Depois de errar o peso, o tipo de comando de válvulas de seu motor e até o da suspensão traseira, a Renault agora tem de enfrentar o que talvez seja um erro ainda maior com relação ao Kwid: ter exagerado em sua pré-venda. Com a oferta de 10.000 carros no período anterior ao lançamento oficial, a marca agora evita a todo custo cobranças de ágio sobre o carro e outros truques do tipo aos quais recorre quem quer receber seu subcompacto antes de todo mundo. Mas não consegue evitar as filas por seu novo modelo de entrada, que já começam em dezembro para quem não comprou seu Kwid na pré-venda.
A Renault bem que tentou negar a situação. No lançamento do Kwid, todos os executivos questionados pelo Motor1.com foram taxativos em dizer que qualquer cliente que fosse agora às concessionárias já conseguiria sair com seu novo carro. Não foi o que constatamos. Bastaram algumas conversas rápidas com clientes e vendedores da rede para que a afirmação da fabricante caísse por terra.
"Só vamos conseguir entregar carros comprados agora a partir de dezembro", diz uma vendedora da marca que, por motivos óbvios, prefere não se identificar. Faz todo o sentido. Afinal de contas, como já explicamos em reportagem anterior, uma das condições da pré-venda era a prioridade na entrega dos carros encomendados no período anterior ao lançamento. Unidades que, diga-se de passagem, tiveram suas previsões de recebimento esticados até novembro porque não seria possível produzi-las antes deste prazo.
Se a Renault entregasse o carro a alguém que o comprou agora em vez de a quem já tinha feito sua reserva, e que pode ter de esperar até novembro para ter seu Kwid fabricado, não estaria honrando o prometido.
Ainda durante o período de reservas, com o carro já em exposição nas concessionárias, muita gente não entendia por que podia ver o Kwid, mas não levar o seu para casa. Foi o caso de um casal idoso de clientes. "Eu disse a eles que eles só poderiam comprar o carro pela internet, mas o senhor argumentava para mim que podia pagar à vista. Foi complicado de explicar", disse a vendedora.
Hoje, a rede tem de lidar com o velho jeitinho brasileiro, terminantemente proibido pela marca. "Tem clientes que nos oferecem R$ 2.000 por fora para receber seu carro antes, mas a Renault não trabalha assim", diz um outro vendedor, que também prefere o anonimato. É o velho ágio dando as caras, uma prática que a fabricante francesa parece vir coibindo com sucesso.
Nem os casos de desistência passam pelas mãos das revendas. "Já tivemos um cliente que quis desistir e passar seu lugar na fila a um amigo que tinha encomendado o Kwid depois dele. Não tem jeito: a reserva é feita pelo CPF. As desistências voltam para a Renault e é ela que reorganiza a fila."
No lançamento, a Renault disse que o Kwid vendeu 4 vezes mais do que o inicialmente previsto na pré-venda, mas se recusou a falar nos números que ela mesma forneceu no site oficial do carro. Se a marca se referia à primeira previsão, de 400 carros, chegaríamos a 1.600 unidades vendidas, mas só a segunda expansão da pré-venda já previa 2.000 unidades. Ou 5 vezes mais do que a primeira estimativa. E ainda houve uma terceira, para 10.000 unidades, aberta em 18 de julho. Sinal de que o lote de 2.000 Kwid não supriu a procura pelo carro.
Como a coisa não será resolvida nas concessionárias, prevemos que os ansiosos tentarão resolver a parada no mercado de seminovos. Não duvidamos de que o Kwid será vendido mais caro como usado do que como novo nas concessionárias. Fizemos uma busca rápida e isso ainda não acontece nos principais classificados do país, como WebMotors e iCarros. Provavelmente porque as primeiras unidades só chegarão a seus donos nas próximas semanas. Mas vale a pena acompanhar o movimento para ver como a Renault lidará com uma demanda muito mais alta do que ela consegue atender.
Fotos: arquivo Motor1.com e divulgação
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