A moto mais vendida da Triumph no Brasil é a polivalente Tiger 800, uma desejada trail que invadiu com tudo a seara da BMW F800 GS. Mas se tem uma gama de motos que verdadeiramente simboliza a marca inglesa é a clássica Bonneville, com seu estilo inconfundível que remete aos anos 1960. Tanto é que, para 2016, a Triumph promoveu uma gigantesca renovação nas "Bonnie", incluindo até um modelo inédito na linha. Trata-se desta belezinha aí das fotos, a Street Twin, que CARPLACE MOTO teve a oportunidade de ser uma das primeiras publicações a avaliar. Moto de entrada da gama, ela chega com forte apelo visual e uma pilotagem extremamente agradável na cidade.
Como o próprio nome diz, a Street Twin foi pensada para uso urbano, trazendo motor de dois cilindros paralelos refrigerado a líquido. Inédita desde o chassi (treliça tubular de aço), a Street ficou bem mais leve que a antiga T100 (198 kg contra 225 kg) e sua largura de apenas 785 mm facilita a condução diária, sendo bastante ágil mesmo no corredor. Mas o destaque maior fica para o novo motor de 900 cc: ele gera 8,2 kgfm de torque a somente 3.230 rpm, ou seja, força de sobra em giros tenros para saídas e retomadas fortes. Na prática, você pode pilotar usando marchas elevadas e o motor sussurrando, pois basta acelerar de leve que a Street responde. A potência de 55 cv é baixa para uma 900, mas acelerar forte não é a pegada dela.
Com disposição em baixa e um câmbio bastante macio e preciso, você pode pilotar a nova Triumph o dia todo na cidade sem cansar. O banco é macio e as suspensões, embora sejam "feijão com arroz" (garfos convencionais na dianteira e duploamortecida na traseira), digerem bem nosso asfalto quebrado, em conjunto com os pneus Pirelli de perfil alto e banda de rodagem com desenho retrô. Apenas nos buracos maiores é que a moto repassa o impacto mais fortemente para o condutor. Mas a tocada em geral é muito gostosa, dando vontade de esticar o caminho antes de voltar pra casa.
O motor twin tem um ronco bem característico de dois cilindros, com uma batida suave e divertida aos ouvidos. E como ele trabalha na maior parte do tempo em giros baixos, o consumo sai favorecido: registramos até 25,2 km/l de média na cidade, valor que cai para cerca de 20 km/h na estrada. A questão é que, em viagens, a Street não se sente tão à vontade. O câmbio tem apenas cinco marchas e, nos 120 km/h legais da autoestrada, a vibração do motor incomoda no tanque e nas manetes - cadê a sexta, Triumph? Parece até provocação, mas a Twin não vem nem com conta-giros no painel, para se ter uma ideia de como ela não liga para altas rotações.
Não que falte desempenho. O torque sempre presente garante agilidade em praticamente todas as situações, incluindo subidas e ultrapassagens. A máxima fica em torno dos 170 km/h, mas, como dissemos anteriormente, a Street foi feita para passear. O conforto é garantido pela boa posição de pilotagem, comandos leves (a embreagem é assistida), baixa altura do assento (785 mm) e guidão levemente elevado. As pedaleiras são um pouco altas, mas nada que atrapalhe. Já o garupa conta com boa acomodação, faltando apenas uma alça lateral - existe somente um "buraco" de cada lado sob o banco para segurar.
Apesar do estilão retrô, a ciclística está mais moderna do que nunca: a Street Twin traz suspensões Kayaba, freios ABS com pinça flutuante Nissin, chassi mais rígido e controle de tração. Na comparação com a T100, a diferença em leveza de condução é gritante. Em resumo, você se sente no comando de uma naked atual - como acontece com a rival Ducati Scrambler, ainda que a italiana tenha pegada mais esportiva. Outra modernidade fica por conta da entrada USB sob o banco, que pode ser usada para carregar o celular.
Divertida, a Street também coquista pelo acabamento minimalista. Peças como a tampa do tanque, os plásticos e botões têm aparência refinada, apesar de simples, enquanto o painel dá destaque ao velocímetro analógico com um pequeno visor digital onde concentra o computador de bordo e hodômetros. Farol e lanterna oferecem boa iluminação noturna, mas os retrovisores, redondinhos, requerem certa adaptação por terem o campo de visão lateral um pouco restrito.
Da última vez que avaliei uma moto desse naipe, a Scrambler, confesso que fiquei apaixonado. E agora com a Street Twin aconteceu a mesma coisa - foi difícil devolvê-la para a Triumph após os dias de convívio. O maior empecilho, assim como na Ducati, está no preço. Tabelada a R$ 36.500, a Street acaba sendo um brinquedinho caro para usar no dia-a-dia. Mas que dá vontade de comprar, ah, isso dá!
Texto e fotos: Daniel MessederFotos movimento: Leonardo Fortunatti
Ficha técnica – Triumph Street Twin
Motor: dois cilindros paralelos, comando simples, 4 válvulas por cilindro, 900 cm3, injeção eletrônica, gasolina, refrigeração líquida; Potência: 55 cv a 5.900 rpm; Torque: 8,2 kgfm a 3.230 rpm; Transmissão: câmbio de cinco marchas, transmissão por corrente; Quadro: treliça tubular de aço; Suspensão: garfo telescópico Kayaba de 41 mm na dianteira (120 mm de curso) e duploamortecedor Kayaba com pré-carga ajustável na traseira (120 mm de curso); Freios: disco simples na dianteira (310 mm) e traseira (255 mm) com pinça flutuante Nissin de dois pistões, ABS e controle de tração; Rodas: aro 18″ na dianteira com pneu 110/90 R18 e 17″ na traseira com pneu 150/70 R17; Peso: 198 kg (seco); Capacidades: tanque 12,0 litros; Dimensões: comprimento - mm, largura 785 mm, altura 1.114 mm, altura do assento 750 mm, entreeixos 1.415 mm; Preço: R$ 36.500 (maio 2016)
Avaliação
Gostamos: estilo, tocada leve, torque em baixa
Não gostamos: só cinco marchas, vibração em alta, preço
Consumo
Mínimo: 25,1 km/l
Máximo: 19,5 km/l
Galeria de fotos:
Galeria: Avaliação: nova Triumph Street Twin é deliciosamente urbana