito disruptivo. Mas no nosso caso, temos um dashboard, um sistema de infotainment, head-up display e até mesmo o jeito de dirigir de um carro.

Detalhe dos faróis em LED do Zeekr 007

Detalhe dos faróis em LED do Zeekr 007

M1: A tecnologia é o ponto de virada das carros chineses. O que podemos esperar no Brasil da Zeekr em termos de tecnologia?

Mars Chen: Eu acho que a tecnologia, primeiro, é o veículo elétrico. É a mudança do motor a combustão para o motor elétrico. Isso é relacionado à tecnologia de energia. Carga super rápida e também a grande potência do motor elétrico, 200 kW (272 cv), mais outro 130 kW (177 cv).

E a segunda é a tecnologia digital. O veículo será conectado. Vou dar um exemplo (mostrando o smartphone), este é o aplicativo. Então você não precisa ter qualquer outra chave física, você traz esse celular com o aplicativo e você pode controlar diversas funções do carro, além de apenas saber a localização. Se ele está conectado, você pode até estacioná-lo remotamente, assim, com o carro sem ninguém dentro mesmo. E também o sistema ADAS.

Com o nosso sistema de entretenimento, você pode usar o computador, o entretenimento, ouvir música de uma forma livre do celular. No carro, você pode usar a navegação. Você pode assistir YouTube. Você pode aproveitar a massagem. Outras coisas que vamos mostrar com mais detalhes no lançamento por aqui.

M1: Na China, vimos muitos carros com filmes e parcerias com outras empresas, como a Disney, Netflix. Embora no Brasil não seja permitido o vídeos enquanto o carro está andando, teremos isso por aqui?

Mars Chen: Na China é o mesmo, quando o carro está andando não pode. Talvez para o passageiro, na parte de trás, sim. Nós temos essa tecnologia, essa parceria. Na verdade, há um componente muito bom, muito, digamos, essencial no carro, que é o CPU, a GPU e o sistema de operação. Então é como se você tivesse um grande celular no carro. Assim, qualquer tecnologia, qualquer aplicação no celular, teoricamente, você pode usar. Não importa se é jogo, vídeo ou karaoke. Qualquer entretenimento.

M1: No Brasil, agora temos uma evolução das taxas de importação para veículos elétricos. O que você acha do caso do Brasil? Em especial, nessa tentativa de proteção do mercado local? 

Mars Chen: Eu acho que o Brasil é um grande país em termos de consumo de carros e produção de carros. Temos 200 milhões de pessoas. Sem dúvidas, como um país, é preciso ter produção local, indústria, para o emprego, para o PIB. Isso não é difícil de entender. E do outro lado, nós também precisamos ter opções boas, viáveis para o mercado, para o cliente local, para garantir que esta proteção esteja no lugar certo, na certa forma, na medida certa. Não pode ser muito agressiva.

É como se a Turquia colocasse 100% de impostos nos veículos elétricos chineses. Então é quase você ter que pagar o preço de um Tesla. Então, se nesse mercados que estão começando com veículos elétricos, se não existe um fabricante chinês, não é bom. Isso significa que não há competição boa. Você precisa de uma competição. O cliente precisa ter mais escolhas. Então, é algo que eu acho que o governo balancear.

E também, para nós, como fabricantes, precisamos balancear. Precisamos ter, digamos, um preço viável para o nosso cliente experimento o nosso carro. Caso contrário, se for muito caro, não faz sentido. Então, eu acho que leva tempo para finalizar este ajuste de impostos para a porcentagem correta. Outra coisa é que a maioria dos fabricantes de veículos elétricos da China ainda estão, digamos, no período de investimento, que é quase perdendo dinheiro.

Talvez apenas algumas estão ganhando dinheiro. Então isso, a longo prazo, não é bom. Mas a curto prazo, isso traz a tecnologia para o cliente, com subsídios das fabricantes. Então, imagina se você quiser comprar um carro que acelera em menos de 6 segundos no Brasil. Quanto você precisa pagar? 

É um monte de dinheiro. Os carros que podem ter esse tipo de performance geralmente são as versões esportivas dos carros europeus Audi RS, BMW M, AMG da Mercedes-Benz, carros muito caros. Os nossos ZX e o Z01, são menos de 4 segundos.

