A Honda não quer deixar espaço para a concorrência crescer. Basta ver que a marca da asa lançou nada menos que duas novas nakeds médias recentemente: a CB 500F e agora a CB 650F, sendo a primeira com motor bicilíndrico e pegada mais urbana, enquanto a segunda mira os apreciadores dos motores quatro cilindros e tocada mais esportiva. A CB 500 é bacana e surge como ótima opção para sair das street urbanas de até 300 cc, mas no nosso comparativo ela não deu conta de encarar a rival Kawasaki ER-6n, também bicilíndrica, mas com potência superior. Agora a CB 650F quer vingar a irmã menor e chama a ER-6n para um acerto de contas!
Como era de se esperar pelos cilindros extras, a Honda entrega mais potência: são 87 cv a 11.000 rpm contra 72,1 cv a 8.500 rpm da ER-6n, com a mesma cilindrada da rival. A Kawa, porém, faz valer sua configuração de dois cilindros com maior torque e numa rotação mais baixa: 6,5 kgfm a 7.000 rpm contra 6,4 kgfm a 8.000 da CB. Ou seja, diversão é o nome do meio destas duas motocicletas: ambas arrancam com vitalidade e exibem desempenho de sobra para o cotidiano urbano, com ligeira vantagem para a Honda.
Em termos de conforto ao pilotar, a Kawa proporciona uma condução mais agradável para pessoas de baixa estatura, com altura do assento de 805 mm (a Honda tem 810 mm) e melhor encaixe das pernas em volta do tanque de combustível. A ER também é mais fininha e ágil que a CB, sendo mais fácil de ser pilotada por inciantes. Além disso, a 6n é consideravelmente mais leve que a rival, com peso seco de 178 kg contra 194 kg da CB 650F (versões com ABS).
Equipada com garfo telescópico de 41 mm na suspensão dianteira, com 125 mm de curso, e traseira de 135 mm com monoamortecedor ajustável na pré-carga da mola, a Kawasaki se sente em casa no trânsito, superando com mais suavidade as irregularidades do asfalto, ainda que tenha o restante dos comandos um pouco mais pesados. Já a Honda tem esquema semelhante de suspensão (garfo telescópico convencional de 41 mm, com curso de 120mm e suspensão traseira monoamortecida de 128 mm ajustável), mas ela "sente" mais os pisos ruins e os repassa aos ocupantes. Para o garupa, a ER-6n é melhor: possui assento mais largo, com mais espuma e alças confortáveis de segurar. Na CB, o banco é inteiriço e tem densidade muito firme, além de não haver alça para o carona.
Se a cidade combina mais com a ER-6n, a estrada é o habitat da CB 650F. Ela faz valer sua potência extra e suspensão mais firme, de modo que ela acelera com mais vigor, retoma na frente da rival e ainda é mais fácil de apontar nas curvas, graças ao manejo leve do conjunto de um lado para o outro. Um ponto curioso na Honda, porém, fica para o "freio-motor": ao reduzir as marchas, o motor praticamente não segura a CB, sendo necessário ficar bem atento com a frenagem. Já na Kawasaki as reduções de marcha são mais controladas com o auxílio do motor de dois cilindros acoplado à uma relação mais curta.
Ambas as motos são tranquilas de se pilotar, se colocando como ótimas opções para quem quer subir de cilindrada para uma moto forte mas dócil, algo muito bom para os menos experientes. As trocas de marcha com a Honda, no entanto, mostram-se mais suaves que na Kawasaki. No quesito frenagem, os modelos testados contavam com freios ABS e transmitiram bastante segurança. A ER-6n traz disco duplo de 300 mm em formato margarida, pinça com pistão duplo na dianteira e disco simples de 220 mm em formato margarida. A CB 650 vem com disco duplo de 320 mm e duas pinças, na roda dianteira, e disco de 240 mm e uma pinça na roda traseira. Na dianteira, a medida dos pneus é a mesma (120/70ZR17), mas o pneu traseiro 180/55 ZR17M/C da CB garante maior estabilidade que o 160/60ZR17M/C da ER.
No visual a disputa é bastante acirrada. A CB 650F é bastante robusta, mas, por ser uma naked, ela até que ostenta bastante carenagem, chamando a atenção por onde passa - ajudada pela cor do time de competição da marca. Já a ER-6n é uma naked mais pura e agressiva, com desenho elevado do tanque e ângulos mais agudos nas extremidades, que expressam muita esportividade.
