Primeiro, o choque da péssima classificação no Global NCAP, com zero estrela da versão indiana. Depois, a primeira aparição da versão brasileira no Salão de Buenos Aires. Daí a pré-venda com preço inicial de R$ 29.990, com taxa de reserva de apenas R$ 1.000 parcelada no cartão de crédito em 3 vezes. Sucesso além do esperado. A vida do Renault Kwid é feita de altos e baixos e, aproveitando a boa maré, ele é apresentado oficialmente para o mercado brasileiro.
Segundo a Renault, quase nada se aproveitou do Kwid indiano para o nosso. "Pelos padrões brasileiros de homologação, ele nem poderia ser vendido aqui", disse Manuel Tavares, chefe de engenharia do Kwid. Ele parte da mesma plataforma, chamada de CMFA e usada pela aliança Renault-Nissan para este segmento, mas toda a sua construção foi revista para se enquadrar, principalmente, nas exigências de deformações, torções e qualidade de montagem do novo mercado em que ele entrará. Como referência, o Kwid latino pesa, no mínimo, 758 kg, contra 680 kg do indiano - tudo devido a reforços estruturais. Ele é construído com 30% de aços de alta resistência, principalmente em pontos estratégicos para a absorção de impactos.
Todo este trabalho foi realizado por equipes brasileiras, com 290 pessoas dedicadas ao projeto, em mais de 200.000 horas de desenvolvimento, 1 milhão de quilômetros rodados na América Latina e Romênia. Foram 35 crash-tests, com carros completos ou componentes separados, para garantir que ele não terá o mesmo resultado do indiano. E não deve demorar para o modelo brasileiro ser enviado ao Latin NCAP, só dependendo da programação da organização, segundo fonte da Renault.
Com o histórico negativo do Kwid indiano em testes de impacto, a Renault focou na segurança. Lembra quando o Clio nacional foi lançado com airbag duplo quando o item ainda não era obrigatório? A história se repete com o Kwid, mas com os airbags laterais, totalizando quatro. Ele também vem com fixação Isofix no banco traseiro em todas as versões. Será o suficiente para apagar o Kwid indiano da cabeça do povo? Segundo a Renault, pelo comportamento da pré-venda, sim.
O Kwid "original" é leve mas, como muito divulgado, inseguro. Então o grande desafio da engenharia brasileira foi torná-lo um carro capaz de atender às normas de segurança, mas ganhando pouco peso, para manter a relação de peso/potência num bom nível e também não prejudicar o consumo (que vamos falar um pouco mais adiante) e desempenho. Eles conseguiram isso, afinal, o adicional de peso foi de, no máximo, 88 kg na versão completa, mantendo o Kwid com até 768 kg.
Por isso, o Kwid não usa a mesma versão de motor 1.0 do Sandero/Logan, o SCe de 3 cilindros, com duplo comando de válvulas variável, 79/82 cv e 10,2/10,5 kgfm de torque. Manteve o bloco e cilindrada, mas o cabeçote, mesmo ainda sendo de 12V, usa comando duplo, sem variação, em prol da economia de custos e de peso. Até o câmbio manual de 5 marchas é exclusivo do Kwid, mais leve, barato e compacto que o dos irmãos, com capacidade de trabalhar o torque menor do subcompacto. No total, são 66/70 cv e 9,4/9,8 kgfm de torque. Como exemplo, a relação peso potência do Sandero 1.0 está na faixa dos 12 kg/cv, contra 11 kg/cv do Kwid.
Somando tudo, o Kwid conquista números de consumo, segundo o Inmetro, suficientes para ser o carro mais econômico da categoria na média mista com gasolina: 15,2 km/l. Abaixo, uma tabela comparativa com o Peugeot 208 1.2, o mais econômico do país até então, e seus concorrentes diretos, VW up! MPI e Fiat Mobi, nas versões Fire e Drive, além do up! TSI como referência do motor turbo com injeção direta. Destacado, temos o melhor de cada item da classificação:
MODELO | ETANOL - CIDADE | ETANOL - ESTRADA | GASOLINA - CIDADE | GASOLINA - ESTRADA |
Renault Kwid | 10,5 km/l | 10,8 km/l | 14,9 km/l | 15,6 km/l |
Peugeot 208 1.2 | 10,4 km/l | 11 km/l | 14,8 km/l | 15,8 km/l |
Volkswagen up! MPI | 9,6 km/l | 10,6 km/l | 14,2 km/l | 15,3 km/l |
Volkswagen up! TSI | 10 km/l | 11,5 km/l | 14,3 km/l | 16,3 km/l |
Fiat Mobi Fire | 9,2 km/l | 10,2 km/l | 13,5 km/l | 15,2 km/l |
Fiat Mobi Drive (Firefly) | 11,3 km/l | 10,3 km/l | 13,7 km/l | 16,1 km/l |
A Renault aposta que o Kwid atrairá o consumidor por uma série de qualidades. O primeiro ponto é ser chamado de "SUV dos compactos". A marca entra na onda dos "falsos SUVs", mas coloca sob o braço as regras do Inmetro para se justificar. A altura livre do solo é de 180 mm, o ângulo de entrada de 24º e o de saída é de 40º, mas em nenhum momento falam em uso off-road. Apenas são boas qualidades para o uso urbano, segundo a marca, e na posição elevada de dirigir, com 324 mm do solo até o "ponto H", ou a junção do assento com o encosto do banco dianteiro. O design, principalmente da dianteira e das caixas de rodas com apliques plásticos, remetem aos utilitários esportivos da Renault. Mas como ele vai se classificar nas tabelas de vendas da Fenabrave? Ao menos por lá, como carro de entrada, onde o Clio se encaixava. Ufa.
