Brasileiros de olhos puxados: novo Chery Celer faz frente ao March e HB20?
Brasileiros de olhos puxados: novo Chery Celer faz frente ao March e HB20?
Apostas envolvem riscos que nem todos topam correr. Quem comprou os primeiros carros chineses à venda no Brasil, por exemplo, teve de lidar com produtos nem sempre de boa qualidade, problemas de pós-venda e, em alguns casos, com a interrupção da importação do veículo pouco tempo após seu lançamento. A aposta era pagar pouco e receber muito, ao menos em termos de equipamentos, em troca de correr o risco de confiar numa marca que praticamente ninguém conhecia.
Quando avaliei o primeiro Chery Tiggo a chegar ao Brasil, em 2011, foi fácil chegar a um veredicto: o carro era uma lástima, não tinha praticamente nada positivo para contar. Por outro lado, a JAC estava estreando por aqui com tudo e era aposta chinesa mais segura do mercado. Cerca de quatro anos depois, quem diria? O primeiro chinês fabricado no Brasil é um Chery, o Celer, e a evolução em termos de produto na comparação com aquele Tiggo é espantosa.
Poucas semanas atrás, escrevi que o novo JAC T6 era o melhor chinês que já havia avaliado. Mas o Celer produzido em Jacareí (SP) muda de novo esse panorama, valendo-se do know-how dos fornecedores locais somado à política "mais por menos" dos chineses. Por R$ 40 mil, o Celer hatch entrega motor 1.5 16V flex de 113 cv, ar-condicionado, conjunto elétrico, rodas de liga aro 15" e sistema de som, sem contar o porte superior aos rivais nacionais, com seus 4,14 m de comprimento.
OK, o Celer melhorou, mas qual o patamar que ele se encontra? Para responder à esta questão, resolvemos balizar o novo chinês num encontro com outros brasileiros de "olhos puxados": o japonês Nissan March, feito em Resende (RJ) e o coreano Hyundai HB20, fabricado em Piracicaba (SP). Mantendo como partida o preço na faixa dos R$ 40 mil, trouxemos o March SV 1.0, de R$ 40.990 (que a Nissan diz vender bem mais que o S 1.6), e o HB20 Comfort Plus, de R$41.865. Vamos ver no que dá?
Começando pelo desafiante Celer, a boa impressão começa do lado de fora. O design ficou mais bonito com a reestilização da dianteira, agora com faróis espichados para cima, enquanto a traseira recebeu lanternas com nova configuração interna. Montagem de chapas e gaps entre os para-choques e a carroceria estão todos certinhos. Em termos visuais, o hatch da Chery está mais para a ousadia do HB20, com traços fortes, do que para o conservadorismo do March. Isso sem contar que o porte superior do Celer garante a ele uma imponência que os outros não têm. E também não dá para acusar a Chery de copiar nenhum projeto ocidental, ele apenas segue as influências atuais de estilo para hatches compactos.
A apresentação interna também segue patamar agradável, trazendo painel e quadro de instrumentos com estilo semelhante ao do Hyundai. O tema plástico rígido está tão presente quanto nos rivais, mas não encontramos rebarbas ou peças mal-encaixadas - pelo contrário, o Celer nacional tem montagem melhor que muitos compactos brasileiros. Interessante também é o limpador traseiro com o esguicho de água embutido, coisa de carro caro. Destoa um pouco do ambiente o volante de três raios, com desenho sem graça e aro fino, além de não haver forração de tecido nas portas. Os bancos são confortáveis e têm tecido de qualidade na média dos rivais. Pena não podermos dizer o mesmo do sistema de som, que fica devendo em recepção e ainda não tem sistema Bluetooth. Em compensação tem um equalizador gráfico (oi?) que remete direto aos anos 1990...
A posição de dirigir lembra um pouco a do Onix, por ser desnecessariamente elevada mesmo com o banco na posição mais baixa possível - certamente um incômodo para os mais altos. Mas ao menos o volante não despenca ao liberarmos a trava do ajuste de altura (ouviu, March?) e os pedais são bem posicionados. O Celer faz valeu seu tamanho com bom espaço interno (ele tem 2,52 m de entre eixos contra 2,50 m do HB20 e 2,45 m do March), mostrando superioridade em relação aos rivais principalmente no banco traseiro (o melhor para levar três pessoas). E seu porta-malas de 380 litros bate fácil os 300 l do Hyundai e os 265 l do Nissan. Ressalva apenas para a base um tanto alta do compartimento, que exige mais esforço ao carregá-lo.
