A Toro chegou com fome de mercado. Em pouco mais de 15 dias de loja já deixou a rival Duster Oroch para trás nas vendas. A questão é que, como dissemos na avaliação de estreia da picape da Fiat, a missão dela vai muito além de encarar o modelo da Renault. Na lista de concorrentes que a marca italiana quer atacar estão picapes, hatches, sedãs e principalmente SUVs, os atuais queridinhos do brasileiro. E nessa onda sobra até para Jeep Renegade, irmão de projeto da Toro que divide cerca de 60% dos componentes com ela. Se você está pensando num 4x4 a diesel na faixa dos R$ 120 mil, sua escolha passa quase obrigatoriamente por um deles. Mas qual o melhor para suas necessidades? Picape ou utilitário-esportivo? Tiramos a prova na pista, na estrada e na trilha.
Para este primeiro teste recebemos a versão Volcano da Toro, topo de linha, tabelada a R$ 116.500. Adicionando os opcionais presentes no carro testado, temos bancos de couro, kit safe (airbags laterais e de cortina, airbag para o joelho do motorista, sensor de pressão dos pneus, banco do motorista com ajuste elétrico), kit techno (borboletas no volante, partida remota, sensor de chuva, capota marítima, sensor de chuva, de luz e retrovisor eletrocrômico) e pintura metálica, chegamos ao preço de R$ 127.142 - sem contar o teto-solar panorâmico, outro opcional oferecido, que soma mais R$ 3.630 na conta.
Pelo lado do Renegade, pegamos a versão intermediária Longitude 4x4, que tem preço inicial de R$ 117.990. A semelhança com a Toro segue na oferta de opcionais, com basicamente os mesmos itens: bancos de couro, ajuste elétrico do banco do motorista, airbags laterais e de cortina, airbag de joelho para o motorista, sensor de chuva e luz, retrovisor interno eletrocrômico e alerta de pressão dos pneus. A diferença é que o Jeep pode contar com recursos exclusivos, como sistema de som Premium, rodas aro 18", detector de pontos cegos no retrovisor e lanterna destacável no porta-malas, subindo para R$ 136.820 no carro completo.
Não será pelo preço, portanto, que você optará por um ou outro. O que define a parada aqui é o compromisso. Partindo da base do Renegade até metade da carroceria, incluindo motor, transmissão, sistema de tração, parte elétrica e suspensão dianteira, a Toro tomou um caminho próprio para a parte traseira, trocando a suspensão Chapman Strut (McPherson traseira) pela multilink e adotando entre-eixos e comprimento bem maiores - a picape é 68,3 cm mais comprida que o SUV - por conta da caçamba. Fora isso, a Toro recebeu buchas específicas para manter o comportamento quando carregada, algo interessante quando sabemos que a capacidade total é de 1 tonelada.
Com tanta coisa em comum, nada mais normal que a tocada da Toro se assemelhe a do Renegade. Direção leve e rápida, motor forte e silencioso, câmbio com trocas suaves e suspensão boa de buraco fazem parte do cardápio dos dois modelos. Comparada à uma tradicional picape média, feita sobre chassis, a Toro é um "carro" em termos de dinâmica e conforto, sem aquele pula-pula e com controle muito superior nas curvas feitas em velocidade. Quando passamos ao Renegade, no entanto, notamos que o Jeep é ainda melhor. Sem a obrigação de levar peso atrás, ele consegue ser um pouco mais macio que a picape ao atropelar valetas e quebra-molas, e ainda agir com mais naturalidade em estradas sinuosas. O SUV até inclina mais que a Toro nas curvas, mas na picape o controle de estabilidade (ESP) entra em ação ao menor desequilíbrio da carroceria (às vezes antes mesmo de os pneus começarem a cantar), enquanto o Renegade permite ao motorista abusar um pouco mais.