Outro pilar do Kwid é o espaço interno. Com eixos nas extremidades (2.423 mm de entre-eixos), há um bom aproveitamento, onde quatro adultos convivem tranquilamente. No porta-malas são 290 litros, mais do que os 280 litros do Chevrolet Onix. O problema será colocar duas pessoas maiores para conviver lado a lado, já que o Kwid é estreito. Mas os bancos são confortáveis em densidade da espuma e dimensões.
O Kwid já está em pré-venda desde a apresentação no Salão de Buenos Aires, em junho. Muito chamou a atenção o preço inicial de R$ 29.990 da versão Life e os pacotes da Zen (+ rádio) e Intense (+ pacote Connect). Agora, a Renault divulga mais três opções, usando as mesmas versões.
Renault Kwid Life (R$ 29.990): rodas de 14" com calotas, 4 airbags, isofix, desembaçador traseiro, abertura interna do porta-malas e preparação para som;
Renault Kwid Life + ar-condicionado e direção elétrica (Preço não divulgado): Life + ar-condicionado manual e direção elétrica (disponível a partir de outubro);
Renault Kwid Zen (R$ 34.990): Life + direção elétrica, ar-condicionado, revestimento do porta-malas, aviso de luzes acesas e travas e vidros dianteiros elétricos (disponível a partir de agosto);
Renault Kwid Zen + rádio (R$ 35.390): Zen + som com Bluetooth e USB;
Renault Kwid Intense (Preço não divulgado): Zen + faróis de neblina, rodas de 14", e detalhes internos diferenciados (disponível a partir de outubro);
Renault Kwid Intense + Pack Connect (R$ 39.990): Intense + sistema multimídia MediaNav com GPS e câmera de ré, retrovisores elétricos, abertura elétrica do porta-malas, chave canivete e grade dianteira cromada.
Como já noticiamos, os carros da pré-venda começam a ser entregues nos primeiros dias de agosto, com previsão de só terminar no fim de novembro. Foram liberadas 10.000 unidades para o programa, que ganhou destaque com a entrada de R$ 1.000 em 3 vezes no cartão de crédito e taxas de financiamento especiais. Segundo a marca, 50% dos modelos vendidos na pré-venda foram da versão Zen, 40% da Intense e 10% da Life.
Quem optar pelo financiamento do Banco Renault terá 5 anos de garantia (dois a mais que o padrão) e a três primeiras revisões gratuitas para os compradores da pré-venda. Para exemplificar o valor de manutenção, a Renault mostrou os valores das três primeiras (feita a cada 10.000 km ou 3 anos) para que comprar o carro sem financiamento:
REVISÃO | PREÇO TABELADO |
10.000 km ou 1 ano | R$ 349,00 |
20.000 km ou 2 anos | R$ 349,00 |
30.000 km ou 3 anos | R$ 349,00 |
Traremos em breve as primeiras impressões ao dirigir do Renault Kwid. Fique ligado!
Editado: Alguns leitores estão falando sobre a suspensão traseira usar eixo rígido. A Renault divulgou a ficha técnica do Kwid informando que ele tinha motor com comando simples, suspensão traseira com eixo rígido e com outro peso, dados que haviam sido divulgados na prévia e que foram utilizados por todas as revistas - inclusive quando publicamos este texto. No entanto, durante a apresentação do carro, na quinta (3), a marca confirmou que havia errado na ficha. O Kwid, na verdade, tem motor com comando duplo, mas sem variador, suspensão traseira com eixo de torção e pesa 768 kg na versão mais completa, em vez dos 758 kg que constam da ficha técnica oficial até o momento. Procurada novamente hoje (4) pela redação do Motor1, a assessoria de imprensa da Renault do Brasil afirma que irá corrigir as fichas técnicas no site.
Fotos: autor e divulgação
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