Em movimento, a primeira impressão é de que o Celer padece dos mesmos problemas de outros chineses: molenga de direção e suspensão, câmbio seco e barulhento, embreagem ruim de modular e acelerador muito sensível. Rodar um pouco mais e forçar a dinâmica do modelo na pista de testes, no entanto, trouxe boas notícias. A direção que parece muito leve inicialmente melhora um pouco em velocidade, sem chegar a atrapalhar na estrada; a suspensão deixa a carroceria rolar, mas só até um certo limite, depois assenta e trabalha bem (lembra a do Palio); a embreagem requer certo costume, mas depois de um tempo se pega o jeito (melhor que no JAC T6, este sim ruim de modular). Já o câmbio é seco e barulhento mesmo, talvez o aspecto que mais chateie na dirigibilidade. Mas nisso o March também não é dos melhores, com engates um pouco manhosos nas duas primeiras marchas.
Como esperado, o motor 1.5 tem mais gás que os 1.0 3-cilindros dos rivais, empurrando bem o Celer principalmente acima dos 3 mil giros. Vale lembrar que o Chery é também o mais pesado da turma (1.200 kg), de modo que um motor de 1 litro aspirado nesse carro talvez ficasse inviável. Mas, com 113 cv e 15,5 kgfm à disposição, desempenho não é problema para o hatch: chegou a 100 km/h em 12,5 s e retomou dos 40 aos 100 km/h em 11,6 s - marcas que poderiam ser melhores levando-se em conta a potência e torque disponíveis, mas que garantem dirigibilidade agradável e ampla margem sobre os 1.0 da mesma faixa de preço.
Razoavelmente suave em giros elevados, o motor 1.5 chinês é ruidoso nesta situação, o que faz do Celer um pouco barulhento nas esticadas de marcha, mas sem chegar a incomodar em viagens. A quinta marcha tem relação acertada e, com cerca de 3,5 mil rpm a 120 km/h (os 1.0 batem nos 4 mil giros), fica no meio termo entre responder rápido ao acelerador e começar a fazer barulho. Ponto fraco notado em nosso teste foi o consumo: com etanol, as médias do Chery não passaram de 6,5 km/l na cidade e 9 km/l na estrada - além de seu sistema de partida a frio ainda trazer o velho tanquinho de gasolina, como no HB20. Em comparação, o March 1.0 (o mais econômico do trio) fez 9,5 km/l e 13,7 km/l, respectivamente, nas mesmas provas.
Outra coisa a acertar no Celer é a chamada "queda de roda" nos buracos, causada pela distensão brusca dos amortecedores, o que se reflete numa pancada ao passar por lombadas e pisos ruins. Uma pena porque, dos três, o Chery é o mais macio deles. No geral é do HB20 a melhor nota de conforto. O March é o mais durinho do trio, mesmo após ficar mais suave na última reestilização, quando também teve a calibração de sua direção elétrica refeita - ganhando um pouco mais de peso. Já os sistemas de direção do Hyundai e do Chery ainda são hidráulicos, com acerto mais leve do que deveriam. Agradam nas manobras, mas poderiam ser um pouco mais firmes na estrada.
Na convivência fica clara a melhor qualidade percebida do HB20, seja em termos de acabamento, seja em termos de refinamento mecânico. É dele os pedais mais fáceis de modular, o câmbio de engates mais macios e precisos, o painel feito com o melhor material... O motor 3-cilindros não é tão suave quanto o do March, mas ainda assim sua vibração é discreta e o desempenho é bastante honesto - melhor que o Nissan especialmente nas retomadas, se traduzindo num carro mais ágil. Em resumo, o Hyundai justifica seu sucesso de vendas e mostra que hoje os coreanos não só encostaram nos japoneses, como já se mostram capazes de ultrapassá-los.