Na cidade, mal percebemos estar numa picape dirigindo a Toro. Ela não é tão larga quanto as médias, andando de boa nas apertadas faixas de algumas avenidas paulistanas. Já nas garagens... Bem, comparada à nova Hilux, a última picape que manobrei lá no meu prédio, a Toro foi bem mais fácil de encaixar na vaga. Mas ainda assim são quase 5 metros e um raio de giro elevado, de 12,9 metros, o que exige mais manobras que no Renegade ao estacionar. A compensação da Toro, claro, está toda ali atrás: enquanto o Jeep tem porta-malas de hatch compacto, com apenas 260 litros, a picape oferece 820 litros de caçamba, que podem ser aproveitados para levar malas (há uma bolsa de nylon específica para isso como acessório), bikes, pranchas e até a mudança da sua sogra. Para facilitar o acesso, a picape vem com tampa bi-partida de abertura lateral, com duas folhas leves e simples de manusear.
Teoricamente, a maior distância entre-eixos da Toro garantiria maior espaço interno, mas na prática o Renegade acomoda melhor os passageiros do banco de trás, com mais folga para as pernas e cabeça, além de o encosto ter uma inclinação maior. Preciso dizer, porém, que a picape se saiu melhor do que eu esperava quando ocupada com cinco adultos. Ninguém reclamou de aperto, mesmo encarando algumas horas de estrada - sinal de que a equação espaço/caçamba ficou bem resolvida e a nova Fiat pode ser usada como carro familiar sem problemas.
O motor 2.0 Multijet a diesel entrega força de sobra: são 170 cv e 35,7 kgfm de torque a 1.750 rpm, muito bem administrados pelo câmbio automático ZF de nove marchas - sendo a primeira reduzida, para uso off-road. Para compensar os cerca de 200 kg extras da Toro (1.871 contra 1.674 kg), a Fiat encurtou um pouco a relação final. Em nossos testes, a picape acelerou de 0 a 100 km/h em 11,2 segundos, enquanto o Renegade cumpriu a mesma prova em 10,3 s. Já nas retomadas de 80 a 120 km/h, quando o carro já está embalado, a diferença foi ínfima (8,1 s para o Fiat e 7,9 s para o Jeep). Por fim, o Renegade foi melhor na frenagens, novamente se valendo de seu menor peso: 41,7 metros de 100 km/h a 0, ao passo que a Toro precisou de 42,8 m.
Aproveitando a nona marcha, de relação bem longa, ambos viajam com giro baixo e silêncio na estrada - menos de 2 mil rpm a 120 km/h. Não fosse pelo ruído característico nas acelerações e retomadas mais fortes, nem daria para dizer que estamos num modelo a diesel. E o melhor aparece no consumo, com médias acima de 15 km/l tanto na picape quanto no SUV, em uso rodoviário. Já no ciclo urbano a Toro gastou um pouco mais: 9,5 contra 10,8 km/l, novamente por conta do peso maior, que requer um pouco mais de acelerador para embalar.
Enveredando para uma estradinha de sítio, Toro e Renegade mostraram valentia em doses parecidas - basicamente eles chegam ao mesmo lugar. O Jeep leva vantagem dos modos extras de tração (neve, areia e lama), além do 4x4 automático também presente na Fiat. Nos dois carros a tração é mais concentrada no eixo dianteiro em condições normais, sendo transmitida ao eixo traseiro conforme a necessidade. Podemos travar a distribuição em 50% para cada eixo (modo Lock), acionar a primeira reduzida (modo Low) e ainda contar com o controle de descidas, que dá pulsos nos freios automaticamente para controlar a velocidade em ladeiras íngremes.
Durante nossa incursão off-road, Fiat e Jeep passaram com conforto por estradinhas de chão batido com pedras soltas, pequenos obstáculos e poças de lama, certamente atendendo às aventuras de fim-de semana de seu público alvo - sem trilhas pesadas. A dupla tem ótima altura livre do solo, mas a Toro mostrou um pouco mais de aderência devido aos pneus de uso misto, de série, enquanto o Renegade traz solado mais voltado ao asfalto - ele vem com uso misto somente na versão de topo Trailhawk, mais trilheira. Na picape, porém, é preciso ficar mais atento ao entre-eixos longo, que reduz o ângulo de transposição central. Assim como no asfalto, a Toro roda mais firme e transmite um pouco mais dos impactos do solo. Em compensação, foi mais legal brincar com ela na terra usando o freio de mão por alavanca nas curvas. O Renegade traz sistema eletrônico, mais prático no dia-a-dia.
