Já escrevi aqui no site que, embora curta (e tenha) uma moto grande, não abro mão de um scooter para o dia-a-dia na cidade. Hoje esse papel é cumprido por um Honda PCX 150, que para mim oferece agilidade e modernidade sem igual no uso urbano, além da incrível economia de combustível. Quando se fala em scooter, porém, é impossível não falar da Dafra, que praticamente se tornou sinônimo deste tipo de veículo com o sucesso do Citycom 300 (modelo do qual já fui proprietário e só me deu alegrias). Na esteira do Citycom, a marca trouxe o estradeiro Maxsym 400 e agora oferece o caçula Cityclass 200. A meta deste último é justamente ser uma opção ao PCX, que deixou para trás o irmão Lead e se tornou o scooter mais vendido do país. Seria então o novo Dafra uma ameaça ao pequeno Honda?
Argumentos não faltam ao Cityclass: ele tem mais motor (200 contra 150 cc), rodas maiores (aro 16" contra 14") e já vem com bagageiro na traseira, porta-luvas com chave e até mesmo uma tomada USB. Também apresenta porte superior, com banco maior e painel mais completo. Tudo por R$ 9.390, contra R$ 9.015 do PCX (embora seja muito difícil de achá-lo no preço sugerido). Hora de ver se a teoria se comprova na prática.
De saída, o Cityclass apresenta um incômodo: ele só começa a se movimentar quando a rotação chega a 4 mil rpm, ou seja, demora para arrancar nos semáforos e faz muito barulho, como se a correia da transmissão CVT tivesse patinando. Fora isso, o nível de vibrações é bem maior que no Honda. Depois de embalado, porém, o Dafra atinge velocidade de cruzeiro rapidamente, mostrando bom fôlego mesmo em vias expressas, entre 90 e 100 km/h.
Ponto forte fica para a suspensão, principalmente a traseira bi-amortecida ajustável. O Cityclass não pula tanto em pisos ondulados quanto o PCX, cuja traseira bate sem dó nos buracos, ainda mais se estiver com garupa. Já na dianteira, no entanto, o modelo da Dafra transmite mais os impactos para o guidão do que o Honda. As rodas aro 16" proporcionam segurança nas curvas de raio longo e maior velocidade, mas, de modo geral, a ciclística da Honda agrada mais. No Cityclass o piloto fica mais "sentado", enquanto no PCX a posição é mais inclinada para trás, além de você poder posicionar os pés para baixo ou para frente - só para baixo no Dafra.
Por ter o assoalho plano, o Cityclass oferece mais espaço para carga. Além do piso largo, tem um bom porta-luvas na carenagem (onde fica a tomada USB para recarregar o celular) e ainda um ganchinho para colocar uma eventual sacola que não coube no porta-objetos abaixo do banco. O banco é destravado pela própria chave, enquanto na Honda há um botão específico para isso. Vantagem do PCX é que o bocal do tanque fica na parte central do chassi, enquanto no Cityclass é preciso levantar o banco para ter acesso a ele. O compartimento sob o assento do Honda é um pouco maior, acomodando um capacete e algo mais - somente um capacete no Dafra.
Ambos são muito bem servidos em termos de freios, com vantagem para o Dafra por trazer disco também na roda traseira. Os dois contam com sistema de frenagem combinado (CBS), em que o freio dianteiro também é acionado (um dos três pistões) ao pressionarmos a manete do freio traseiro. Na prática, eles freiam com segurança até maior do que as motos de cilindrada semelhante - uma compensação por não terem o recurso do "freio-motor".
A pilotagem do Honda é mais prazerosa. O PCX sai rápido do semáforo (pula à frente do rival com facilidade) e mostra mais agilidade nas mudanças de direção (ajudado pelas rodas menores), além de ter todos os comandos mais leves. Na mão contrária, os comandos pesados fazem o Cityclass parecer mais pesado do que ele realmente é: são 135 kg contra 124 kg do Honda. Apesar do peso semelhante, a traseira "gordinha" e o acelerador duro dão ideia de que estamos num scooter maior, o que pode atrapalhar no caso da mulherada - hoje já responsável por quase metade das vendas deste segmento. O PCX é bem levinho na tocada, e ainda permite que os pés cheguem ao chão mais facilmente com o banco a 760 mm do chão - no Dafra são 785 mm.
Os dois são estreitinhos e esterçam bastante, de modo que circular entre os carros no trânsito é moleza. Da mesma forma, ambos oferecem retrovisores com bom campo de visão e um assento confortável para o piloto, com ligeiro apoio para as costas. Já para o garupa, o Cityclass é mais generoso ao contar com um banco maior e também de espuma mais macia - ainda que o PCX também não seja ruim para o carona.
