Os automóveis estão cada vez mais caros, com somente Fiat Mobi e Renault Kwid custando menos de R$ 70 mil (e já estão quase passando esta barreira). O sonho de um novo carro popular parece cada vez mais distante com os constantes aumentos nos valores cobrados. Porém, surge uma luz no fim do túnel, com uma proposta de criar modelos com preços entre R$ 50 mil e R$ 60 mil, que seriam equipados com um motor 1.0 abastecido somente com etanol.
De acordo com Eduardo Sodré, do jornal Folha de São Paulo, este assunto está sendo debatido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). É uma proposta que já agrada os concessionários e as fabricantes, por ser uma forma de aumentar a produção (e volume) e as vendas ao oferecer um veículo mais barato. Para reduzir os preços, o governo teria que criar uma tributação exclusiva para os carros abastecidos somente com etanol, com tarifas menores do que os flex ou gasolina.
A ideia estaria apoiada em um plano de descarbonização para o Brasil. Com o carro desenvolvido para ser abastecido somente com etanol, acabaria com a prioridade da maioria dos brasileiros pela gasolina, por conta da autonomia maior e pela relação custo/autonomia melhor em diversos pontos do país. Há até uma possibilidade de chamar este veículos de “carro verde” ao invés de “carro popular”, mais alinhada com uma política ecológica.
Porém, é uma proposta que terá que ser muito debatida e detalhada antes de entrar em prática. O etanol é muito mais suscetível a fatores externos, como desabastecimento por problemas na safra da cana-de-açúcar ou uma disparada nos preços, caso os produtores optem por vender e exportar o açúcar, aproveitando uma valoração no mercado global – o que também provoca a falta do combustível.
Há quem já esteja animado com esta ideia. A Stellantis, dona de Citroën, Fiat, Jeep, Peugeot e Ram, tinha um projeto de lançar um motor abastecido somente com etanol. O desenvolvimento foi engavetado por conta da pandemia, quando praticamente todas as fabricantes paralisaram investimentos. Voltou a ser discutido recentemente e a empresa agora fala muito sobre oferecer veículos híbridos a etanol no país.
A alíquota mais baixa para estes carros “verdes” pode não ser o suficiente para que tenham preços convidativos. Caso as fabricantes tenham que se mover, existe uma chance de uma movimentação semelhante à de carros populares anteriores, como o Willys Teimoso vendido na década de 1960, que foi tão depenado que não tinha nem setas. A própria Fiat apostou nisso na década de 1990, com o Uno Mille, sem encostos de cabeça e retrovisor do lado do passageiro. Claro, existem itens que hoje são obrigatórios, mas as marcas poderiam contornar de outras formas, como para-choque preto de plástico ou tirando vidros elétricos.
Outro problema é que, mesmo que a proposta seja aprovada, os carros não voltarão a ficar tão acessíveis assim por outros fatores. A alta taxa de juros e acesso restrito ao crédito impedem que uma parcela muito grande da população tenha acesso a um financiamento, além da perda do poder de compra, aumento do custo de vida e inflação. E, considerando o novo salário mínimo de R$ 1.350, um brasileiro teria que juntar dinheiro por 37 meses para conseguir comprar um automóvel à vista, algo totalmente impraticável.
Durante conversa com jornalistas nesta sexta-feira (31) em São Paulo, Antonio Filosa, Presidente da Stellantis América do Sul, foi por várias vezes questionado sobre o interesse das marcas do grupo por um carro popular. O executivo afirmou, e reafirmou várias vezes, que algum projeto neste sentido terá como ponto crucial manter o nível de segurança dos veículos produzidos no Brasil.
Sobre uma possível negociação com o governo, Filosa disse que este não é o papel da Stellantis, pois por compliance, poderia ser interpretado como conflito de interesses. No entanto, entende que entidades como a Fenabrave devam liderar discussões neste sentido.
Fonte: Folha de São Paulo
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