Com preços dos carros em alta, transporte público ineficiente e caro e perda do poder aquisitivo, o segmento de motocicletas nacional está em alta. O fenômeno não está restrito a um ou outro recorte da população brasileira. Um levantamento da Abraciclo, associação que reúne as montadoras brasileiras concentradas em Manaus (AM), a participação das pessoas que se identificam como do gênero feminino com habilitação para motos quase dobrou.
De acordo com o estudo da Abraciclo, eram 5.034.139 de habilitadas do gênero feminino contabilizadas em 2013 no Brasil. Hoje, este número cresceu para 8.884.345 hoje. O crescimento em 10 anos foi de 76,5%. Apesar desse crescimento bastante expressivo, elas ainda são minoria e representam 24% dos habilitados. Em 2013, esse índice era de 20,2%.
O levantamento da Abraciclo diz que, "dentre os fatores atribuídos para o aumento de condutoras está o empoderamento feminino". No entanto há mais fatores em jogo. Assim como ocorre com outras parcelas da população, mais pessoas recorreram ao uso de motocicletas para trabalhar com entregas, principalmente após a pandemia, ainda que de forma precarizada, mal remunerada e sem vínculo empregatício por conta do aumento do desemprego e queda das posições formais de trabalho.
Josilda Maria Maciel
Em comunicado, a Abraciclo citou exemplos de mulheres que entraram no motociclismo por paixão ou hobby, mas também como forma de trabalho. Entre as que estão usando a moto como sustento, está Josilda Maria Maciel (46). Nascida em Tracunhaém, cidade do interior de Pernambuco, Josilda fez parte da primeira turma do curso de Motofretista, promovido pelo SEST/SENAT (Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte). “Éramos eu e mais uma garota”, relembra.
No início, fazer entregas representava uma forma de garantir uma renda extra até que se transformou na principal fonte de sustento. “Quando comecei na profissão, usava aqueles guias impressos para chegar nos endereços. Hoje temos o GPS que facilita muito a nossa vida”, compara. “Ainda existe preconceito, mas acredito que avançamos bastante e, com muita competência, conquistamos nosso espaço”, destaca.
Karime Abrão
Paulista de Ribeirão Preto, Karime Abrão (42) tem opinião semelhante. “Provamos nossa capacidade”, diz, orgulhosa. “No primeiro dia de trabalho, até chorei porque não conseguia chegar a um endereço e entregar um documento”, relembra, aos risos. “Mas, sou persistente. Nasci para encarar e superar desafios”, ressalta.
De acordo com as associadas da Abraciclo, os homens são os principais compradores de motocicletas e foram responsáveis por 62% dos contratos fechados em 2022. Em 2012, esse índice era de 74%. Na análise de preferência por modelos, a motoneta (como a Honda Biz) é a categoria mais procurada pelas mulheres (69%). O uso das scooters é maior entre os homens (60%).
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