E o chinês? Bem, ao fim do encontro notamos que o Chery ainda está um estágio evolutivo atrás dos rivais, mas, olhando por outro lado, nunca esteve tão próximo deles. Claro que a marca ainda precisa de reconhecimento e maturidade na questão do pós-venda, bem como uma rede mais capilar. No entanto (e olha que pensei que ainda demoraria um pouco mais para escrever isso), se tem um chinês que vale a visita e o test-drive, este é o Celer brasileiro. Os chineses não estão para brincadeira.
Texto e fotos: Daniel Messeder
Aceleração
0 a 60 km/h: 5,1 s
0 a 80 km/h: 8,5 s
0 a 100 km/h: 12,5 s
Retomada
40 a 100 km/h em 3a marcha: 11,6 s
80 a 120 km/h em 4a marcha: 13,4 s
Frenagem
100 km/h a 0: 41,2 m
80 km/h a 0: 26,6 m
60 km/h a 0: 14,6 m
Consumo
Ciclo cidade: 6,5 km/l
Ciclo estrada: 9,0 km/l
Aceleração
0 a 60 km/h: 6,0 s
0 a 80 km/h: 10,0 s
0 a 100 km/h: 15,1 s
Retomada
40 a 100 km/h em 3a marcha: 14,5 s
80 a 120 km/h em 4a marcha: 16,9 s
Frenagem
100 km/h a 0: 40,9 m
80 km/h a 0: 25,9 m
60 km/h a 0: 14,4 m
Consumo
Ciclo cidade: 9,5 km/l
Ciclo estrada: 13,7 km/l
Aceleração
0 a 60 km/h: 6,1 s
0 a 80 km/h: 10,2 s
0 a 100 km/h: 15,3 s
Retomada
40 a 100 km/h em 3a marcha: 13,7 s
80 a 120 km/h em 4a marcha: 15,3 s
Frenagem
100 km/h a 0: 44,9 m
80 km/h a 0: 27,9 m
60 km/h a 0: 15,6 m
Consumo
Ciclo cidade: 8,4 km/l
Ciclo estrada: 12,6 km/l
Ficha Técnica: Chery Celer 2015
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.591 cm3, flex; Potência: 109/113cv a 6.000 rpm; Torque: 14,2/15,4 kgfm a 4.000 rpm; Transmissão: manual de cinco marchas, tração dianteira; Direção: assistência hidráulica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS; Rodas: aço aro 15″; Peso: 1.200 kg; Capacidades: porta-malas 380 litros (sedã 450 litros), tanque litros; Dimensões: comprimento 4.139 mm, largura 1.686 mm, altura 1.492 mm , entre-eixos 2.527 mm.Ficha técnica – Nissan March 1.0 12V SV
Motor: dianteiro, transversal, 3 cilindros em linha, 12 válvulas, comando duplo varável na admissão, flex; Potência: 77 cv a 6.200 rpm (etanol ou gasolina); Torque: 10 kgfm a 4.000 rpm (etanol ou gasolina); Transmissão: manual de cinco marchas, tração dianteira; Direção: elétrica com assistência variável; Suspensão: independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS; Rodas: liga-leve aro 15, com pneus 185/60 R15; Peso: 964 kg; Capacidades: porta-malas 265 litros, tanque 41 litros; Dimensões: comprimento 3.827 mm, largura 1.675 mm, altura 1.528 mm, entre-eixos 2.450 mmFicha técnica – Hyundai HB20 1.0 12V Comfort Plus
Motor: dianteiro, transversal, três cilindros, 12 válvulas, 998 cm3, comando duplo variável na admissão, flex; Potência: 75/80 cv a 6.200 rpm; Torque: 9,4/10,2 kgfm a 4.500 rpm;Transmissão: câmbio manual de cinco marchas, tração dianteira; Direção: hidráulica;Suspensão: independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS; Rodas: liga-leve aro 15″ com pneus 185/60 R15 Peso: 953 kg; Capacidades: porta-malas 300 litros, tanque 50 litros; Dimensões:comprimento 3.900 mm, largura 1.680 mm, altura 1.470 mm, entreeixos 2.500 mmGaleria de fotos:
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