Mudanças na Ducati do Brasil: assim como aconteceu na Europa, a Monster deixa de ser a moto de entrada da marca italiana. Ela ganha o novo motor refrigerado a líquido, de 821 cc, e repassa o anterior 796 cc a ar para a estreante Scrambler, que será lançada por aqui em breve. Com a mudança, a Monster salta para 112 cv e se torna uma das mais potentes nakeds de média cilindrada, agregando também mais tecnologia. Mas a 821 também chega mais cara, tabelada a R$ 43.900, e precisa justificar essa diferença de valor para as rivais - Yamaha MT-09, BMW F800R e Kawasaki Z800. Vale pagar mais? Quais as atrações da nova machinna? Para saber, ela foi nossa companheira de dia-a-dia por uma semana.
Antes de mais nada, vamos à proposta desta Ducati: ela quer ser uma moto urbana para uso cotidiano, uma espécie de "versão passeio" da Hypermotard (que usa o mesmo propulsor). Quer saber? É tiro de canhão em passarinho. A Monster 821 não nasceu para ficar trancafiada no trânsito. O motor cozinha sua perna, a suspensão não é exatamente macia e a moto é volumosa com seu tanque de 17 litros. Eu diria que dá para ir ao trabalho com ela sem problemas, mas apenas como desculpa para poder curti-la no fim de semana. Não que a 821 seja estúpida, pois não é. Acione o modo Urban de pilotagem (há também o Touring e o Sport) e ela vira um gatinho: a potência é reduzida para 75 cv, o acelerador fica menos sensível, o controle de tração atua no nível máximo e os freios ABS idem. Ela arranca suave e aceita andar com giros baixos numa boa, mas você percebe que ela está se "esforçando" para isso.
Se você quer uma Ducati para passeios descompromissados, melhor esperar pela Scrambler. Agora, se você deseja uma naked média com motor explosivo, chassi brilhante, freios potentes e estabilidade pra dar e vender, aí a 821 é a pedida certa. Você gira um pouco mais o acelerador e já percebe a alegria do motor em subir de rotação, enquanto a estrutura fica completamente à vontade em velocidades elevadas. Já o ronco cativa mesmo para quem não curte muito o barulho das bicilíndricas. É uma batida "TOC TOC" com empolgantes "pipocos" nas reduções, especialmente em ritmo esportivo.
Pegue uma estradinha de serra e a festa se completa. Das nakeds médias, a Monster é certamente a mais precisa e estável nas curvas, com muuuuita aptidão para deitar e engolir curvas de todos os raios e velocidades. Usando a 821 no modo Sport ela libera por completo seu poderio, arrancando com o vigor dos mais de 9 "quilos" de torque e fazendo a dianteira decolar nas saídas de curva. Sim, o bicilíndrico tem comportamento empolgante a partir de giros médios, entregando seus 112 cv a mais de 9 mil rpm e com muita saúde para girar alto. Numa estrada aberta, porém, ela cansa um pouco em viagens longas. O motor vibra bastante em velocidade de cruzeiro (nos 120 km/h legais) e logo sentimos formigamento das mãos, além de não haver proteção aerodinâmica. Ao menos a posição de pilotagem é bem ereta, com as costas apenas um pouco inclinadas.
Para acompanhar esta segunda geração do motor Testastretta 11°, a Monster tem chassi tipo treliça, bastante rígido, e suspensões bastante firmes (bengalas invertidas na frente e balança monoamortecida atrás com ajustes), além de potentes freios Brembo com ABS da Bosch - ou seja, todo o conjunto é compatível com o propulsor, proporcionando muita confiança ao piloto. Também conta, é claro, toda a ajuda eletrônica. O ABS, por exemplo, tem três níveis de atuação, enquanto controle de tração chega a exagerados oito modos - o que nos parece mais marketing do que efetividade, pois haja sensibilidade no traseiro para notar a diferença entre o modo 5 e o 6, por exemplo...
O que importa é que, seja você um piloto novato ou experiente, a Monster 821 pode se adaptar aos dois tipos de uso, se mostrando segura para quem está começando em motos grandes e muito divertida para quem já manja da coisa. Defeitos? Bem, o câmbio tem engates um pouco duros e achar o neutro quando parado exige paciência. Também sentimos falta de um marcador de combustível no belo painel de LCD e, se não fosse pedir muito, de um indicador de marcha.
De resto, a Monster justifica o posicionamento premium da Ducati: as pedaleiras são revestidas de borracha, o tato das peças é bastante agradável e o acabamento é primoroso, dando gosto de observar detalhes como as duas tiras de LEDs no farol dianteiro, a capa do assento traseiro (removível) ou o chassi pintado de vermelho. Pena que isso tudo tenha um preço salgado!
Por Daniel MessederFotos: Rafael Munhoz
Ficha técnica: Ducati Monster 821
Motor: bicilíndrico em L a 90 graus, 4 válvulas por cilindro, 821 cm3, injeção eletrônica, gasolina, refrigeração líquida; Potência: 112 cv a 9.250 rpm; Torque: 9,12 kgfm a 7.750 rpm; Transmissão:câmbio de seis marchas, transmissão por corrente; Quadro: chassi tubular tipo treliça de aço; Suspensão: garfo telescópico invertido na dianteira de 43 mm (130 mm de curso) e balança monoamortecida (140 mm de curso) na traseira; Freios: disco duplo simiflutuante com pinças Brembo na dianteira (320 mm) e disco simples na traseira (245 mm), com ABS e controle de tração; Pneus: Pirelli Diablo Rosso II 120/70 aro 17″ na dianteira e 180/60 aro 17″ na traseira; Peso: 205 kg em ordem de marcha; Capacidades: tanque 17 litros; Dimensões: comprimento 2.170 mm, largura 800 mm, altura 1.055, altura do assento 785 mm, entreeixos 1.480 mm
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Galeria: Avaliação: Ducati Monster 821 une estilo clássico, motor explosivo e fome de curvas