Na história, Fiat 500 e Mini Cooper se cruzam em diversos momentos. Ambos nascem na Europa no final dos anos 1950 - um na Itália em 1957 e o outro na Inglaterra em 1959 - e se tornam ícones de suas épocas. Os anos passam e eles se atualizam nos anos 2000 com o mesmo estilo e se destacam na onda do retrô-moderno. Chegou a vez dos elétricos e aqui estão eles, mais do que nunca, com muito em comum.
Fiat 500e e Mini Cooper SE chegaram ao Brasil com a mesma proposta e o mesmo preço. São estilosos, tecnológicos, 100% elétricos e custam R$ 239.990, se posicionando em uma faixa acima dos chineses elétricos, mas mantendo o estilo clássico e chamando a atenção pelas ruas. Será que eles estão realmente prontos para o futuro? E qual é a melhor opção para o exigente consumidor deste segmento?
Em uma era onde cada vez mais montadoras traçam metas para abandonar os motores a combustão, é natural os nomes mais fortes já aparecerem elétricos. Analisando o Fiat 500e e o Mini Cooper SE, fazem ainda mais sentido com a proposta urbana onde eles são colocados, aqui e na Europa, e o mercado premium, público que está já abraçando os elétricos com mais força no Brasil.
Em comum, eles têm motores dianteiros com transmissão de 1 marcha e tração dianteira. O Mini Cooper, quando colocado ao lado de um modelo a combustão, se diferencia pela cor dos logos S na dianteira, lateral e traseira e alguns detalhes. Mais profundamente, pouco foi alterado na estrutura para acomodar a eletrificação, ainda compartilhando muito com as versões tradicionais.
O motor é o mesmo do BMW i3s. Ele entrou em um "berço" tubular no cofre do Cooper e coberto por uma capa plástica. As baterias estão no lugar do tanque de combustível e no túnel central, quase "adaptadas" à plataforma UKL1. São 184 cv, 27,5 kgfm de torque e um conjunto de baterias de 32,6 kWh, sendo 28,9 kWh úteis. Além disso, molas e amortecedores foram calibrados para o SE, que inclusive é 18 mm mais alto que os Cooper normais justamente para proteger as baterias de impactos.
O Fiat 500e nasceu elétrico. Em sua nova geração, o compacto só é vendido assim e sua base é a que chamam de Mini BEV (que pode ser confundido com o próprio Mini Cooper...) e, por enquanto, é apenas sua. O motor está na dianteira, apoiado sobre coxins nos pontos de fixação do carro, com 118 cv e 22,4 kgfm de torque, assim como as baterias estão no assoalho com 42 kWh (37,3 kWh úteis) - o 500 até cresceu para acomodar este conjunto. Os dois compactos têm a tomada de recarga instalada na lateral traseira direita, como um bocal de abastecimento comum, com a possibilidade de carga rápida.
Com certeza a dupla está entre os modelos mais carismáticos vendidos no mundo. O 500e tem o formato da carroceria todo arredondado, apesar de ter crescido 61 mm no comprimento, 22 mm no entre-eixos, 57 mm na largura e 29 mm na altura na comparação com a geração anterior. Os faróis redondos ganharam LEDs e uma carinha sorridente. Na traseira, as lanternas em LEDs remetem também ao passado. Rodas raiadas fecham o pacote.
O Mini Cooper também mantém muito do formato da carroceria durante a história. Faróis redondos, o teto em cor diferente e as lanternas com a bandeira do Reino Unido em LEDs o marcam, assim como as portas sem colunas. É impossível andar pelas ruas sem ser notado a bordo de qualquer um deles, principalmente quando percebem que, pelo silêncio, é um elétrico. As rodas nesta versão TOP Collection, de 17", tem um desenho que divide opiniões, mais futurista.
A mesma temática vai para o interior, mas com os toques do mundo moderno. Painéis digitais (7" no 500e e 5" no Mini) e sistemas multimídia com espelhamento de smartphones sem fio (apenas Apple CarPlay no Mini) e navegação GPS. O Fiat tem o carregador por indução com o desenho dos prédios da Turim e as portas que abrem por botão no lugar da tradicional maçaneta, mas o Cooper SE oferece o ar-condicionado de 2 zonas e diversas opções de cores de LEDs no interior, que é melhor acabado e cheio de detalhes.
