Há cerca de um ano, paramos neste mesmo posto para fazer a foto de abertura da reportagem "Em busca dos 20 km/l" com os modelos Fox Bluemotion, Clio Expression e Uno Economy. Na ocasião, o preço da gasolina no estabelecimento era de R$ 2,799 o litro. Agora repare na imagem acima o quanto está custando esse mesmo litro do combustível fóssil, menos de 12 meses depois: R$ 2,989, exatos 19 centavos a mais que antes - o que significa um aumento na casa dos 7%. O seu salário subiu esse percentual de um ano para cá? O meu não... É por isso que, além das questões ambientais, o povo quer carros cada vez mais econômicos e eficientes.
Muitos passos importantes têm sido dados nesta direção. Começou com a etiqueta energética do Inmetro, que passou a classificar os carros com notas (A, B, C, D e E) de acordo com seu consumo de combustível dentro da categoria na qual ele está inserido. Depois veio o Inovar-Auto, regime do governo que prevê, até 2017, que os carros nacionais tenham um rendimento 23,1% maior que a média atual (chegando à média de 17,26 km/l de gasolina ou 11,96 km/l de etanol). Bem, no ano passado o Fox Bluemotion levou a melhor no nosso teste e provou a racionalidade do uso de um motor mais compacto e moderno, o EA-211 1.0 12V de três cilindros. Assim, o Fox entra no desafio deste ano como o atual campeão - agora já na versão reestilizada da linha 2015.
A diferença é que, desta vez, os rivais usam a mesma arma do Fox: motor 1.0 tricilíndrico, que é exatamente igual no pequenino up! e segue conceito semelhante no novo Ka - os três com nota A pelo Inmetro. O propulsor do Ford difere por usar bloco de ferro (mais pesado), mas tem a vantagem de possuir duplo comado variável, que atua na admissão e no escape - só na admissão no caso dos Volkswagen. Em termos de performance, o Ford vai além: são 85 cv e 10,7 kgfm, contra 82 cv e 10,4 kgfm. Há algumas semanas, mostramos num teste que o Ka se tornou o 1.0 mais rápido do país, vencendo o próprio up! e o renovado Nissan March. Mas será que ele também é o mais econômico? Vamos para a estrada descobrir!
As regras foram a mesmas da prova de 2013: abastecemos os carros com 100% gasolina até a boca (na verdade a nossa gasoálcool, com 25% de etanol), conferirmos a pressão dos pneus, zeramos os hodômetros e rodamos até a cidade de Tatuí, a pouco mais de 100 km de distância da capital paulista. A partida se deu no primeiro posto da rodovia Castelo Branco, e logo às 6h30 da manhã, para que o trânsito matinal não estragasse nossas médias de consumo. Para que o estilo de condução de cada motorista também não influenciasse no resultado, programamos paradas a cada cerca de 30 km para troca de condutores. Além disso, fomos mantendo distância do carro da frente e revezando o carro que liderava o grupo, para que ninguém aproveitasse o vácuo de ninguém.
A primeira etapa do teste foi feita mantendo os 100 km/h constantes, com acelerações leves e o mínimo de redução de marchas possível. Nas trocas ascendentes, respeitamos sempre o mostrador de troca de marcha presente nos três modelos, que indica o melhor momento para a mudança levando se em conta o menor gasto de combustível possível.
A viagem também serviu para relembrar (e também comparar) o trio de compactos. A VW nos mandou as versões básicas de seus carros, de modo que o take up! tinha apenas o CD player e os vidros dianteiros e trava elétrica opcionais, sem contar sequer com conta-giros ou direção elétrica. Ar-condicionado? Nem o Fox Bluemotion avaliado tinha o opcional, mas ao menos ele traz de série a assistência elétrica da direção. Já o Ka era completão, pois a Ford tem apenas a versão SEL na frota de imprensa - mas obviamente viajou com o ar desligado. Assim, o Ka entrou na prova com desvantagem no peso: 1.026 kg contra 993 kg do Fox e apenas 910 kg do up!. Além disso, o Ford traz rodas aro 15" com largos pneus 195/55, enquanto Fox e up! vestem aro 14" com pneus mais condizentes com motores 1.0, de medidas 175/70.
"O Ka parece mais amarrado", reparou o repórter Alexandre Ciszewski. Ao contrário, o Fox dá a impressão de ser mais "solto", como se ele tivesse menos resistência à rodagem. De fato, o Bluemotion recebe alterações como pneus de baixa resistência (Goodyear GPS Duraplus, também usados no up!) e melhorias aerodinâmicas como suspensão rebaixada, grade fechada e até o desenho especial nas calotas - tudo para chegar a um coeficiente aerodinâmico (Cx) de bons 0,33. O Ka tem CX de 0,338, mas é "segurado" pelos pneus mais largos e pelo peso maior. Já o up! tem o pior CX, 0,361, mas em compensação é o mais leve do trio e tem pneus bem adequados à proposta.
