O Linea nunca vendeu como a Fiat desejava. Entre as causas, vamos às mais prováveis: insistência da marca em não oferecer um câmbio automático de verdade em um carro que queria brigar no segmento médio (vide Civic e Corolla), além da única oferta de motor e com potência abaixo da média do segmento (132 cv contra 140-160 cv dos concorrentes). Mas agora a situação muda. Com a renovada linha 2015 e um posicionamento de mercado mais realista, o sedã da Fiat já não quer mais desafiar os reis do segmento. O preço (mais baixo) e oferta de equipamentos o deixa pronto para enfrentar os compactos premium de topo - aqueles que custam acima de R$ 50 mil, como por exemplo o Ford New Fiesta Sedan, o Chevrolet Sonic Sedan e o Honda City, que muda de geração em breve.
No começo importado da Coreia do Sul e agora do México, o Sonic foi o nosso escolhido para enfrentar o renovado Linea. Afinal, o City está para mudar e o Fiesta Sedan tem posicionamento mais jovem, sem foco no espaço. O GM apresenta qualidades como a boa construção geral, conjunto mecânico adequado ao carro e um eficiente câmbio de seis marchas, além do bom nível de conforto.
Sem novidades na linha 2015, o Sonic permanece com o visual de sempre. Não é unanimidade pelos faróis sem lentes na dianteira, mas tem equilíbrio nas formas e personalidade marcante. Uma fórmula um pouco difícil de acertar em sedãs compactos. Já o Linea tem mais classe e ficou melhor com os retoques da reestilização, com nova grade, rodas e tampa do porta-malas com a placa. Pode se dizer que ainda é um carro bonito e com "presença".
A vida a bordo é mais agradável no Fiat, mais recheado de mimos. Causam boa impressão os bancos que acomodam bem motorista e passageiros, além do novo painel. Console central e cluster (emprestados do Punto, não negando a origem) dão um aspecto mais jovial ao carro. Há pequenas rebarbas em alguns pontos, inclusive no painel (só os mais atentos vão notar), mas pelo menos a Fiat foi cuidadosa no acabamento das portas, com um grande aplique revestido de couro, e na escolha das cores do interior.
Na lista de série o Linea Essenca traz regulagem elétrica dos faróis, freios a disco nas quatro rodas, ar condicionado manual, controle de cruzeiro e vidros elétricos nas quatro portas com função "um toque" para todos. A unidade testada veio com pacotes de opcionais que adicionam, entre outras coisas, saída de ar para o banco traseiro, acabamento mais refinado com detalhes em black piano, sensor de estacionamento, rodas de liga leve aro 17", airbags laterais e de cortina, e sistema de navegação integrado ao Blue&Me com visualização no cluster. Durante à noite, a nova iluminação na cor branca contribui com o refinamento do carro.
O Chevrolet, por sua vez, é ergonômico e tem montagem cuidadosa, mas o acabamento é menos vistoso aos olhos, seja pelas portas de plástico pobre ou pelo painel mais "limpo", com o pequeno cluster que abriga conta-giros, velocímetro digital e computador de bordo (que oferece ótima leitura, diga-se de passagem). Possui também o sistema de entretenimento MyLink, mas ainda sem navegação GPS - só disponível do Cruze para cima. Na lista de série ele traz ar condicionado manual, freios a disco nas quatro rodas, sensor de chuva, rodas de liga leve aro 16", controle de cruzeiro e sensor de estacionamento traseiro.
O espaço interno, principalmente no banco traseiro, é melhor no Linea, mas não decepciona no Sonic. Ambos os sedãs testados tinham bancos com revestimento em couro, que ampliam a boa sensação a bordo. No porta-malas, nova vantagem é do Fiat: 500 litros de capacidade e braços pantográficos na tampa (item raro até em carros mais caros), mas o Chevrolet não fica muito atrás, abrigando bons 477 litros.
Feito sobre uma plataforma moderna (a mesma GSV usada pelo Cobalt, Onix e Prisma), o Sonic agrada ao volante. Tem um rodar controlado, apesar de um pouco duro em pisos irregulares, e na estrada viaja bem assentado, passa segurança e apresenta ótima estabilidade. O motor Ecotec 1.6 16V com comando variável atende bem na cidade, é esperto nas arrancadas e também não decepciona na estrada. Já o câmbio automático oferece a vantagem da sexta marcha, que permite viajar a 120 km/h abaixo dos 3.000 rpm - o que deixa a cabine mais silenciosa. Fora isso, agradou pelas trocas suaves e decididas, se destacando como um dos pontos positivos do carro. Entrosa melhor com o Ecotec 1.6 do que com o 1.4 de Onix e Prisma.