Em comum também está o espaço interno entre eles. Com 2 portas e dimensões compactas, nem Mini Cooper nem Fiat 500e são as opções para quem tem família ou irá levar mais do que 2 pessoas com muita frequência. O Fiat até cresceu, mas o Mini ainda é quase 22 cm mais comprido, com um entre-eixos 17 cm mais generoso. O resultado é que os dois ocupantes do banco traseiro andam apertados, porém menos que no Fiat, além do porta-malas ter 211 litros versus 185 litros - ambos levam seus carregadores domiciliares em um local abaixo do piso do porta-malas, sem estepe.
Para os ocupantes dos bancos da frente, ambos têm bom espaço e conforto, principalmente se forem apenas eles nos compactos. Os bancos do Mini são mais envolventes e esportivos, enquanto o 500e tem peças maiores e mais confortáveis em um bonito acabamento em branco com Fiat escrito. Pelo fato de não ter versões a combustão, o 500e trocou a alavanca de câmbio por botões no painel e deixou um bom espaço livre. Entre os bancos, um grande porta-objetos, seletor de modos de condução, regulagem do volume de som e o freio de estacionamento elétrico.
O acabamento é mais simples que no Mini Cooper, mas tem boa construção e plásticos de boa qualidade. O Cooper SE tem materiais suaves ao toque em boa parte (herança BMW) e as charmosas chave-caça para ligar o carro, selecionar o modo de condução, nível de regeneração e outras pequenas funções, com a mesma alavanca das demais versões, eletrônica. O Mini tem sistema de som assinado pela Harman Kardon e Head Up Display a partir da versão TOP (de R$ 264.999), porém deve algumas tecnologias que o 500e possui.
O Fiat 500e é vendido em versão única por aqui, a Iconic. Além de tudo que já citamos, ele tem piloto automático adaptativo, assistente de faixa, alerta de colisão com frenagem automática e alerta de ponto-cego entre os itens de tecnologia. O Mini, assim como o Fiat, tem teto-solar de série em todas as versões, assim como farol full-LED. O Mini TOP adiciona serviços conectados com Alexa, faróis full-LED direcionais, alerta de colisão com frenagem automática e alerta de saída de faixa, mas não custa R$ 239.990 da Exclusive.
Já falamos dos motores e baterias e deu pra perceber que o Fiat 500e tem menos potência, porém mais capacidade. Nascidos com uma proposta mais urbana, eles realmente atendem muito bem quem fará isso. Compactos, fáceis de serem dirigidos e com a conhecida entrega de força logo de cara dos elétricos, são ótimas companhias no trânsito.
O 500e ainda tem o Autohold, sistema que o mantém freado mesmo sem o pé no pedal. Enquanto no Fiat a regeneração fica reservada ao modo Range, o Mini Cooper SE permite escolher 3 níveis em um seletor próprio para isso, independente do modo de condução - no Fiat, são Normal, Range e Sherpa, que trabalha para prolongar a autonomia, enquanto o Mini é Sport, Normal, Green e Green+, este com a mesma função do Sherpa do Fiat, onde desativa até o ar-condicionado.
No "pé", eles são parecidos - basta ver os números de aceleração em nossos testes até os 60 km/h, com uma pequena vantagem para o Cooper, que vai se afastando conforme ganha velocidade, chegando a 1,2 segundo de vantagem nos 100 km/h -, porém o Fiat é mais confortável. A suspensão absorve melhor os impactos, apesar de uma traseira um pouco mole demais quando carregado e com a frente que flutua bastante acima dos 120 km/h. No dia a dia, ele vai cuidar melhor de você e dos ocupantes, algo bem parecido com o antigo 500 a combustão, um comportamento mais amigável no nosso asfalto.
O Mini Cooper SE é um...Mini Cooper. O "go-Kart feeling" mantém vivo mesmo no elétrico e temos uma direção mais direta e um carro mais divertido e comunicativo. Mas esse comunicativo também significa que ele vai te comunicar bem a cada buraco ou ondulação que passar, como um...kart. É mais cansativo se seu trajeto diário inclui muitos buracos, mas seu lado esportivo te dá mais adrenalina e, confesso, é possível até arriscar uma brincadeira nas saídas de semáforo com alguns carros mais potentes que depois não acreditam que o Mini é elétrico...
O Mini Cooper é mais potente e sim, anda mais que o Fiat 500e. Também é mais divertido, principalmente pela suspensão independente nas 4 rodas, mas é mais duro e, aos que se preocupam com autonomia, com menos bateria e maior consumo. Em nossos testes, em ciclo urbano ele registrou 7,2 km/kWh, ante os 8,6 km/kWh do rival. Pode parecer besteira, mas quando olhamos as capacidades úteis das baterias, é uma boa diferença.