Nos punhos, a Kawasaki mantém o padrão da posição dos botões de seta, buzina e lampejador de farol alto. Na CB 650F, buzina e seta estão invertidas, ocasionando buzinadas indesejadas ocasionalmente, com o lampejador deixando a posição comum, quando é pressionado com o indicador esquerdo, e passando a ser utilizado com o polegar esquerdo. Uma confusão desnecessária.
O painel de instrumentos da Honda totalmente digital é completo e funcional, mas comparado ao da Kawasaki, com conta-giros analógico e agulha na cor azul, velocímetro e demais informações na parte de baixo, ele não encanta. Se na CB 650F prevaleceu o padrão europeu de medição de consumo médio, em l/100 km, na ER-6n é possível conferir as informações em km/l e ainda visualizar a luzinha “ECO” quando se pilota de forma econômica. Falando nisso, tanto o motor quatro cilindros da Honda quanto o dois cilindros da Kawasaki apresentaram consumo médio na faixa dos 22 km/l. Vantagem da CB é autonomia, pois tem tanque de combustível com capacidade para 17,3 litros, contra 16 litros da ER-6n.
Para chegar à uma conclusão a respeito dessa disputa de nakeds de média cilindrada, levamos em consideração praticidade, lazer e preços. A Kawasaki ER-6n baixou para R$ 26.390 (modelo 2014 com ABS; R$ 23.990, modelo 2013 sem ABS) e se mostra mais bem preparada para a rotina prática, no uso diário, sem deixar de lado as esticadas aos fins-de-semana na estrada. Já a Honda CB 650F parte de R$ 28.990 (R$ 31.190 com ABS e R$ 31.690 com ABS nas cores do Team HRC) também agrada no dia-a-dia e oferece uma pegada mais esportiva na estrada. Pode valer o custo extra se é potência que você procura.
Sentiu falta da Yamaha XJ6? Calma, ela não pode comparecer desta vez na versão naked, mas já marcamos o embate da versão F (carenada) contra a CBR 650F para breve. Fique ligado!
Por Alexandre Ciszewski
Fotos Rafael MunhozAgradecimento à BR Motorsport pelo empréstimo do capacete LS2 e equipamentos Race Tech
Ficha técnica – Honda CB 650F
Motor: quatro cilindros em linha, 16 válvulas, 649 cm3, duplo comando no cabeçote (DOHC), injeção eletrônica, gasolina; Potência: 87 cv a 11.000 rpm; Torque: 6,4 kgfm a 8.000 rpm; Transmissão: câmbio de seis marchas, transmissão por corrente; Quadro: dupla trave de aço tipo Diamond; Suspensão: garfos telescópicos convencionais (120 mm de curso) na dianteira e balança de alumínio monoamortecida na traseira (128 mm de curso); Freios: disco na dianteira (320 mm) e na traseira (240 mm), com ABS opcional; Rodas: alumínio aro 17″ com pneus 120/70 na dianteira e 180/55 na traseira; Peso (seco): 192 kg (194 kg com ABS); Capacidades: tanque 17,3 litros; Dimensões: comprimento 2.110 mm, largura 775 mm, altura 1.120 mm, altura do assento 810 mm, entre eixos 1.450 mm
Ficha técnica – Kawasaki ER-6n
Motor: dois cilindros em linha, 4 válvulas por cilindro, 649 cm3, injeção eletrônica, gasolina, refrigeração líquida; Potência: 72,1 cv a 8.500 rpm; Torque: 6,5 kgfm a 7.000 rpm; Transmissão: câmbio de seis marchas, transmissão por corrente; Quadro: tubos duplos de aço; Suspensão: garfo telescópico na dianteira (125 mm de curso) e balança monoamortecida (135 mm de curso) na traseira; Freios: disco duplo em formato margarida na dianteira (300 mm) e disco simples em formato margarida na traseira (220 mm), com ABS; Pneus: 120/70 aro 17 na dianteira e 160/60 aro 17 na traseira; Peso (ordem de marcha): 206 kg; Capacidades: tanque 16 litros; Dimensões: comprimento 2.110 mm, largura 770 mm, altura 1.110 mm, altura do assento 805 mm, entre eixos 1.410 mm
Galeria de fotos: Honda CB 650F e Kawasaki ER-6n:
Galeria: Garagem MOTO #3: Honda CB 650F encara Kawasaki ER-6n