Carros da Zeekr na loja na China - Motor1.com Brasil

Carros da Zeekr na loja na China - Motor1.com Brasil

M1: Os impostos podem alterar os planos? Terão fábrica no Brasil? 

Mars Chen: Então, eu acho que sem dúvida, o governo brasileiro está trabalhando nisso. Eu acredito que eles terão a estratégia certa. Porque, de qualquer forma, para a Zeekr, nós não somos um produto mainstream. Nós somos premium. Então não é fácil, neste momento, termos fábrica em todos os lugares. Mas o mais importante é que primeiro precisamos nos aproximar do clientes. Então nós teremos mais confiança no mercado. 

É como a China. A China abriu o mercado para a Tesla e agora o mercado mais importante para eles é a China. Também a Porsche, BMW, Audi. Se a China proteger sua própria indústria, eu acho que não haverão mais destes carros produzidos na China. Então você sempre tem que pensar em uma visão de longo prazo.

M1: Vimos na última edição do Salão de Pequim que os consumidores locais tinham muito mais interesse em marcas chinesas e não tanto nessas citadas. É uma mudança consolidada?

Mars Chen: Isso é hoje em dia, porque 2 anos atrás, 3 anos atrás, era diferente. Eu gosto de BMW, eu gosto de Land Rover, Defender, mas eu acho que esses caras não tem mais tecnologia para oferecer.

M1: A Volvo e Zeekr fazem parte do mesmo grupo, têm o mesmo dono. Como será isso por aqui?

Mars Chen: No Brasil nós temos os diferentes segmentos. Como a Porsche e a Audi que são 100% independente, vendendo no mesmo mercado, eventualmente em diferentes posições. Então não seremos necessariamente competidores entre as marcas irmãs.

M1: E em relação as lojas, onde vocês vão começar? Tem uma quantidade de lojas já e cidades definidas?

Mars Chen: São Paulo, para começar. O nosso plano é para atender todo o país, começando no Sul, depois Norte e Nordeste. Agora nós ainda estamos conversando com nossos parceiros. E claro, como todos sabemos, a Porsche vendeu mais de 5.000 unidades no ano passado, certo? Mas eles só têm 14 pontos de vendas no país.

Nós teremos eventos em setembro e outubro. E naquele momento nós vamos detalhar as informações. Nós teremos as coisas mais concretas. A nossa ideia é primeiro ir para as grandes cidades, porque veículo elétrico é mais a vida da cidade neste momento.

Carros da Zeekr na loja na China - Motor1.com Brasil

Interior da versão esportiva do Zeekr 001 em loja na China - Motor1.com Brasil

M1: As duas principais dúvidas de nossos leitores sobre veículos elétricos são reparação da bateria, seu custo de troca, e também o valor de revenda de um carro elétrico. Qual será a estratégia destes dois temas? 

Mars Chen: Sobre o reparo da bateria, a tecnologia neste momento é muito matura. Depois de avaliar dois ou três mil carros, vimos que a capacidade da bateria só perde 2 ou 3%. Então, há muitos veículos na China ou em outros países que chegaram a mais de meio milhão de quilômetros rodados nesse período e a garantia para a bateria, normalmente de 6 a 8 anos.

Pensando nos carros a combustão, qual a garantia que eles oferecem? Então você sabe, eu tinha 2 BMWs. Depois de quatro anos, o motor continua bom, só que de vez em quando eles bebem um pouco de óleo. Você sabe o que eu quero dizer, com o turbo. Você precisa colocar mais óleo de motor. E também eu tinha um Land Rover, e às vezes aparecia uma luz acesa no painel, diferencial quebrado.

Então, eu acho que 8 anos de garantia é mais do que o suficiente. Os veículos elétricos estão se tornando algo que você não pode ignorar. O desafio que estão colocando na carros à combustão já estão aí. Então o valor de revenda vai se tornar um desafio comum. Mesmo para os carros a combustão. Isso é o que acontecerá, com certeza, o desafio de todos. Isso está acontecendo na China.

E no Brasil, a natureza e o clima são perfeitos para veículos elétrico. Não é frio nunca, não é aquele frio mesmo de muita neve. Então você pode ter a capacidade máxima. Porque quando é muito frio, você perde a potência da bateria. Toda a bateria tem um limite no frio, mas no Brasil não é um problema. Em toda a América Latina, não é um problema.

