O segmento de veículos de entrada no Brasil é tão farto que, seja entre carros ou motos, as marcas têm apostado em mais uma opção de modelo - muitas vezes um derivado do outro. É o que a Yamaha acaba de providenciar com a nova Factor 2016. Partindo da bem-sucedida Fazer 150, a marca dos diapasões criou uma moto mais simples e voltada para uso diário intenso, além de ser mais barata. Com preços de R$ 7.390 na versão E e R$ 7.990 na ED avaliada (com freio a disco dianteiro e rodas de liga-leve), a nova street quer ganhar as ruas como modelo mais vendido da Yamaha.
Para quem já conhece a Fazer 150, as novidades são poucas (o que é bom). A posição de pilotagem é mais confortável por conta do guidão e da pedaleira menos recuados, enquanto o painel de instrumentos fica todo concentrado num pequeno visor digital. Parece simplório à primeira vista, mas tem tudo o que precisa: conta-giros, velocímetro, relógio, hodômetro total e parcial, luz ECO e o útil indicador de marcha engatada (que a CG não tem). Outra coisa que a rival da Honda não oferece é o lampejador de farol alto, item de série na Factor. A pequena Yamaha também agrada mais pela posição da buzina, na parte de baixo do punho, de acesso mais fácil que na CG. Mas ainda falta o botão de corta-corrente.
Em movimento, a lembrança da Fazer 150 é latente, mas a Factor parece andar mais relaxada por conta da relação um pouco mais longa, que favorece o consumo. As acelerações, porém, não ficam muito atrás da irmã quando giramos o punho direito com vontade. Ela sai com agilidade dos semáforos e circula sem problemas em vias de trânsito rápido, mas não espere que ela acompanhe a nova CG 160 Fan (que custa os mesmos R$ 7.990) na estrada. Infelizmente não foi possível realizar nossas medições com equipamento na Factor por conta da chuva no dia do teste, mas na avaliação das ruas e no campo das sensações ficou clara a maior saúde do motor Honda. O que nem é uma surpresa se analisarmos os dados de potência e torque relacionados ao peso de cada moto.
Na Yamaha, o motor monocilíndrico de 149,3 cm³ com comando único no cabeçote (SOHC) e duas válvulas gera 12,2/12,4 cv de potência e 1,28/1,29 kgfm de torque (gasolina/etanol) para levar um peso seco de 113 kg. Já na CG 160 o motor tem as mesmas características, mas, com 162,7 cm³, entrega 14,9/15,1 cv de potência e 1,40/1,52 kgfm de torque para um peso seco de 118 kg. Em compensação, a Yamaha se revelou bastante econômica e chegou a uma média de 37 km/l durante a avaliação, com gasolina, ao passo que a Honda ficou nos 33,5 km/l. Em relação à Factor 125, a nova 150 tem tanque maior, de 16 contra 14 litros, para ampliar a autonomia. Pena ter mantido a tampa antiga e feiosa, de retirar, enquanto a CG traz a tampa estilo aviação como nas motos mais caras.
Apesar de andar um pouco menos que a rival quando exigida, a Fazer 150 tem boa força em baixas rotações, o que torna sua tocada agradável na cidade e exige poucas reduções de marcha. O motor também se revelou pouco ruidoso e com baixo índice de vibrações, no que contribui o banco com maior espessura de espuma - ideal para quem fica o dia todo sobre a moto. O garupa também foi lembrado com uma boa alça traseira e o banco em dois níveis, com porção extra de espuma na parte traseira.
Em termos de ciclística, o chassi leve e o elevado grau de esterço deixam a Factor muito ágil para driblar os demais veículos no trânsito, enquanto a largura estreita e os retrovisores em posição elevada colaboram na tarefa de passar nos corredores. O câmbio é bastante macio e tem engates fáceis, não deixando a desejar em relação à CG. Já o freio a disco dianteiro mantém o crônico problema das Yamaha de baixa cilindrada, sendo "borrachudo" e exigindo força no manete para que a motocicleta efetivamente pare. Por outro lado, o freio traseiro a tambor se revelou bem ajustado ao peso da moto.
Em termos de suspensão, a Factor tem o rodar um tanto "durinho" e seco nos buracos, não mostrando a mesma capacidade de absorção de impactos da CG, que possui maior curso tanto na frente quanto atrás. E o pneu traseiro muito estreito (90/90) pede atenção em curvas mais ousadas, especialmente sobre piso escorregadio, ainda que a estabilidade da moto seja boa por conta da suspensão firme mesmo rodando na estrada.
Encarar uma viagem curta não é problema, desde que não abusemos da carga e nem do acelerador. Para não andar com o motor "gritando", o ideal é manter um ritmo ao redor dos 100 km/h em quinta marcha. Nas descidas chegamos a quase 130 km/h de painel, mas é perceptível que a Factor está sendo forçada e não fica à vontade nesta velocidade. O habitat dela é mesmo o caos urbano.
Avaliada na cor laranja, exclusiva da versão ED, a Factor chamou a atenção durante nossas andanças - especialmente dos donos de CG e da Factor 125, embora particularmente ainda ache a Fazer 150 mais atraente. Para ajudar a emplacar a novidade, a Yamaha aposta também nas revisões com preço fixo até 30 mil km (sete manutenções), no que a Honda rebate com troca de óleo e mão de obra gratuita no mesmo período. Por isso, e pelo motor menor, custar um pouco menos que a CG 160 Fan talvez ajudasse a Factor 150 a ser mais competitiva.
Texto e fotos: Daniel Messeder
Ficha técnica – Yamaha Factor 150
Motor: monocilíndrico, 149,3 cm³ cm³, injeção eletrônica, flex, refrigeração a ar, SOHC; Potência: 12,2/12,4 cv a 7.500 rpm; Torque: 1,28/1,29 kgfm a 5.500 rpm; Transmissão: câmbio de cinco marchas, transmissão por corrente; Suspensão: garfo telescópico (120 mm de curso) na dianteira e balança bi-amortecida (92 mm de curso) na traseira; Freios: disco na dianteira (245 mm) e tambor na traseira (130 mm); Pneus: 80/100 aro 18″ na dianteira e 90/90 aro 18″ na traseira; Peso: 126 kg (em ordem de marcha); Capacidades: tanque 16,0 litros; Dimensões: comprimento 2.015 mm, largura 735 mm, 1.085 mm, altura do assento 785 mm, entre-eixos 1.325 mm; Preço: R$ 7.990 (dezembro 2015)
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Galeria: Avaliação: nova Yamaha Factor 150 é mais que uma Fazer simplificada