Quem conhece o Citycom e o Maxsym vai notar que o Cityclass não segue o mesmo nível de refinamento. Isso porque, enquanto os dois primeiros são projetos completos da taywanesa SYM, o Cityclass deriva originalmente da italiana Garelli no visual, mas utiliza componentes de diversas empresas (entre elas muitas chinesas). Para que o modelo fosse montado em Manaus (AM) e vendido por aqui, a Dafra diz ter feito um processo de modificações que durou 22 meses. Mesmo assim, o aspecto dos comandos dos punhos (como os botões de buzina, faróis, seta e partida) não transmite a mesma qualidade dos irmãos, sendo o Honda bem melhor no aspecto dos componentes e acabamento em geral.
Por outro lado, só o Cityclass tem conta-giros (dispensável por se tratarem de veículos com câmbio automático CVT) e um útil relógio digital - este sim, que faz falta no PCX. Ambos trazem trava por cobertura metálica sobre o miolo de chave, um valioso recurso anti-furto que a Honda vem abandonando em algumas de suas motos.
Em termos de desempenho, a teórica vantagem do Cityclass não encontrou respaldo na prática. Embora tenha maior cilindrada, a potência é marginalmente superior (13,86 contra 13,6 cv) e o torque é exatamente o mesmo (1,41 kgfm), só que surge antes no PCX (5.250 contra 6.200 rpm). Lembre-se ainda que o scooter da Dafra é 11 kg mais pesado e demora para sair... Ou seja, o modelo da Honda salta na frente nas arrancadas, sendo que depois eles andam praticamente no mesmo ritmo. Na estrada ambos chegam a 120 km/h de painel (um pouco menos de velocidade real) e podem encarar viagens curtas, mas com a cautela necessária em motores de baixa cilindrada.
Se o desempenho é parecido, o PCX ganha com folga no consumo de combustível: ajudado pelo sistema Idling Stop, que desativa o motor automaticamente em paradas de semáforo (religando-o ao acelerar), o modelo chegou a 43,3 km/l de média com gasolina (nenhum dos scooters é flex). Já o Cityclass decepcionou um pouco neste quesito, conseguindo média de apenas 26 km/l nas mesmas condições - uso prioritariamente urbano. Como o tanque tem praticamente a mesma capacidade em ambos (6 litros no Dafra e 5,9 l no Honda), o Cityclass fica com a autonomia prejudicada.
Sem a mesma modernidade do Honda, a nova aposta da Dafra tem alguns trunfos para agradar aos scooteristas de plantão, mas não bate o PCX numa comparação direta. Mesmo assim, o Cityclass deve conseguir emplacar as 3 mil unidades planejadas pela marca até o fim deste ano e, quem sabe, pode fazer com que as concessionárias Honda troquem o ágio por descontos no PCX. Afinal, concorrência é sempre bem-vinda!
Texto e fotos: Daniel MessederFicha técnica – Dafra Cityclass 200iMotor: monocilíndrico, comando simples, 199,1 cm3, injeção eletrônica, gasolina, refrigeração a ar; Potência: 13,86 cv a 7.500 rpm; Torque: 1,41 kgfm a 6.200 rpm; Transmissão: câmbio automático continuamente variável CVT; Quadro: monobloco (underbone) de aço; Suspensão:garfo telescópico na dianteira (87 mm de curso) e bi-amortecida ajustável (65,6 mm de curso) na traseira; Freios: disco na dianteira (240 mm) e traseira (220 mm); Pneus: 100/80 aro 16 na dianteira e 120/80 aro 16 na traseira; Peso: 135 kg; Capacidades: tanque 6 litros; Dimensões: comprimento 2.087 mm, largura 711 mm, altura 1.300 mm, altura do assento 785 mm, entreeixos 1.440 mm
Ficha técnica – Honda PCX 150Motor: monocilíndrico, comando simples, 153 cm3, injeção eletrônica, gasolina, refrigeração líquida; Potência: 13,6 cv a 8.500 rpm; Torque: 1,41 kgfm a 5.250 rpm; Transmissão: câmbio automático continuamente variável CVT; Quadro: monobloco (underbone) de aço; Suspensão:garfo telescópico na dianteira (100 mm de curso) e duploamortecida (85 mm de curso) na traseira; Freios: disco simples na dianteira (220 mm) e tambor na traseira (130 mm); Pneus:90/90 aro 14 na dianteira e 100/90 aro 14 na traseira; Peso: 124 kg; Capacidades: tanque 5,9 litros; Dimensões: comprimento 1.917 mm, largura 738 mm, altura 1.094 mm, altura do assento 760 mm, entreeixos 1.315 mm
Galeria de fotos: Dafra Cityclass x Honda PCX
Galeria: Avaliação: Dafra Cityclass 200 tem trunfos, mas não bate Honda PCX 150