Após 37 anos de história no Brasil, a Fiat anunciou o fim da fabricação do Uno. De revolução no uso do espaço interno a modelo de entrada, o hatch teve apenas duas gerações no Brasil. A original durou de 1984 a 2013, enquanto a segunda foi lançada em 2010 e foi aposentada agora em 2021 sem deixar sucessor direto.
O Fiat Uno se despedirá com a série limitada "Ciao", que traz uma miríade de acabamentos exclusivos por fora, incluindo inscrições nas laterais com os dizeres “LA STORIA DI UNA LEGGENDA”, italiano para “a história de uma lenda”. Serão somente 250 unidades produzidas, cada uma com uma plaqueta numerada. Com isso, o carro encerrará sua história após 4.379.356 unidades fabricadas.
Apesar de sua proposta simples e acessível no mercado brasileiro desde 1984, o Fiat Uno nunca deixou de inovar e separamos para vocês algumas revoluções e curiosidades que acompanharam sua história ao longo de quase quatro décadas.
Mesmo pensado para ser barato, o Fiat Uno é um design original do estúdio italiano ItalDesign, de Giorgetto Giugiaro. Para a época, suas linhas quadradas eram novidade e tinham funções aerodinâmicas. Por exemplo: já repararam que as maçanetas dos antigos Uno 2 portas eram embutidas na carroceria? Isso servia para diminuir o arrasto aerodinâmico.
O projeto do Fiat Uno nasceu para ser global, mas a fábrica da marca em Betim (MG) permitiu a implementação de algumas adaptações necessárias para as nossas ruas. Como por aqui até mesmo um carro urbano precisa cumprir as funções de único veículo da família, a Fiat tirou o estepe do bagageiro e adotou a solução do 147 ao colocá-lo dentro do cofre do motor. Assim, o porta-malas ganhava poucos, mas importantes litros.
Outra solução que foi adotada diretamente de seu antecessor foi a suspensão traseira. Enquanto o carro italiano já tinha barra de torção com molas helicoidais, o nacional permaneceu com braços independentes interligados por um feixe de molas transversal, mais resistente.
Isso lhe deu uma característica que seguiu até o final da primeira geração: carregado, o curso das rodas fazia com que elas ganhassem cambagem negativa. Então, se você ver um Uno com as rodas de trás inclinadas para dentro da carroceria, é por causa disso.
Um dos segredos para o sucesso do Fiat Uno estava exatamente nas linhas altas e quadradas que lhe renderam o apelido de "botinha ortopédica". O carro em si era curto, com 3,64 m de comprimento e 2,36 m de entre-eixos. Para oferecer um bom espaço interno, os bancos dianteiros eram elevados em relação ao assoalho, liberando espaço para as pernas de quem ia atrás. Assim, o teto também era mais alto que o normal para a época com o intuito e ainda manter um bom espaço para as cabeças.
No início da década de 1990, quando o governo aprovou uma legislação que reduzia o IPI cobrado para carros com motores de até 1.000 cm³, só havia um carro que podia se beneficiar: o Gurgel BR-800. As grandes montadoras então correram para se aproveitar da oportunidade, mas foi a Fiat com o Uno a primeira a chegar ao mercado.
Partindo do já existente motor 1.050 que foi utilizado no 147, a Fiat retrabalhou o propulsor para exatos 994 cm³. Foi assim que nasceu o Uno Mille, o primeiro carro popular de uma grande montadora a ser oferecido comercialmente. Porém, eram feitos alguns sacrifícios para chegar na medida.
O primeiro Fiat Uno Mille entregava apenas 48 cv de potência e 7,4 kgfm de torque. O carro era leve, com 798 kg, mas a performance não era nada de outro mundo. Com a proposta de ser o carro mais barato da marca, itens que hoje são considerados triviais e até obrigatórios por lei eram opcionais. Entre eles estavam espelho do lado do passageiro e encosto de cabeça para os bancos da frente.
