A Stellantis, empresa fruto da fusão entre Fiat-Chrysler e Grupo PSA (dono da Citroën e Peugeot) realizou sua primeira coletiva de imprensa oficial, com Carlos Tavares, CEO do grupo, respondendo perguntas. E o executivo foi bem enfático ao falar da América Latina, comentando sobre o fim da operação fabril da Ford no Brasil e que os governos locais precisam decidir se querem manter a indústria automotiva na região.
Na apresentação que marcou o nascimento da Stellantis, ficou nítido que o grupo quer rapidamente se tornar líder mundial em uma nova era de mobilidade sustentável. Com um amplo leque de marcas e modelos debaixo do mesmo guarda-chuva, o Grupo nasce com presença em praticamente todos os segmentos.
Outro ponto muito destacado por Tavares em sua apresentação foi a diversidade que agora forma a Stellantis. Com marcas históricas, o Grupo possui mais de 400 mil funcionários espalhados pelas mais diversas áreas. Outro ponto que será amplamente explorado pela nova empresa é o fato de contar em seu quadro de colaboradores com pessoas de mais de 150 nacionalidades. Também chama a atenção a neutralidade para abrigar sua nova sede: Amsterdã, na Holanda.
A Stellantis nasce forte na nossa região e com importantes polos industriais, em especial as unidades da Fiat, Jeep, Peugeot/Citroën no Brasil e Argentina (neste caso Fiat e Peugeot). Durante a sua apresentação, Tavares foi questionado sobre um eventual fechamento de fábricas na nossa região, possibilidade que ganhou repercussão mundial após o fechamento de todas as fábricas da Ford no Brasil.
"Como vimos, uma fabricante de automóveis anunciou na semana passada o fechamento de todas suas fábricas no Brasil. E, quando uma montadora toma esta decisão, as perguntas não devem ser feita para outras montadoras. Devem ser levadas para os governos. Porque chega uma hora que você não consegue mais”, disse Tavares.
O executivo continua a comentar a respeito: "As equipes FCA e PSA fizeram um trabalho fantástico na América Latina, onde a Stellantis agora tem 18% do mercado automotivo. Conseguimos ser muito resilientes, muito competitivos. Mas chega um momento em que temos que estabelecer um limite. Não podemos trabalhar com todos os ventos contrários. Quando os obstáculos surgem de fatores externos, é algo que pode nos levar a tomar decisões muito difíceis, como as que vimos semana passada."
Tavares não comenta o que são estes ventos contrários, mas não é difícil imaginar que esteja falando do mesmo que todas as fabricantes reclamam sobre o Brasil: imprevisibilidade e o "custo Brasil". Produzir no país é extremamente caro, mais do que em outros locais do mundo, e o produto ainda carrega uma quantidade enorme de impostos. Para piorar, o cenário muda rápido demais, com políticas industriais que duram pouco tempo ou que não são cumpridas integralmente – a Audi está com a produção nacional suspensa até receber os créditos devidos pelo acordo do Inovar-Auto.
Para o chefão da Stellantis, a situação continua a deteriorar. "Hoje, na Stellantis, não estamos na situação que mencionamos. Continuaremos garantindo que a América Latina tenha autonomia o suficiente para continuar operando. Mas o que aconteceu na semana passada é um alerta de que existe um limite. Os governos devem decidir, eles querem ter uma indústria automotiva, sim ou não? Na Stellantis, estamos dispostos a oferecer mobilidade segura, limpa e acessível. Mas chega um momento em que os ventos contrários são muito fortes", disse Tavares.
Apesar das frases fortes, o CEO garante que está fazendo um comentário amigável, porém aproveita para cutucar sobre a falta de definição sobre o caminho tomado pelos governos locais sobre a redução de emissões de poluentes. "A pergunta deve ser feita aos governos locais: eles querem continuar trabalhando no caminho da redução das emissões dos carros de combustão interna ou querem enfrentar o caminho da eletrificação? É uma decisão política: nós fornecemos a tecnologia, a capacidade produção e as redes comerciais. Mas os governos devem definir suas políticas para a região", completa o executivo.
Ainda há muitas perguntas em aberto sobre como a fusão entre FCA e PSA irá afetar o Brasil, pois agora a Stellantis tem cinco marcas no país: Citroën, Fiat, Jeep, Peugeot e RAM, algumas com sobreposição de modelos – como Fiat Argo e Peugeot 208. Existem indicações, já que PSA ficaria responsável por modelos menores, como hatches e sedãs, o que levaria a Fiat a adotar a plataforma CMP, enquanto Jeep desenvolverá os SUVs.
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