No fim de 2013, uma orgulhosa Honda Automóveis anunciou sua segunda fábrica no Brasil na pequena Itirapina (SP), cidade localizada a cerca de 200 km de São Paulo (SP) e a 100 km da, até então, "casa" da empresa em Sumaré (SP). Estamos em 2017 e a nova planta está 100% pronta, inclusive com maquinários completos para a produção. Mas não é isso o que está acontecendo. Qual a explicação? Levantamos alguns importantes números de mercado e conversamos com fontes ligadas à Honda para responder a esta questão.
Quando feito o anúncio e iniciadas as obras, o cenário do mercado brasileiro era bem diferente do atual. O ano de 2013 fechou com 3.041.863 automóveis emplacados, sendo 139.261 da Honda. A fábrica de Sumaré, com capacidade anual de 120 mil carros (chegando a cerca de 140 mil quando trabalhando com terceiro turno e horas extras), corria risco de não suprir o abastecimento das concessionárias após a chegada do tão esperado HR-V, uma grande aposta da Honda no segmento de SUVs compactos, na época ainda em aquecimento.
Nesta linha do tempo, avançamos para 2016. Muita coisa aconteceu, inclusive uma crise econômica que atingiu o Brasil e pegou em cheio o setor de automóveis. O resultado foram apenas 1.688.149 unidades emplacadas no fechamento do ano, sendo a Honda responsável por 122.541 delas - já com o HR-V como um importante reforço da linha e líder de seu segmento. Neste momento, Itirapina já seria se tornado "desnecessária", com Sumaré suprindo a necessidade da rede.
Emplacamentos
2013 | 2016 | |
Mercado (automóveis) | 3.041.863 | 1.688.149 |
Honda | 139.261 (Civic/Fit/City) | 122.541 (HR-V/Fit/Civic/City) |
Participação | 4,58% | 7,26% |
Fonte: Fenabrave
A planta de Itirapina é fruto de um investimento de R$ 1 bilhão da Honda. Parece estranho falar que essa dinheirama resultou em algo "desnecessário", mas é uma boa definição para resumir a atual situação do lugar, principalmente se pensarmos que Sumaré atende a atual demanda de mercado da marca. Daí você deve estar se perguntando: "Mas então por que a Honda não divide a produção entre as duas fábricas?". Durante o lançamento do WR-V, conversamos com Sergio Bessa, diretor de relações públicas da Honda, e ele nos explicou que é muito mais "rentável" para a empresa ativar um terceiro turno ou fazer horas extras quando necessário do que, por enquanto, dar o start em Itirapina.
Vamos voltar aos números para entender o raciocínio: Sumaré tem capacidade de 120 mil carros por ano, o mesmo número de Itirapina. Se em 2016 foram 122.541 unidades produzidas, "sobrariam" apenas 2.541 carros para a segunda fábrica, algo que não pagaria os custos e daria prejuízo para a Honda. Isso porque seria necessário contratar e treinar novos funcionários, além de acionar os fornecedores, algo que custa um (bom) dinheiro. Sumaré já passou por esta "fase".
Segundo Bessa, o mercado está sendo frequentemente monitorado pela Honda. Mesmo com a chegada do WR-V, ele diz que ainda é cedo para falar sobre a abertura de Itirapina. Tudo dependerá da resposta das vendas em 2017, sendo que alguma decisão poderá ser tomada apenas no segundo semestre, se tudo caminhar positivamente.
Se essa tão esperada (e complicada) melhora significativa realmente acontecer, ainda serão necessários cerca de seis meses para a ativação de Itirapina. Estamos falando de contratação de funcionários, vindos de diversas localidades do país, e trabalho com fornecedores de componentes. A Honda não fala em datas, mas pensamos que, no melhor cenário, esta inauguração será no segundo semestre de 2018. Repito, no melhor cenário.
Mas, e como a fábrica fica até lá? Bem, antes que pensem que a planta virou um "elefante branco bilionário", a Honda explica que há de 60 a 100 pessoas trabalhando na conservação e manutenção do prédio e maquinários de Itirapina. Assim, a fábrica ficar em perfeitas condições para operar, apenas esperando o OK do mercado. E que isso aconteça logo, para o bem da pequena cidade e da economia nacional.
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