O Mini Cooper e seus 28,9 kWh úteis nos dá cerca de 208 km de autonomia na cidade, enquanto o 500e marca cerca de 320 km com 37,3 kWh. Na estrada, apesar de não ser o ambiente favorito deles, são cerca de 182 km e 250 km, respectivamente - apesar do consumo rodoviário (a 120 km/h) ter uma diferença de apenas 0,4 kWh entre eles, a bateria menor do Cooper SE resultou nessa autonomia. Na hora da recarga, como são baterias pequenas, são rápidas no dia a dia.
Em um carregador wallbox de shopping, ambos foram de cerca de 25% a 100% em mais ou menos 2 horas, ou o tempo de um almoço e um café - . Ambos tem tomadas Type 2 e CCS para rápida. Nessa condição, o Fiat pode ser recarregado a 85 kW DC, enquanto o Mini, 49 kW DC. O projeto mais moderno do Fiat permitiu isso, apesar de poucos carregadores rápidos em nossas ruas por enquanto.
E uma curiosidade: como norma, os carros elétricos precisam emitir um som em baixas velocidades, como uma forma de alerta para pedestres ou outros carros. No Fiat 500e, esse som foi composto por Nino Rota, compositor italiano famoso por trilhas de cinema e que faleceu em 1979. O Mini Cooper não fica atrás, com a composição de Hans Zimmer, compositor alemão também conhecido dos cinemas, este ainda vivo.
Na relação custo/benefício, o Fiat 500e é mais interessante que o Mini Cooper SE. Maior autonomia, mais tecnologias a bordo e de condução e mais confortável no dia a dia, chega ao mercado brasileiro como uma boa opção. O Mini Cooper SE custa o mesmo que o Fiat em sua versão de entrada, mas para alinharmos, estamos falando de até R$ 269.990 desta TOP Collection, que tem algumas coisas a mais e outras a menos.
Por outro lado, o inglês anda mais e é mais dinâmico, além de todo o charme que envolve o Mini Cooper em todas as suas versões e melhor espaço interno e porta-malas. A briga pode se revolver por gosto pessoal e necessidade de cada cliente mas, em ambos, são bons compactos, lotados de estilo e prontos para o futuro.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com Brasil)
Fiat 500e | Mini Cooper SE | |
MOTOR |
elétrico síncrono com eletrônica integrada no eixo dianteiro |
elétrico síncrono com eletrônica integrada no eixo dianteiro |
POTÊNCIA/TORQUE | 118 cv; 22,4 kgfm |
184 cv; 27,5 kgfm |
TRANSMISSÃO | automática de 1 velocidade, tração dianteira | automática de 1 velocidade, tração dianteira |
SUSPENSÃO | McPherson na dianteira, eixo de torção na traseira | McPherson na dianteira, multilink na traseira |
RODAS E PNEUS | rodas de 16" com pneus 195/55 R16 | rodas de 17" com pneus 205/45 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira |
PESO | 1.352 kg em ordem de marcha | 1.365 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 3.631 mm, largura 1.683 mm, altura 1.527 mm, entre-eixos 2.322 mm | comprimento 3.850 mm, largura 1.727 mm, altura 1.432 mm, entre-eixos 2.495 mm |
CAPACIDADES | bateria: 42 kWh (37,3 kWh úteis); porta-malas 185 litros | bateria: 32,6 kWh (28,9 kWh úteis); porta-malas 211 litros |
PREÇO | R$ 239.990 | R$ 239.990 (R$ 269.990 como testado) |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | ||
---|---|---|
Fiat 500e | Mini Cooper SE | |
Aceleração | ||
0 a 60 km/h |
4,0 s |
3,6 s |
0 a 80 km/h | 6,0 s |
5,2 s |
0 a 100 km/h | 8,6 s | 7,4 s |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em D | 6,0 s | 5,1 s |
80 a 120 km/h em D | 6,2 s | 5,1 s |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 39,1 m | 39,1 m |
80 km/h a 0 | 24,9 m | 24,9 m |
60 km/h a 0 |
13,8 m |
14,0 m |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 8,6 km/kWh | 7,2 km/kWh |
Ciclo estrada | 6,7 km/kWh |
6,3 km/kWh |
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