"Parece um caminhão" não é só força de expressão. A nova RAM 2500, agora como marca própria e não mais um modelo da Dodge, é tão grande e pesada que exige carteira de habilitação categoria C para dirigi-la. E isso significa que o futuro dono de uma delas também terá de respeitar as velocidades específicas para caminhões nas estradas e também as áreas de circulação restrita em grandes cidades. Mas isso não parece preocupar os executivos da FCA no retorno da picapona ao Brasil. Com a mira apontada para os empresários do agronegócio, que se mantém em alta apesar da crise, a nova RAM quer conquistar os donos de picapes médias topo de linha interessados em algo mais imponente, luxuoso e exclusivo. Bora subir na boleia?
O que é?
Nova geração da super picape cultuada pelos "agroboys" (ganhou até a música "vem ni mim Dodge RAM"), a RAM 2500 está mais forte e confortável do que nunca. Com a nova suspensão traseira, que abandonou o rústico feixe de molas por molas helicoidais, ela agora absorve melhor os impactos do solo. Apesar da troca, a carga útil do modelo se mantém em suficientes 1.030 kg. Na caçamba o destaque fica por conta das RAM Box, caixas laterais com tampa e fechadura (pode ser destravada pelo chaveiro junto com as portas) capazes de levar até 132 litros cada uma - podem ser usadas para levar ferramentas, pequenas mochilas ou até mesmo peixe fresco no gelo, graças à uma tampinha plástica que pode ser retirada no fundo do compartimento para escoar água.
Por dentro, a cabine nem parece de uma picape, trazendo acabamento e luxos típicos dos SUVs da FCA, como o Jeep Grand Cherokee. Há couro abundante nos bancos e forração de portas, além de um sistema de som Premium da Alpine com nove falantes (sendo dois na parte traseira do teto) e a central multimídia UConnect com tela touch de 8,4 polegadas que agrega GPS e câmera de ré. Características tipicamente americanas estão por toda a parte, como a alavanca de câmbio na coluna de direção, o imenso console central e o freio de estacionamento de pedal.
Ainda na cabine, chama atenção o tamanho dos componentes, dando a impressão (real) de que a RAM foi pensada para gente grande e bruta. Basta ver o tamanho dos bancos dianteiros ou então da própria maçaneta, que você segura quase com a mão toda. Subir à cabine exige se pendurar na alça e colocar o pé primeiro no estribo, para facilitar o trabalho. Uma vez acomodado, impressiona o volumoso capô à frente. Estamos basicamente num caminhão cabine-dupla, que mede nada menos que 6,030 metros de comprimento e pesa 3.410 kg - vazio!
Para empurrar este monstro, que pode rebocar até 7.750 kg (um baita trailer!), o motor também é descomunal: um 6-cilindros turbodiesel da Cummins, de 6.7 litros, com 330 cv de potência e colossais 104 kgfm de torque! Para lidar com tanta força, a caixa automática de seis marchas tem relações longas, transferindo o torque para as rodas traseiras em modo 4x2. Por um botão giratório no painel, podemos alternar para 4x4 (em movimento) e 4x4 reduzida.
Como anda?
Por conta da exigência da CNH categoria C, que a maioria dos jornalistas não possui, a FCA providenciou que o test-drive da imprensa fosse feito no ambiente fechado do Haras Tuiuti, no interior de São Paulo, com direito a algumas voltas na pista de asfalto, simulação de desvios e frenagem de emergência, além de um trecho de terra que, graças à chuva, se tornou bastante escorregadio. Apesar da aparência bruta, dirigir a RAM 2500 é moleza.
A posição de guiar é bastante alta (mais que uma Hilux ou S10), mas o conforto também é superior. Os bancos trazem ajustes elétricos, ventilação e aquecimento, enquanto a direção (que regula somente em altura) pode ser aquecida. Os retrovisores mais parecem um tablet de tão grandes, garantindo ótima visibilidade, no que também ajuda a câmera traseira que pode ser acionada a qualquer momento - independentemente da ré engatada. O câmbio na alavanca causa estranheza no começo, mas nada que não se acostume. O motorzão faz barulho de caminhão, mas o isolamento acústico da cabine é muito bom.
