Dois carros e 17 marchas? Isso mesmo: são oito no BMW 328i GT e nove no Range Rover Evoque, que chegou ao Brasil há pouco tempo em versão renovada. O Land Rover é atualmente o carro com mais marchas à venda no país, substituindo uma transmissão de seis velocidades que agora se tornou, digamos, obsoleta. Mas para quê tanta marcha? Quais as vantagens? E como um carro com tantas relações funciona na vida real? Para estas e outras questões, fomos buscar a resposta no novo cupê alemão e no atualizada crossover inglês. Além de muitas marchas, a dupla oferece motor 2.0 turbo e versatilidade para uso familiar sem abrir mão de diversão!
O GT é uma versão meio insólita do Série 3. À primeira vista, trata-se de um cupê de quatro portas com boa altura livre do solo, que pode até ser confundido com um crossover. Mas, depois de um tempo, ficam claras suas vantagens sobre o Série 3 sedã convencional - e também o que ele perde. Já o Evoque não mexeu quase nada no visual (nem precisava!), mas da última vez que o avaliamos dissemos que a transmissão não estava à altura do restante do conjunto. A Land Rover parece ter ouvido as críticas, e agora o que não falta é marcha para extrair o melhor do motor Ford 2.0 turbo, que manteve os 240 cv e 34,7 kgfm. O BMW tem configuração semelhante, 2.0 de quatro cilindros turbo (mas longitudinal), com 245 cv e 35,7 "quilos" de torque, gerenciado pelo câmbio de oito marchas. Como manda a tradição de cada marca, o Land tem tração 4x4 e o BMW, traseira.
Em relação ao Evoque anterior, com três marchas a menos, as melhorias aparecem antes das medições. As trocas estão mais suaves e rápidas, principalmente quando usamos as borboletas na direção para mudanças manuais. O desempenho, na verdade, praticamente não mudou: o baby-Range cravou 8,2 segundos na aceleração de 0 a 100 km/h e 5,7 s na retomada de 80 a 120 km/h - praticamente as mesmas marcas de antes. Melhor para o consumo, já que as três relações extras diminuem as rotações do motor em velocidade de cruzeiro. A 120 km/h em nona marcha, por exemplo, são apenas 1.900 rpm. Com mais relações, a Land Rover pôde encurtar as primeiras marchas e alongar (e muito!) as últimas. Para se ter ideia, da sexta para cima é só overdrive, como você pode ver abaixo:
1a: 4,71
2a: 2,84
3a: 1,91
4a: 1,38
5a: 1,00
6a: 0,81
7a: 0,69
8a: 0,58
9a: 0,48
Diferencial: 3,75
Percebemos, então, que você precisa apenas das cinco primeiras marchas para tirar o melhor desempenho do Evoque. Depois disso, é como se a Land Rover tivesse fatiado a sexta marcha em mais três relações alongadas. A nona marcha é tão loga que, matematicamente, o carro poderia atingir quase 420 km/h! Mas, e quanto melhorou o consumo? Bem, passou de cerca de 5 km/l na cidade para 6,7 km/l - com a preciosa ajuda do start-stop, outra novidade. Na estrada, saltou de cerca de 10 km/l para 12,3 km/l. Bons resultados, mas aquém do BMW, como veremos mais adiante.
A caixa de nove marchas é um oferecimento da alemã ZF, que não por acaso também fornece a de oito velocidades para o BMW GT. Aqui, a marcha a menos é compensada por um diferencial mais longo. Diferentemente do Evoque, no 328i há apenas duas relações de overdrive, a sétima e a oitava, com uma relação de última marcha que equivale à sétima do Land Rover. Na prática temos baixas 2 mil rpm nos 120 km/h permitidos em nossas estradas, em oitava marcha. Veja as relações a seguir:
1a: 4,71
2a: 3,14
3a: 2,11
4a: 1,67
5a: 1,28
6a: 1,00
7a: 0,84
8a: 0,67
Diferencial: 3,15
Ainda que tenham motor e transmissões semelhantes, Série 3 GT e Evoque se comportam de forma diferente. Você busca eficiência? BMW é a resposta. Embora mais alto e comprido que o Série 3 normal, o GT guarda muito da tocada do sedã, e não perde quase nada no desempenho. Ainda que tenha potência e torque semelhante ao do "rival", o motor alemão responde com mais violência, entregando seu torque pleno já a 1.250 rpm e dando um soco nas suas costas. Em nossas medições, foram necessários apenas 6,1 s para o 328i chegar aos 100 km/h (mesmo valor divulgado pela fábrica) e 4,2 s para pular de 80 a 120 km/h. Além de andar mais que o Land Rover, o alemão (não tão mais leve assim) também bebe menos: cravou bons 8,4 km/l na cidade e 13,0 km/l na estrada, também beneficiado pelo sistema start-stop e pelo modo de condução Eco Pro.