Os três são surpreendentemente confortáveis acusticamente para carros 1.0. Viajando a 100 km/h, todos apontam ao redor do 3 mil rpm (Fox e up! um pouco mais) e o ruído na cabine é muito mais do vento do que do motor. O Ka agrada também pela suspensão mais macia e pelos bancos grandes, os mais cômodos do trio. O Fox segue um acerto mais durinho de suspensão, necessário por conta de sua carroceria mais alta, mas a direção elétrica (antes era eletro-hidráulica) ficou bastante leve - mais que a do Ka, inclusive. Já o up! fica no meio termo Ka e up! na rigidez da suspensão. E, sem assistência da direção, era disparado o mais pesado e lento nas mudanças de direção. Câmbio? Fox e up! compartilham a ótima caixa MQ-200, de engates macios e curtinhos. O Ka tem engates mais longos, porém, também bastante precisos.
O Fox recebeu elogios quanto à vibração mais bem contida do bloco três cilindros. "Dá para perceber claramente que o up! vibra mais, apesar de usar o mesmo motor", reparou o editor-assistente Júlio Trindade. O Ka fica na coluna do meio neste aspecto, assim como no espaço interno. "Gosto da amplitude do Fox, me dá mais liberdade de movimentos", declarou o diretor Fábio Trindade. Já o up! foi criticado pela simplicidade do interior (com lataria aparente) e pelo painel de instrumentos minimalista, que lembra o do primeiro Fox. "É uma pena que a VW ainda não tenha achado um posicionamento legal para o compacto, pois o up! é um carro muito interessante", rebateu o editor-chefe Daniel Messeder. "Eu não teria dúvidas de optar pelo up! entre os VW, pois não gosto da posição muito alta de dirigir e dos pedais deslocados do Fox", completou. Trindade, no entanto, disse que acha difícil alguém levar o up! em vez do Fox, pois quando começamos a colocar os opcionais mais desejados os dois acabam próximos em preço.
Voltando ao consumo, que afinal é o tema principal desta reportagem, a chegada ao posto em Tatuí foi cercada de expectativa. Além dos mostradores de combustível estarem praticamente no mesmo lugar (sequer apagou a primeira barrinha no caso do up!, com mostrador digital), os computadores de bordo de Ka e Fox revelavam médias animadoras. E não é que o campeão do ano passado levou a melhor? O Fox registrou 22,2 km/l, seguido de perto pelo up!, com 22 km/l cravados. Um pouco atrás, o Ka fechou a fila com ainda assim respeitáveis 20,9 km/l - lembrando de seu maior peso e pneus mais largos.
Feitos os reabastecimentos e as contas de consumo (km rodada dividida pelo combustível gasto), partimos para a segunda parte do teste: a volta para São Paulo, só que agora a 120 km/h - limite da estrada e velocidade na qual a maioria dos motoristas viaja na Castelo Branco. Impondo um ritmo mais forte, o Ford se destacou. "Nesta velocidade o Ka transmite maior segurança, é mais estável e tem a direção mais firme", comparou Ciszewski. Além disso, o modelo do oval azul utiliza uma relação de marcha mais longa, mantendo os 120 km/h com 3.750 rpm - Fox e up! ficam ao redor das 4 mil rpm, exigindo mais do motor.
O padrão foi o mesmo da ida, com trocas de motoristas e revezamento de posições entre os carros. Diferentemente do ano passado, porém, desta vez resolvemos encerrar o teste num posto um pouco mais distante da entrada de São Paulo, para evitar quaisquer problemas com congestionamentos. Deu tudo certo: rodamos praticamente 100 km e paramos para o abastecimento final. E desta vez quem brilhou foi o up!, conseguindo a média de 18 km/l, com o Fox um pouco mais atrás, registrando 17,6 km/l. O Ka manteve a terceira posição, mas agora mais próximo dos VW, com a média de 17,1 km/l.
Fazendo os cálculos para obter a média final das duas medições, temos um novo campeão para nossa prova de consumo: o up!, com exatamente 20 km/l. O Fox Bluemotion perdeu o reinado, mas veio logo atrás, com 19,9 km/l. Em conversa com a engenharia da VW, soubemos que, pelos testes internos da marca, o up! é realmente um pouco mais econômico que o Fox Bluemotion. Por fim, o Ka ficou com 19 km/l. A diferença de apenas 1 km/l entre o melhor e o "pior" do teste, além das médias na casa dos 20 km/l, evidencia o acerto de VW e Ford ao apostarem em seus modernos motores 1.0 de três cilindros. E olha que ainda há caminhos para melhorar, como a adoção do sistema start-stop (que reduz o consumo na cidade) e também a injeção direta, ainda não disponível em nenhum carro nacional - lembrando que o Focus é argentino.
Enquanto encerrávamos esta reportagem, uma notícia veio tornar mais difícil obter as médias que conseguimos no teste. O Senado aprovou o aumento da porcentagem de etanol na gasolina brasileira de 25% para 27,5%, ficando a decisão agora por conta presidente Dilma Rousseff. Caso seja aprovada a mudança, restará aos consumidores pressionar as autoridades para que o preço do etanol fique mais vantajoso em outras partes do país como é em São Paulo, por exemplo. Volte lá na foto de abertura do post e veja que o combustível vegetal custa R$ 1,999 no posto utilizado por nós, praticamente R$ 1 mais barato que a gasolina.
Preços dos carros avaliados:
Ford Ka SEL 1.0: R$ 39.990
VW Fox Bluemotion: R$ 37.690
VW take up! 4p: R$ 29.570
Por Equipe CARPLACE
Fotos Rafael Munhoz
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