Em movimento, a RAM se revela suave nas reações e macia nos buracos, atropelando tudo pelo caminho sem chacoalhar a cabine. Mesmo com os 104 "quilos" de torque, as acelerações são lineares e o ganho de força é progressivo, sem trancos. No entanto, é bom ficar de olho no velocímetro porque o tamanho da picape mascara a velocidade e parece que estamos lentos até que precisamos frear... Sem problemas, os freios são bastante potentes, contendo este transatlântico sem sustos e em menor espaço do que imaginávamos.
E nas curvas? Bem, lógico que ela vai dar trabalho em "cotovelos", mas em curvas abertas ela se comporta muito bem, podendo ser jogada na tangente numa velocidade superior a que acharíamos segura. Isso porque o controle de estabilidade é bastante atento e atua ao menor sinal de derrapagem, trabalhando nos freios e "matando" o acelerador até que tudo esteja em ordem novamente. Já a direção é bastante macia e anestesiada, como esperado numa picapona dessas, mas sua relação lenta ajuda a não desequilibrar a carroceria em desvios bruscos.
O trecho off-road não revelou qualquer dificuldade, mas os pneus de asfalto logo foram envolvidos pela lama e a condução se tornou "ensaboada". No começo não é muito agradável sentir um monstro de 3,5 toneladas deslizando na pista, porém, usando a tração 4x4 até que ela se mostrou obediente no contra-esterço. Mas o destaque mesmo fica para o conforto a bordo, praticamente não importando o tipo de solo enfrentado. Uma volta no banco traseiro revelou espaço de sobra para esticar as pernas (tenho 1,78 m) e quase nada de solavancos. Só faltou avaliá-la carregada, pois vazia o motorzão dá conta do recado com sobras.
Quanto custa?
Vinda do México, a RAM 2500 tem como vantagem estar livre do Imposto de Importação, o que permitiu à FCA trazer a versão de luxo Laramie bastante equipada pelo preço de R$ 249.900. Pode parecer muito, mas o fato é que, com a nova Toyota Hilux encostando nos R$ 200 mil na versão mais cara, até que a gradalhona norte-americana parece bem posicionada.
Itens de comodidade e segurança incluem ar digital de duas zonas com saída traseira, tela TFT de 7" no quadro de instrumentos, seis airbags, vidro traseiro (de acesso à caçamba) elétrico, porta-objetos sob o banco traseiro, partida remota (pelo controle da chave) e os controles eletrônicos de auxílio à condução e até mesmo um extensor de caçamba de série, além dos já citados RAM Box, bancos de couro (que podem ser pretos ou bege) com ajustes elétricos e a central multimídia. Faltaram apenas a proteção plástica de caçamba e a capota marítima, que serão oferecidas apenas como acessório da Mopar nas concessionárias.
Nesta nova fase da RAM, os executivos da FCA esperam vender 1 mil unidades da 2500 em 2016, volume que será distribuído entre as 38 revendas do grupo que comercializarão a picape - estrategicamente posicionados onde estão os maiores mercados deste tipo de veículo, como interior de São Paulo e Minas Gerais, Paraná, Goiânia, Rio Grande do Sul, Pará e Mato Grosso. Se a operação for bem-sucedida, a vinda da RAM 1500 na faixa dos R$ 200 mil é quase certa para um futuro próximo. Picapeiros agradecem.
Por Daniel Messeder, de Bragança Paulista (SP)Fotos: divulgação
Ficha Técnica: RAM 2500 Laramie
Motor: dianteiro, longitudinal, seis cilindros em linha, 24 válvulas, injeção common rail de alta pressão, turbo e intercooler. diesel ; Potência: 330 cv a 2.800 rpm; Torque: 104 kgfm a 1.600 rpm; Transmissão: câmbio automático de seis marchas, tração traseira (4x2), 4x4 ou 4x4 com reduzida; Direção: hidráulica; Suspensão: Independente 5-link com braço arrastado na dianteira e eixo rígido com molas helicoidais na traseira; Freios: discos ventilados nas quatro rodas, com ABS e ESP; Rodas: aro 18" com pneus 275/70 R18; Peso: 3.410 kg; Capacidades: caçamba 1.240 litros; carga útil 1.030 kg; tanque de combustível 117 litros; Dimensões: comprimento 6.030 mm; largura 2.009 mm; altura 1.974 mm; entre-eixos 3.797 mm; vão livre do solo: 188 mm
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Galeria: Volta Rápida: Bruta no tamanho, RAM 2500 é dócil e confortável