Por falar nesses modos, o GT se destaca pela polivalência. Ele pode variar de um macio familiar (mesmo com as rodas 19" o carro fica suave em pisos ruins) a um firme esportivo, contornando curvas como poucos, e ainda permitindo algumas brincadeiras com a tração traseira. OK, o entre-eixos mais longo e altura maior, além do peso extra, não deixam o GT tão ágil quanto o Série 3 sedã, mas você vai precisar abusar nas curvas para sentir esta diferença. Comparado ao Evoque, o BMW transmite mais confiança para andar rápido naquela estradinha de montanha que você curte.
Não que o Land Rover deixe a desejar na dirigibilidade, longe disso. O Evoque continua um dos crossovers mais estáveis e bons de tocada que existem, mas não se esqueça que ele também tem outro compromisso: ir bem na terra. Diferente do BMW, aqui os modos de condução do sistema Terrain Response são para adaptar o modelo aos mais diversos tipos de piso (terra, lama, areia...), além de haver a tração 4x4 permanente. Para acelerar no asfalto existe o modo Dynamic, que transforma a iluminação do quadro de instrumentos de branca para vermelha e altera motor, câmbio, direção e amortecedores para uma tocada mais forte.
Usando o modo manual da transmissão e fazendo trocas pelas borboletas no volante, as últimas marchas não servem para nada. Aliás, é estranho quando você está em Drive na estrada e resolve fazer uma redução manual, pois no BMW você baixa de oitava para sétima e no Land Rover de nona para oitava - nos dois casos sem praticamente nenhum efeito freio-motor. Então você sai apertando a borboleta da esquerda como um louco, até chegar na terceira que você precisa para fazer aquela tomada de curva. Por isso, aí vai uma sugestão para ambas as marchas: ao acionarmos o modo esportivo de condução, que tal desativar eletronicamente as últimas marchas?
Fora esta condição, a diferença de dirigir um carro multimarchas como esses é a quantidade trocas. Nas acelerações, você percebe o motor engolindo marchas e movimentação frenética do conta-giros, que não para de subir e descer. Mas ainda bem que as duas transmissões são bastante suaves, de modo que você mal percebe as mudanças, a não ser que preste atenção nelas.
Ainda falando em comportamento, é notável como a BMW deixou o GT macio mesmo com as rodas aro 19" do 328i. No modo mais confortável dos amortecedores, o carro roda suave e sofre bem menos do que se espera nos buracos. Por outro lado, a Land Rover fez a suspensão do Evoque mais firme para conter as leis da física nas curvas, o que, somado às rodas aro 20" da versão testada, tornou o rodar um tanto áspero em pisos esburacados. Mesmo sem usar o modo dinâmico, que enrijece os amortecedores, o inglês sente mais os impactos que o alemão. Para aventuras fora do asfalto, eu recomendaria as versões mais "simples" do Evoque, com rodas menores e pneus de perfil mais alto.
Por dentro, o Land Rover exibe bancos dianteiros maravilhosos, do tipo concha, que são tão bonitos de ver quanto bacanas de usar. O BMW, porém, é mais confortável. Além da suspensão menos rígida, o espaço oferecido no banco de trás do GT é tipo limousine, com vão de sobra para esticar as pernas e o teto longe da cabeça. O Evoque é bem mais justo na traseira, além da elevada linha das janelas reduzir a sensação de espaço - pelo menos o teto panorâmico de vidro é gigante! Ambos têm ótima capacidade para bagagens, com porta-malas de 520 litros no GT e de 575 litros no Land Rover, sendo os dois com abertura/fechamento automático da tampa.