M1: E a temperatura alta, é um problema?

Mars Chen: Tempo longo, temperatura alta, sim. Estou falando de algo como 40 graus todos os dias. No Brasil não temos esse problema. Mesmo no Norte do Brasil. Não todos os dias tem esse fogo. No Centro-Oeste, mas nós conseguimos sobreviver. 

M1: E como será a competição com as outras marcas chinesas?

Mars Chen: Você sabe que entre nós, Zeekr, BYD, Great Wall, Tesla ou Volvo, não é uma competição. Porque nós ainda somos uma minoria. É como se nós estivéssemos em uma pequena mesa, e o outro estivesse em toda a parte. Nós precisamos pensar sobre o mercado total.

Carros da Zeekr na loja na China - Motor1.com Brasil

Zeekr X será um dos primeiros a chegar no Brasil

M1: Como as fabricantes chinesas conseguem ser tão rápidas? Em lançamento de produtos, de tecnologias?

Mars Chen: Isso é algo que compartilhei com a minha equipe. Então, não é como se você explodisse de repente. Há muitas tecnologias fundamentais ou facilidades fundamentais antes da explosão dos veículos elétricos na China. Você precisa ter uma rede de energia muito poderosa, muito robusta, de geração, transmissão e distribuição. Você precisa oferecer ao cliente o suficiente de estações de carregamento e também que seja fácil de pagar. É mais econômico do que a geladeira. O cliente chinês foi muito relutante em comprar carros chineses.

É por isso que somos o melhor mercado para a BMW, Porsche e Mercedes-Benz no mundo. Os chineses gostam dos melhores carros do mundo. Então agora a nossa força primeiro é o setor energético. Você tem energia renovável, solar, nuclear, e você tem a bateria para segurar a energia no carro. E no motor elétrico, a China tem a capacidade para o trabalho tradicional. Muitas máquinas de uso doméstico, industrial, máquinas de lavar, todos eles têm motor. Até mesmo o trem de alta velocidade (trem-bala) e isso foi há muitos anos, certo?

Então a China tem essa indústria pronta. E o último é o digital. Como a Huawei, como a Alibaba, como o TikTok, digital. Então é carro, energia, digital. Três linhas, como café, leite e açúcar juntos.

Além da bateria, que está nessa linha que citei de energia. A indústria da bateria é muito grande. Toda vez que nós atualizamos nosso modelo de 400W até 800W, é mais eficiente e a potência do motor aumenta, porque temos essa alta velocidade de evolução.

Carros da Zeekr na loja na China - Motor1.com Brasil

Interior do Zeekr X em loja na China

M1: E no Brasil, qual é o principal desafio que vocês terão de enfrentar?

Mars Chen: Eu acho que ainda é a visão dos clientes. Nós não estamos preocupados com a competição com qualquer outra marca. Porque quando você testa o nosso carro, você vai ver a qualidade. E nós não estamos com medo da imagem da marca. Eu acho que os clientes brasileiros são muito racionais. Se é bom, é bom. O desafio agora é ter a motivação para comprar um veículo elétrico. 

M1: O que o consumidor brasileiro pode esperar da Zeekr? 

Mars Chen: Eu sei que os clientes brasileiros gostam de coisas novas. E na indústria tradicional de carros, não há muita novidade que salte aos olhos e que vale a pena tentar. Mas para nós, para o Zeekr, é a qualidade luxuosa e premium que você merece. Todo mundo merece um carro elétrico legal. Para ser mais verde, para ser mais estiloso e para ser mais poderoso na condução. Se você realmente gosta de carro, um Zeekr não vai te decepcionar. Se você realmente gosta de conduzir, oZeekr com certeza vai te satisfazer.

M1: E o preço para isso tudo? Será preço de Porsche?

Mars Chen: Nós não nos posicionaremos erradamente. Nós nos posicionaremos de forma razoável. O preço justo. Não seremos uma marca de carros baratos. Não. Nós seremos razoáveis. Os clientes saberão o que estão pagando, a qualidade e a tecnologia dentro. 

Motor1 (M1): E os próximos passos?

Mars Chen: Cada ano, mais um novo modelo. Mais um modelo. Queremos garantir que estamos do modo certo no mercado.

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