A diferença do freio de estacionamento parece besteira, mas exemplifica bem o que percebemos durante o teste: a Toro é mais rústica, parece feita para usar sem dó, ao passo que no Renegade a sensação é de se estar num carro mais caro - diferenciação necessária por conta do selo Jeep. Ambos compartilham coisas bacanas como a tela TFT colorida de 3,5" no centro do quadro de instrumentos (que pode ser configurada), o volante de ótima pegada e os bancos com bom apoio para o corpo, mas só o Jeep tem painel macio ao toque (plástico rígido na Toro) e uma tela maior para a central multimídia, além dos easter eggs - aqueles desenhos alusivos à marca "escondidos" em pontos estratégicos do carro.
No fim, fica difícil apontar um vencedor entre carros com propostas distintas: os dois são boas compras. A Toro tem mais apelo em versatilidade, podendo levar tralhas e "brinquedos" que não cabem no Jeep, tendo também a seu favor a maior rede autorizada Fiat. O Renegade responde com acabamento mais refinado e melhor eficiência energética (anda mais e bebe menos), afora o status da marca Jeep. A decisão parece simples do ponto de vista de utilização: a caçamba terá serventia? Toro. Não? Renegade. Mas, pelo que percebi nas ruas, acho que o consumidor vai se decidir mesmo é pelo design. O Jeep é cheio de personalidade, mas fazia tempo que não andava com um carro que chamasse tanta atenção quanto a Toro... Por Daniel Messeder Fotos: Rafael Munhoz Segunda opinião: Se todos os próximos Fiat seguirem as qualidades da Toro, teremos grandes lançamentos ainda esse ano. Basta olhar a qualidade de montagem, tecnologia e exaustivo trabalho de engenharia ali aplicado para saber que aquela picape realmente está anos-luz distante dos outros modelos da marca e mais próxima da parte rica da FCA. Tudo bem que a Toro fica simples em acabamento quando comparada com o Renegade, mas sua versatilidade é maior que do SUV por causa da caçamba para acomodar desde malas – com o acessório que a transforma em um amplo porta-malas – até mesmo bicicleta, prancha de surf e, porquê não, um motor para instalar no carro de track day. - Leonardo Fortunatti, em colaboração para o CARPLACE
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.956 cm3, turbo e intercooler, diesel; Potência: 170 cv cv a 3.750 rpm; Torque: 35,7 kgfm a 1.750 rpm; Transmissão: automática de nove marchas, sendo a primeira reduzida, tração 4×4 automática; Suspensão: independente McPherson na dianteira e multilink na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS e EBD; Rodas: alumínio aro 17" com pneus 225/65 R17; Peso em ordem de marcha: 1.871 kg; Capacidades: caçamba 820 litros, carga útil 1.000 kg, tanque 60 litros; Dimensões: comprimento 4.915 mm, largura 1.844 mm, altura 1.743 mm, entre-eixos 2.990 mm
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 4,4 s | |
0 a 80 km/h | 7,2 s | |
0 a 100 km/h | 11,2 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em D | 8,6 s | |
80 a 120 km/h em D | 8,1 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 42,8 m | |
80 km/h a 0 | 26,0 m | |
60 km/h a 0 | 14,5 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 9,5 km/l | |
Ciclo estrada | 15,0 km/l |
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.956 cm3, turbo e intercooler, diesel; Potência: 170 cv cv a 3.750 rpm; Torque: 35,7 kgfm a 1.750 rpm; Transmissão: automática de nove marchas, sendo a primeira reduzida, tração 4x4 automática; Suspensão: independente McPherson na dianteira e na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira com ABS e EBD; Rodas: alumínio aro 17" com pneus 215/60 R17; Peso: 1.674 kg; Capacidades: porta-malas 260 litros, tanque 60 litros; Dimensões: comprimento 4.232 mm, largura 1.798 mm, altura 1.725 mm, entre-eixos 2.570 mm
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 3,9 s | |
0 a 80 km/h | 6,6 s | |
0 a 100 km/h | 10,3 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em D | 8,3 s | |
80 a 120 km/h em D | 7,9 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 41,7 m | |
80 km/h a 0 | 26,3 m | |
60 km/h a 0 | 14,6 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 10,8 km/l | |
Ciclo estrada | 15,6 km/l |
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