Interessante no BMW são as janelas sem colunas, diferente do Série 3 sedã, além do spoiler na traseira que se abre automaticamente em velocidade - ou por um botão no console. Nenhuma surpresa no painel ou nos comandos internos, que seguem exatamente a linhagem da marca, apesar da posição de dirigir um pouco mais elevada que a do sedã. O GT também agrada em termos de acabamento, mas há um ou outro plástico de qualidade inferior à esperada para um carro premium. No Evoque, ao contrário, nos encanta a qualidade interna, com diversas superfícies revestidas de couro e belíssimas costuras aparentes. Entre as novidades do modelo 2014, junto com as nove marchas, estão o desenho das rodas e dos retrovisores (um pouco menores), além do piloto automático adaptativo.
Só que as novas atrações do Evoque deixaram o preço mais salgado. Dos R$ 227.200 iniciais da versão Dynamic, esta Dynamic com pacote Tech testada vai a R$ 277.900. O BMW GT é vendido por R$ 211.950 nesta versão 328i, com pacote fechado de equipamentos. Diante de tais valores, já sei até no que você está pensando: esse negócio de carro com um monte de marcha é coisa de bacana. Pode ser que no começo sim, mas acostume-se: já tem câmbio de 10 marchas em desenvolvimento, e para uma marca generalista!
Por Daniel Messeder
Fotos Rafael MunhozFicha técnica – Range Rover Evoque Dynamic 2015Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, 1.999 cm3, injeção direta, turbo e intercooler, gasolina; Potência: 240 cv a 5.500 rpm; Torque: 34,7 kgfm a 1.750 rpm; Transmissão: câmbio automático de nove marchas, tração 4x4 permanente; Direção: elétrica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e multibraços na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS; Rodas: aro 20 com pneus 245/45 R20; Peso: 1.745 kg; Capacidades: porta-malas 575 litros, tanque 70 litros; Dimensões: comprimento 4.365 mm, largura 1.965 mm, altura 1.635 mm, entreeixos 2.660 mm;
Medições CARPLACE - Range Rover Evoque Dynamic 2015Aceleração
0 a 60 km/h: 3,6 s
0 a 80 km/h: 5,7 s
0 a 100 km/h: 8,2 s
Retomada
40 a 100 km/h em S: 6,3 s
80 a 120 km/h em S: 5,7 s
Frenagem
100 km/h a 0: 38,8 m
80 km/h a 0: 24,2 m
60 km/h a 0: 13,6 m
Consumo
Ciclo cidade: 6,7 km/l
Ciclo estrada: 12,3 km/l
Números do fabricante
Aceleração 0 a 100 km/h: 7,6 s
Consumo cidade: -
Consumo estrada: -
Velocidade máxima: 217 km/h
Ficha técnica – BMW 328i GTMotor: dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, 1.999 cm3, injeção direta, turbo e intercooler, gasolina; Potência: 245 cv a 5.000 rpm; Torque: 35,7 kgfm de 1.250 a 4.800 rpm; Transmissão: câmbio automático de oito marchas, tração traseira; Direção: elétrica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e multibraços na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS; Rodas: aro 19 com pneus 225/45 R19; Peso: 1.670 kg; Capacidades: porta-malas 520 litros, tanque 60 litros; Dimensões: comprimento 4.824 mm, largura 1.828 mm, altura 1.508 mm, entreeixos 2.920 mm
Medições CARPLACE - BMW 328i GTAceleração
0 a 60 km/h: 2,8 s
0 a 80 km/h: 4,3 s
0 a 100 km/h: 6,1 s
Retomada
40 a 100 km/h em S: 4,9 s
80 a 120 km/h em S: 4,2 s
Frenagem
100 km/h a 0: 35,5 m
80 km/h a 0: 22,6 m
60 km/h a 0: 12,9 m
Consumo
Ciclo cidade: 8,0 km/l
Ciclo estrada: 13,4 km/l
Números do fabricante
Aceleração 0 a 100 km/h: 6,1 s
Consumo cidade: -
Consumo estrada: -
Velocidade máxima: 250 km/h
Galeria dos fotos: Range Rover Evoque 2015 e BMW 328i GT 2015
Galeria: Teste CARPLACE: Range Rover Evoque e BMW 328i GT somam 17 marchas! Precisa tanto?