Na época do Uno Mille ainda existia a anacrônica crença de que carros de 4 portas "eram para táxi". Mas a praticidade da carroceria com mais acessos acabou conquistando aos poucos os compradores. Tanto que, hoje, são pouquíssimas as opções de 2 portas no mercado. Entre os carros populares, coube ao Fiat Uno em 1992 ser o primeiro do segmento com as 4 portas.
Antes mesmo de "downsizing" ser um termo conhecido, o Fiat Uno também foi o primeiro carro nacional equipado com turbo de fábrica em 1994. O motor era importado da Itália, tinha 4 cilindros em linha e 1.372 cm³ de capacidade. Ele trabalhava com 0,8 bar de pressão no turbo para entregar 118 cv de potência e torque máximo de 17,5 kgfm.
Graças também ao peso de apenas 975 kg, o Uno Turbo acelerava de 0 a 100 km/h em 9,2 segundos e alcançava velocidade máxima de 195 km/h. Além disso, tinha radiador de óleo, freios maiores, suspensão recalibrada e uma cabine exclusiva. Apenas 1.081 unidades do Uno Turbo i.e. foram fabricadas entre 1994 e 1996, fazendo dele um raro - e caro - carro de coleção.
Desde o final dos anos 1990, a Fiat já estava obtendo sucesso com a sua linha Adventure na família do Palio. O Uno, que já estava envelhecendo desde o lançamento do novo hatch e era vendido como modelo básico, também poderia surfar nessa onda. No entanto, fazer grandes alterações como na perua Palio Adventure deixaria o carro caro.
Assim, em 2006, a Fiat apresentou o Uno Mille Way, uma espécie de "Adventure light". Tinha suspensão um pouco elevada, pneus de uso misto, apliques plásticos na caixa de roda e adesivos alusivos à versão nas laterais. Com isso, conseguiu cativar o público que precisava de um carro barato, mas com ao menos alguma capacidade no fora-de-estrada. A versão Way continuou na segunda geração do Uno, apresentada em 2010, e mesmo após o fim do Mille em 2013, continuou no Palio Fire.
A missão da Fiat com a nova geração Uno era difícil: como manter o carisma de um carro que ficou conhecido por suas linhas quadradas? A resposta veio em 2010, com o lançamento da segunda geração do carro. A Fiat apostou no conceito "rouded square", ou "quadrado arredondado" em bom português. Carismático, o Uno manteve um pouco das linhas angulares, mas com cantos suavizados.
A segunda geração do Fiat Uno pode ter inovado na carroceria, mas trazia os veteranos motores Fire 1.0 e 1.4 sob o capô. Isso começou a mudar no final de 2014, quando o carro ganhou a primeira atualização visual e uma nova versão: a Evolution.
A novidade matinha o motor Fire 1.4, mas usava um diferencial alongado para melhorar o consumo de combustível. Além disso, trazia o sistema start-stop, que desligava e religava o motor em paradas prolongadas. Foi o primeiro compacto nacional a ter o equipamento de série, visto que, até então, o recurso era reservado a carros importados ou de luxo. Em nossos testes de 2014, o Uno Evolution registrou consumo de 9,4 km/l na cidade e de 13,5 km/l na estrada com etanol.
Em 2017, quando passou pela última reestilização da segunda geração, o Fiat Uno recebeu os então novos motores da família Firefly, podendo ser 1.0 de três cilindros ou 1.3 com quatro. Junto a eles, o carro ganhou ainda a possibilidade de ser equipado com itens bem tecnológicos, como assistente de partida em rampa, direção com assistência elétrica e até controle eletrônico de estabilidade muito antes de ser obrigatório.
Porém, um dos itens mais inusitados que marcaram a linha 2017 apareciam na versão Sporting 1.3. Além de uma curiosa saída central para o escape, a Fiat permaneceu com a ideia de apostar nos "quadrados arredondados". As rodas do Uno Sporting traziam aros escurecidos com raios diamantados em forma de quadrados, dando a impressão de que a roda também era quadrada.
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