Afetada pela pandemia, a Renault teve que pedir ajuda ao governo francês para sobreviver, ao mesmo tempo em que trabalha para consertar seu relacionamento com a Nissan. Para mudar o jogo, a fabricante anunciou um plano de reestruturação para suas quatro marcas, aproveitando a chegada de Luca De Meo, novo CEO da empresa, em um esforço para reduzir custos e voltar a lucrar.
O ponto mais polêmico desta reestruturação veio de uma declaração dada por De Meo em entrevista ao site francês Le Point. O executivo disse que a Renault “tem que se afastar dos carros pequenos e baratos”, uma mudança de 180° em comparação à estratégia usada até o momento pelo ex-CEO Carlos Ghosn, que focava em um volume de produção mais alto para reduzir custos e lucrar com um número elevado de vendas.
“O centro de gravidade da marca Renault tem que ser mais sofisticado” disse De Meo ao Le Point. Em outra entrevista, o executivo explicou um pouco melhor o pensamento por trás desta mudança, afirmando que a Renault “não pode ter 70% de seu volume nos carros pequenos”, afirmando que “é muito perigoso.” Atualmente a empresa está apoiada nas vendas de Clio e Captur na Europa, além de modelos mais simples em outros países, como Kwid e Duster.
Isso significa que a veremos carros mais sofisticados da Renault, deixando o segmento de entrada para a Dacia na Europa. O reflexo disso pode ser uma mudança no Clio e no Captur europeu no futuro, além de um esforço maior para conseguir um espaço maior no segmento dos hatches e SUVs médios. Tanto o Mégane quanto o Kadjar tem tido problemas para conseguir uma posição de destaque em seus segmentos. O Mégane foi o oitavo carro mais vendido na categoria, enquanto o Kadjar foi o sétimo, em ambos os casos vendendo menos da metade dos líderes.
Com a nova estratégia, a Dacia ficará com os carros baratos, já que trabalha com uma fórmula considerada bem-sucedida, com uma identidade forte e que tem dado lucro. A terceira marca da empresa será a Alpine, que continuará com um foco em esportivos e receberá um destaque maior por parte da Renault – a equipe da empresa na Fórmula 1 até será rebatizada no ano que vem como Alpine F1 Team.
E como tudo isso irá afetar o Brasil? Por aqui, quase todos os modelos oferecidos atualmente pela Renault são baseados nos carros da Dacia. As exceções são o subcompacto Kwid e o Captur, que usa a plataforma do Duster (outro modelo Dacia), mas com uma identidade alinhada com a sua variante europeia. No caso, a Renault irá continuar com a estratégia atual, apoiando-se na produção de modelos com a plataforma CMF-B, que também será usada pela Nissan, como revelado anteriormente pela própria empresa.
Fotos: divulgação
Fonte: Le Point, Automotive News Europe
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