Carros antigos são donos de histórias que nos transportam para o passado. Mas hoje em dia são poucas montadoras que olham com orgulho para esses tempos de outrora. Quando soube que a Fiat conservava um 147 ano 1979 em seu próprio acervo, fiquei curioso para ver o modelo de perto. Até que fui convidado não só para vê-lo, mas também como para dirigir o carrinho e ainda reunir alguns fãs dele para que tirassem suas impressões.
O modelo em questão foi adquirido pela montadora há pouco mais de 10 anos, e então foi completamente restaurado na fábrica de Betim (MG). Foi lá que começou a produção do 147 em julho de 1976, como uma derivação do Fiat 127 europeu.
Branco, como os modelos usados nos primeiros comerciais, o Fiat 147 restaurado anda como um carro zero quilômetro. O câmbio justo, a boa posição de guiar e a leveza com que acelera com seu ronco envolvente nos leva de volta aos anos 1970.
O que falavam dele na época?
Sempre quis saber qual era a opinião das pessoas sobre o Fiat 147, que na época tinha propagadas inteligentes e slogans criativos como: “enfim, um carrão pequeno”.
“O 147 era diferente em relação ao que existia na época e quem andava nele percebia que ele tinha desempenho e espaço, era realmente um carro moderno", diz Airton Vieira.
Vieira trabalhou na rede de concessionárias Fiat Amazonas e acompanhou a estreia do Fiat 147 em solo nacional. "Motor transversal, um carro espaçoso por dentro e tão moderno, eram os comentários das pessoas que vinham ver o carrinho na loja”. Airton teve inúmeros Fiat desde então e trabalhou mais de 20 anos em revendas da marca. Já participou de rallyes, fez viagens e colecionou histórias com seus carros.
Mais histórias
Eduardo Tomitão chegou logo depois com seu Fiat 147 Rallye. Vestindo um elegante terno, mostrou intimidade com o 147 da própria Fiat. “Foi muito bem feito esse carro”, elogia.
Guilherme Seifarth veio de Oggi. É caso de amor e de família a bordo do carro, assim como Jorge Valentim, que espera o momento de colocar seu próprio Fiat 147 na garagem.
Cléber Zemella também entra no carro e parece à vontade mesmo com seu porte avantajado diante do carrinho pequeno. Ele diz que a família de origem italiana sempre preferiu os carros da linha Fiat. Conta histórias de como foi a infância a bordo desses modelos e como as crianças viajavam sem cinto ou cadeirinha, às vezes no bagageiro. Eu falo então sobre minha família, que comprava carros da Volkswagen e minhas viagens no compartimento traseiro do fusca ou no “chiqueirinho” da Kombi Escolar da minha mãe.
Ao ligar o carro com os fãs do Fiat 147, só escuto elogios. “Como é silencioso”, “roda macio”, “olha como esterça”, “tá vendo como anda bem!”, exclama um deles.
Antes do passeio com 4 pessoas a bordo, Airton Vieira me conta que a manutenção do Fiat levou o carro a ser incompreendido na época: “Tinha a questão da troca da correia aos 30 mil km e a lubrificação do câmbio, alguns detalhes que muitos mecânicos da época não conheciam os cuidados”, relembra.
Depois do passeio com os amigos do Fiat, marquei um segundo encontro com o 147 da FCA. Desta vez fui com meu próprio Fiat ano 1977 para encontrá-lo e registrar o momento.
Afinal, carro antigo serve mesmo para registrar boas histórias.
Resumo da história do Fiat 147
A Fiat estreou tardiamente no mercado brasileiro, quase 20 anos após a chegada das primeiras montadoras de veículos.
O Fiat 147 tinha um grande desafio pela frente e sua trajetória é bem conhecida, mas não seus bastidores. Era um carro diferente, com motor transversal e de apenas 1.050cc, em teoria menos potente que os concorrentes da época como o Passat, Corcel, Chevette e também o Fusca e Brasília. Era também menor que os competidores, mas curiosamente era capaz de levar cinco pessoas a bordo.
Com uma frota grande, em meio a uma grave crise econômica, nosso mercado tinha demanda por modelos baratos e econômicos. Em 1971, a Fiat lançava um carro de tremendo sucesso na Europa, o 127, com motor de 900cc, pesando 720 kg e com 3,59 de comprimento. A partir desse projeto, a marca iniciava sua jornada de olho no mercado brasileiro, projeto audacioso que seria concluído em julho de 1976 quando o Fiat 147 começou a ser fabricado em Betim.
Críticas não faltaram ao seu câmbio de engates difíceis e ruidosos, a corrosão acelerada da carroceria e a manutenção que exigia troca da correia a cada 30 mil km.
Isso não impediu, porém, que o 147 criasse família por aqui. Em 1978 estreava a Fiat Pick-up (depois City e depois Fiorino); nos anos 1980 o hatch ganhou a frente "europa" e gerou novas variantes como o sedã Oggi, a perua Panorama e o Fiat Spazio, com acabamento melhorado. O 147 também abriu caminho para o Uno, que chegaria na metade dos anos 1980 emprestando inclusive seu motor. O restante da história você já conhece. Foram 10 anos de Fiat 147 e 30 anos de Uno, que apesar de ser um projeto bem diferente do original segue vivo até hoje.
Fotos: arquivo pessoal e divulgação
O AutoShow Collection é parceiro do Motor1.com Brasil. O evento acontece sempre na primeira terça-feira de cada mês. Reúne carros clássicos e modificados no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo (SP). Para mais informações, acesse www.autoshowcollection.com.br
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