O ano de 1994 ficou marcado na história do Brasil por diversos acontecimentos. Nossa seleção se tornava tetracampeão de futebol, morria Airton Senna e entrava em vigor o Plano Real, que prometia estabilizar a economia. No cenário automotivo começava a entrada maciça de carros importados, além de vários lançamentos importantes. Entre eles, um relançamento: o controverso retorno do Fusca, apresentado pela VW ainda em 1993, fruto de um acordo feito após a sugestão do então presidente Itamar Franco sobre voltarmos a ter um carro "popular".
Mas a história do ícone da industria automotiva nacional começa lá atrás, em 1959. Dois anos após instalar sua primeira fábrica no Brasil, em 1957, a Volkswagen começava a produzir o sedã 1200, rapidamente apelidado pelo público de "besouro" ou "fusquinha". A partir daí, teria início uma trajetória de décadas de liderança em vendas, com o modelo praticamente motorizando o país.
Reunindo qualidades como durabilidade, robustez e manutenção barata, o Fusca dominou o mercado nas décadas de 1960 e 1970 e viu o nascimento e a morte do carro que deveria, em tese, sucedê-lo, o Brasilia.
Muito tempo depois, a partir de 1984, restaria uma única e nova versão equipada com motor 1.600 que rendia 46 cv a 4.000 rpm e torque máximo de 10,1 kgfm a 2.000 rpm. Freios a disco na dianteira e barra estabilizadora traseira redesenhada também eram novidades no "Fuscão". Todavia, esse seria o último modelo da linha e teria a produção descontinuada pouco tempo depois, em 1986, teoricamente encerrando a história do Fusca no Brasil.
Chamada por muitos de "década perdida", os anos 1980 chegavam ao fim e logo no início da década de 1990 o novo governo do presidente Fernando Collor abria o mercado aos importados, após a polêmica declaração de que os carros brasileiros eram "carroças". Nessa época, a Volkswagen fazia parte da Autolatina (joint-venture com a Ford) e o Gol reinava absoluto nas vendas, se tornando pouco a pouco o sucessor do Fusca.
Logo após o impeachment do presidente Collor assumia o vice Itamar Franco, que se reuniria com a presidência da Autolatina em janeiro de 1993 para apresentar uma sugestão para que o Fusca voltasse a ser produzido no país com a premissa de custar barato. No mês seguinte, era assinado o protocolo de carro popular. Nesta categoria seria cobrado IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) de apenas 0,1%. A regra era a obrigatoriedade do motor 1.0 litro e preço final de no máximo US$ 6,8 mil.
Mas havia uma exceção à regra: para poder incluir o saudoso Fusca no benefício, a legislação abriria uma brecha que dizia que carros com motor 1.600 refrigerados a ar poderiam pagar o imposto mais baixo. A Fiat já havia conseguido uma redução no IPI dois anos antes, mas o desconto não era tão vantajoso como este.
Após o anúncio do protocolo de intenções firmado com o Governo, a Autolatina investiu US$ 30 milhões para voltar a produzir o Fusca e, de quebra, ainda aproveitou o benefício para incluir também a Kombi. Dizem que na época a própria matriz não viu o relançamento do carro com bons olhos, considerando que fosse apenas uma edição especial.
O Fusca reeditado chegou custando US$ 7.200 (preço dos carros populares na ocasião) e trazia para-choques na cor do veículo, nova saída de escape única, novos revestimentos internos e volante redesenhado, entre outras novidades.
Apesar de desacreditado no início, o "Fusca Itamar" chegou a vender mais de 40 mil unidades. Mas depois de um tempo começou a declinar diante do próprio Gol 1.000 e do Uno Mille, que custavam um pouco mais, mas eram mais modernos. Foi produzido até julho de 1996, quando se despediu do mercado brasileiro com a série Ouro. Foram 1.500 exemplares desta série especial, que tinha como destaque a anotação do nome dos proprietários num Livro de Ouro da VW. O modelo era equipado com bancos do Pointer GTI, desembaçador do vidro traseiro, faróis de neblina, painel de instrumentos com fundo branco e vidros verdes.
Apesar de fora do mercado há quase 20 anos, o Fusca ainda povoa o coração dos brasileiros. Tanto é que a VW fez uma homenagem ao velho besouro ao chamar de Fusca, no Brasil, a nova geração do New Bettle que começou a ser vendida em 2012. Só que desta vez o modelo não tem nada de popular, pelo contrário: plataforma de Jetta, motor 2.0 TSI de 200 cv e até câmbio DSG de dupla embreagem estão presentes no atual besouro, que do passado carrega apenas o estilo inconfundível.
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Galeria: Carros para sempre: Fusca "Itamar" marcou a volta dos populares