O Rider Experience é um programa desenvolvido pela BMW Motorrad que visa a capacitação dos usuários de motocicletas, proprietários ou não da marca, divididos em seis modalidades: Rider Expedition Nacionais e Internacionais (viagens para roteiros turísticos com rodagem em torno de 400 km diários); Rider Day (passeios no entorno das cidades que possuem concessionárias da marca); Rider Training Off Road e Rider Training On Road (cursos de pilotagem); Workshop (mecânica, primeiros socorros e navegação); e Rider Weekend ("combo" que engloba algumas das atividades anteriores).
Porta de entrada do programa, os cursos Rider Training possibilitam aos participantes entenderem melhor suas motos e extrair o máximo delas, além de desenvolverem habilidades e adquirirem confiança na pilotagem. O Rider Experience oferece ainda os módulos avançado 1 e 2, chamados de Personal Rider para grupos de 4 a 6 pilotos, onde ensina, por exemplo, a pilotar de pé e com garupa no fora de estrada.
Bem, participamos dos cursos básicos de On e Off Road realizados durante um fim de semana de abril no Haras Tuiuti, no interior de São Paulo, e vamos contar aqui algumas dicas que aprendemos por lá. Para o curso de asfalto temos um circuito de aproximadamente 2.500 metros, e na terra temos outro um pouco menor, mas com diversos obstáculos e graus de dificuldade.
Inicialmente fomos para uma sala onde foram feitas as apresentações. Os alunos são dos tipos mais variados, como mostra, por exemplo, o holandês Frank Van Swaay, de 75 anos, que após 48 anos sem andar de moto está retornando às duas rodas. Também haviam duas duplas de pai e filha, onde uma é sua garupa fiel e a outra pilota a sua própria moto. Na sequência os quatro instrutores (Luciano, Frazão, Falcão e Tatiana) relataram um pouco da sua experiência e paixão pelo motociclismo, iniciando os trabalhos teóricos com os seguintes tópicos:
Equipamentos de proteção - Considere de "lei" o uso de capacete, jaqueta, luvas, calças com proteção e botas. Foram dadas diversas dicas quanto às escolhas, dimensões corretas e percepções, por exemplo, para identificarmos o tamanho do capacete. Mede-se a circunferência da cabeça acima da sobrancelha, sendo que o resultado em centímetros corresponde ao tamanho ideal - no meu caso, 58 cm implica em tamanho 58. O capacete tem que apertar a bochecha, sim, e não deve balançar na cabeça.
Posição de pilotagem - Quanto mais correta, mais conforto e segurança, menos dores e cansaço e um melhor domínio da moto. Para tanto, observe: a inclinação do tronco, um pouco à frente; visão no horizonte; braços levemente flexionados; dois dedos nos manetes; pressão dos joelhos contra o tanque e chassi; pés paralelos nas pedaleiras, e leveza dos braços e mãos nas manoplas (imagine apertar um tubo de pasta de dentes aberto sem expulsá-la).
Frenagem - Correta utilização dos freios conforme as situações, pois temos um tempo de reação e precisamos considerá-lo. Aprendemos sobre a importância de conhecer a capacidade de frenagem da sua moto, na pista seca ou molhada, e saber lidar com o estado emocional em situações adversas. Por exemplo, saber esperar um pouco quando iniciar uma curva para ter o asfalto limpo.
Curvas - O melhor procedimento e posicionamento, o contra esterço, a atenção aos pontos de fuga e como reagir aos imprevistos. Aqui a dica é entrar devagar e sair rápido, procurando estar com o seu corpo e a moto sempre do meio para dentro da sua pista. Por que? Imagine um veículo largo fazendo a curva em sentido contrário ao seu. Ele pode estar na pista dele, mas sua carroceria pode sobrar e aí estará formada uma situação de risco. Além da inclinação, tente conscientizar três procedimentos: pressão na pedaleira de dentro; pressão ou ligeiro empurrão no guidão para o lado oposto da curva, esticando o braço que está do lado de dentro da curva e encolhendo o de fora (contra esterço); adiantamento da perna de dentro da curva em 5 cm à frente (técnica de Spiegel), assim o conjunto moto e piloto ficarão com a mesma largura da moto (lembre-se que estrada não é pista). A visão deverá estar sempre no horizonte e quanto menor for, maior deverá ser a prudência na entrada de curva.
Com a teoria na cabeça, partimos para a prática:
Levantar a motocicleta - Consiste em cortar o motor, verificar se a marcha está engrenada, girar o guidão para o lado oposto ao da queda, flexionar as pernas, posicionar as duas mãos na manopla, apoiar os braços nas coxas, certificar que seu tronco está reto e realizar um movimento combinado de erguer as pernas e caminhar em direção a moto. Na prática a teoria é outra, e no primeiro dia só consegui levantar a R 1200 GS, pois o motor boxer (com as "cabeças" para fora) te ajuda. Já a F 800 GS... bem, no segundo dia consegui. É claro que sempre que tiver mais de uma pessoa, a ajuda segurando nos apoios do garupa é bem vinda. Se a moto cair para o seu lado direito, não esqueça de abrir o descanso lateral para não ficar numa "saia justa" ou deixá-la cair de novo.
