O Latin NCAP só avalia bem quem paga para fazer os testes. Muda os parâmetros e não avisa ninguém. Testa carros que não são vendidos no Brasil. Faz um "marketing de estrelinhas" que não leva em conta que não há dois acidentes iguais. Os detratores da ONG que avalia a segurança dos automóveis para a América Latina usam exatamente estes argumentos para atacá-la, com algumas variações pontuais, mas que não alteram o conjunto da obra. De olho nisso, contatamos a entidade para que ela pudesse responder, ponto a ponto, a todas as acusações. Quem respondeu a tudo foi Alejandro Furas, secretário-geral do Latin NCAP e diretor técnico do Global NCAP. Confira abaixo como o programa reage a cada um destes ataques.
O que se vê atualmente é que algumas fabricantes acusam o Latin NCAP de não avisar sobre mudanças, o que pegaria muitas delas de surpresa com os resultados negativos. O secretário-geral da entidade diz o seguinte a respeito:
"O Latin NCAP tem reuniões frequentes com as montadoras nas quais se informa com muita antecipação as mudanças de protocolo e as datas. Por exemplo, o Latin NCAP está agora em contato frequente com montadoras globais e mesmo no Brasil discutindo o protocolo para o final do 2019. As montadoras sabiam claramente das mudanças do protocolo 2016 pelo menos 12 meses antes da entrada em uso. O Latin NCAP esteve reunido com as montadoras no Brasil, no Simpósio Internacional de Engenharia Automotiva da AEA de 2014 e de 2015, e também com as mesmas montadoras em Bruxelas."
Pedimos ao Latin NCAP comprovantes de correspondências e comunicações com as fabricantes, mas não recebemos nada até a publicação desta entrevista. Para o bem da entidade, talvez desacostumada a países que precisam de cartórios e de firma reconhecida para seus documentos, ela deva começar a pensar em comunicados formais das mudanças de parâmetro. Essa reportagem, falando da mudança em 2019, talvez a ajude a provar, lá adiante, que o assunto já foi falado. Como essa, da Quatro Rodas, mostra que pelo menos a imprensa foi avisada sobre a mudança no parâmetro que deu nota zero ao Chevrolet Onix.
O nome do programa, Latin NCAP, já deveria ser suficiente para rebater essa crítica. Afinal, o programa se destina a toda a América Latina e há modelos que são vendidos apenas em alguns países. O fato de serem vendidos também em outros mercados, mas com configurações diferentes, não deveria ser demérito à ação da ONG, mas sim ao fato de alguns governos exigirem menos segurança em seus mercados. E de algumas fabricantes aproveitarem essas brechas para vender modelos menos seguros nestes países.
"O Latin NCAP atende a toda a região, até porque isso é condição para podermos receber os fundos para operar. São fundos limitados, que vêm de fora da região em sua totalidade. Com um orçamento tão limitado, fazemos muito esforço por cobrir todos os mercados, mas podemos oferecer uma solução para que todos os carros do Brasil sejam avaliados. Se o governo do Brasil tornar obrigatórios os testes da Latin NCAP sem que o nível de estrelas seja uma limitação para que os carros possam ser vendidos no mercado, todos os modelos do mercado do Brasil seriam avaliados. O Latin NCAP está disposta a oferecer um retorno muito bom para o governo e a sociedade brasileira se se optar por testes mandatórios da entidade."
Ainda que nenhum acidente seja igual ao outro, há estatística sobre os que acontecem com maior incidência. E, dentre estes, os que mais matam. É com base nestes dados que são feitos os testes, como o secretário-geral do Latin NCAP explica abaixo:
"O Latin NCAP avalia os carros com um processo científico, o mesmo que é usado pelas Nações Unidas nas normas técnicas de segurança. E essa avaliação científica mostrou ser correta para diagnosticar o problema. Na Europa, os governos tiveram uma boa reação, apoiando o Euro NCAP e melhorando a exigência de segurança. O resultado atual, aliando isso a outras políticas de infraestrutura e educação, é que as taxas de mortos e de feridos graves na Europa são as menores no mundo em vítimas de acidentes viários. Ter 4 ou 5 estrelas no Euro NCAP na Europa é uma meta das montadoras. São níveis que estão muito acima da exigência da segurança mesmo na Europa. Essa estratégia teve um resultado sólido la é e replicado agora na América Latina.
A avaliação por estrelas é científica, então também se baseia em probabilidades. É por isso que o Latin NCAP fala de probabilidades. Na avaliação e inspeção dos carros, utilizamos os ferimentos medidos nos passageiros (dummies) como base. Na inspeção, é avaliada a variabilidade do teste, como diferentes tamanhos de passageiros, variações de velocidade e de ângulo, oferecendo uma boa margem de certeza na qualificação das estrelas. Esses ferimentos abarcam uma boa probabilidade. Vemos como positivo que as marcas façam propagandas com as estrelas que seus veículos recebem, mostrando aos consumidores para eles possam optar por mais segurança e que ela seja um valor de mercado."
O recente anúncio de que a Volkwagen patrocinará o teste do novo Polo no Latin NCAP levantou de novo essa lebre. E essa é a acusação mais grave que é feita contra a entidade. Não apenas nos comentários em reportagens sobre os testes, mas de gente graúda da indústria. Eis o que Furas diz a respeito:
"É uma insinuação grave e completamente errada. 'Patrocinar um carro' é somente pagar os custos do teste para mostrar a segurança do modelo. É possível ser transparente e objetivo em nossos países, embora possa ser difícil ver instituições como o Latin NCAP trabalharem de forma independente para a região, incluindo para o Brasil. Quando uma montadora patrocina um teste de um modelo, geralmente ele é feito com um modelo que eles sabem que vai ter bom resultado. Eles já fizeram testes internos e conhecem a segurança do carro, para mostrar que têm produtos seguros. Mas o Latin NCAP tem casos de carros patrocinados com alto índice de equipamentos de segurança e que apresentam resultados negativos. Isso aconteceu por falta de controle da produção.
O primeiro de teste patrocinado com maus resultados foi o do Nissan March, em 2011. Recentemente, o Nissan Murano (com 7 airbags e ESC) conseguiu apenas 2 estrelas. O novo Kia Rio Sedan também conseguiu apenas 2 estrelas e a Ford Ranger obteve 3 estrelas em proteção a adultos. No caso do Murano, o causador do resultado ruim foi uma falha estrutural no teste frontal, causada por problemas de controle de produção. E que também tem relação com a falta de controle de qualidade pelos governos da região."
Fotos: divulgação
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