Corredor entre os carros - Ótimo treino realizado com cones simulando os carros. Em primeira marcha, deve-se manter giro constante entre 2.000 e 2.500 rpm ("quero ouvir o motor e olha a postura", dizia o instrutor) e frear somente com o freio traseiro. Por que? Usando o freio dianteiro, de maior pegada, a moto pode desequilibrar e obrigar o piloto a colocar os pés no chão num momento impróprio. Além disso, era preciso ir controlando a embreagem para manter a velocidade do instrutor, que ia caminhando ao seu lado. A meu ver, esta prova foi a base para todos os outros exercícios.
Equilíbrio na moto - Num circuito em "O", realizamos voltas alternando movimentos e posições (similar à prática de equitação).
Slalom entre cones - Manter o giro constante do motor e controle no freio traseiro e na embreagem. Passamos entre cones inicialmente enfileirados e depois defasados, utilizando alternadamente pressão nas pedaleiras, inclinação e contra esterço.
Garagem - Num espaço reduzido, simula-se com cones um retorno de 180° para a direita e para a esquerda. Utiliza os conhecimentos de visão ("para onde você olhar, é para onde você vai"), controle de velocidade e equilíbrio. Pratique e acredite que você faz.
Técnicas de curvas - Num circuito em "O" em velocidade constante, alterna-se entre pêndulo (moto para um lado, corpo para o outro), inclinação (moto e corpo para o mesmo lado) e a técnica de Spiegel (descrita acima).
Frenagem - Inicialmente na pista seca e em seguida molhada, pratica-se em diferentes velocidades. Sem reduções de marcha, apenas desacelerando, apertamos a embreagem e freamos, inicialmente só com o traseiro e em seguida com os dois freios, alcançando os menores espaços possíveis - adquirindo confiança na frenagem total com ABS.
Desvios de emergência - Simulados com cones um objeto à nossa frente, utilizamos os conhecimentos de visão, contra esterço e atitude da moto, para realizar o desvio.
Off-Road
No dia seguinte, só dois de nós optamos também pelo curso off road. Então, seguindo o roteiro tivemos a apresentação dos novos alunos, dois dos quais se orgulhavam de serem repetentes. "Viemos rever os amigos!".
Na parte teórica foram abordados os mesmos temas do on road com algumas diferenças, como uso de capacete com pala e bota específica para off road (além da rigidez, facilita a pilotagem em pé). Além disso, temos a preparação da moto com os seguintes itens: retirada da bolha, levantamento do guidão para manter o braço e antebraço na mesma linha; ajuste de um dos retrovisores para pilotagem de pé (pp); subida do pedal do câmbio em 1 ou 2 dentes (por conta da espessura da sola da bota); retirada da borracha da pedaleira ou até mesmo substituí-la por uma mais larga; colocação de protetores do motor e do tanque; e pneus adequados com calibragem mais baixa.
Na postura, agora é pilotagem de pé inclinado à frente, braços levemente flexionados, com o cotovelo para cima, e os joelhos pressionando o tanque/quadro. Na frenagem, ABS e controle de tração desligados, pressão nos freios conforme a situação, e posicionamento do corpo recuado nas descidas.
E vamos aos exercícios. Repetimos do curso on road o levantamento da moto; equilíbrio da moto; o corredor entre carros, só que na grama; slalom entre cones e a garagem, agora na terra. A estes foram acrescentados:
Ponto de equilíbrio (fora da moto) - Posicionamos uma R 1200 GS a 90 graus do solo e demos uma volta em torno da moto equilibrando-a com apenas dois dedos de cada mão (dá uma sensação de poder).
Controle da embreagem (fora da moto) - Simulando um trecho inadequado para passar montado, andamos ao lado da moto controlando- a na embreagem e no freio dianteiro, e fizemos um contorno no cone.
Controle de direção - Com o olhar no horizonte passamos por uma tábua a baixa velocidade, sem deixar desequilibrar a motocicleta.
Frenagem - Inicialmente freamos só com o traseiro; em seguida, só com o dianteiro soltando-o no início da travagem, completando com a melhor frenagem com os dois acionados.
Parada de emergência na subida - Consiste em frear e deixar o motor morrer com a marcha engatada, assim a moto não escorregará. Com pequenos pulsos na embreagem (apertar e soltar), realizamos a descida com segurança, sem escorregamento da moto.
Descida inclinada - Com a embreagem acionada, travado nos freios, corpo para trás e postura correta tínhamos que, ao final da descida realizar uma curva fechada e subirmos numa pista paralela (requer muito domínio).
Subida de barranco - Técnica que consiste em acelerar e pressionar as pedaleiras cortando a aceleração no momento da subida mais inclinada, retomando-a após sua transposição. Se acelerar demais, a moto salta no fim da subida. Demorei alguns minutos e conversei muito com o instrutor Falcão antes de decidir ir, mas felizmente me dei bem nas três idas. Prova mais difícil, mas vale muito o treino!