Confortável e estável ao mesmo tempo, o Linea tem acerto de suspensão mais caprichado que o do Sonic - principalmente em pisos ruins. O motor E-TorQ 1.8 16V sugere que o desempenho seja superior, mas não foi o que vimos nos testes. Graças ao bom torque em baixa, ele é suficiente, mas o câmbio Dualogic é um tanto lento nas trocas. Se andar devagar faz as trocas próximo dos 2.500 rpm, mas se pisar fundo dá os incômodos soluços. Além disso, há situações bem irritantes (não só com o Dualogic, mas outros automatizados também), como em ladeiras na redução da 2ª para 1ª marcha. O Linea dá um longo soluço e demora a acoplar a marcha, dando a impressão que o carro vai até voltar para trás. No fim das contas, você acaba usando bastante as trocas manuais.
Na estrada o Fiat também se revela um carro gostoso de dirigir. É bem assentado, confortável e com nível de ruído aceitável a 120 km/h - embora dê pra perceber um pouco da vibração do motor, áspero em altas rotações. Ponto positivo são as borboletas para as trocas manuais atrás do volante, que o Sonic não tem. Ambos oferecem o modo Sport, para trocas mais esportivas.
Carros de motores e transmissões diferentes, mas com consumo não tão distante assim. Na cidade o Linea fez 6,5 km/l e o Sonic 6,8 km/l, sempre com etanol. Na estrada os resultados foram 9,4 km/l e 9,7 km/l respectivamente (medidos a 120 km/h). Rodando entre 90 e 100 km/h, usual na maioria das estradas, o Fiat marcou 10,4 km/l e o Chevrolet chegou a 11,0 km/l.
Na hora de fechar a conta, o Linea leva vantagem pelo estilo, conforto e acabamento interno mais vistoso. Além disso, é bom de dirigir. Mas peca pelo câmbio Dualogic, que prejudica o desempenho do motor 1.8. Nesse caso, a versão com câmbio manual é uma opção mais interessante, embora a Fiat saiba que neste segmento a maioria das vendas é concentrada em modelos automáticos.
O Sonic, embora compacto, também é bom ao volante e não parece um carro de segmento inferior ao Linea. Nem pelo desempenho, nem pelo comportamento dinâmico, apesar de ser mais rude nos buracos. Falta uma direção elétrica (que o Linea também não tem), pois carros com proposta de conforto como eles não combinam com o volante pesado que apresentam.
Confira os preços das versões testadas:Fiat Linea Essence Dualogic: R$ 55.850 (preço básico) / kit emotion plus R$ 4.066 / kit dualogic plus R$ 3.390 (câmbio dualogic plus + borboletas atrás do volante) / kit blue&me nav R$ 2.633 / kit side bags + window bags R$ 2.859 = preço final testado: R$ 68.798
Chevrolet Sonic Sedan LTZ Automático: R$ 60.990 (preço básico) - sem opcionais.
Com melhor casamento entre motor e câmbio, sem ficar muito aquém nos demais itens (conforto e espaço), o Sonic se revelou mais interessante entre os modelos avaliados. O Linea é um carro maduro, bem mais equipado e evoluiu com a atualização, mas é preciso atenção com a lista de opcionais para não deixá-lo muito caro. Mesmo sendo maior, o que em tese lhe daria certa vantagem sobre o Chevrolet, o Fiat é mais competitivo na versão manual.
Por Julio Cesar
Fotos Diogo DiasFicha Técnica - Fiat Linea EssenceMotor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.747 cm3, comando simples, flex; Potência: 130/132 cv a 5.250 rpm; Torque: 18,4/18,9 kgfm a 4.500 rpm; Transmissão: câmbio automatizado de cinco marchas, tração dianteira; Direção: hidráulica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira; Freios: disco ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS; Rodas: liga leve aro 17″ com pneus 205/45 R17 Peso: 1.325 kg; Capacidades: porta-malas 500 litros, tanque 60 litros; Dimensões: comprimento 4.560 mm, largura 1.730 mm, altura 1.505 mm, entreeixos 2.603 mm
Medições CARPLACEAceleração
0 a 60 km/h: 5,6 s
0 a 80 km/h: 8,3 s
0 a 100 km/h: 12,7 s
Retomada
40 a 100 km/h em S: 9,7 s
80 a 120 km/h em S: 9,2 s
Frenagem
100 km/h a 0: 42,5 m
80 km/h a 0: 26,1 m
60 km/h a 0: 14,8 m
Consumo
Ciclo cidade: 6,5 km/l
Ciclo estrada: 9,4 km/l
Números do fabricante
Aceleração 0 a 100 km/h: -
Consumo cidade: -
Consumo estrada: -
Velocidade máxima: -
Ficha Técnica - Chevrolet Sonic Sedan LTZMotor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, flex, 1.598 cm3; Potência: 116/120 cv a 6.000 rpm Torque: 15,8/16,3 kgfm a 4.000 rpmTransmissão: câmbio automático de seis marchas, tração dianteira; Direção: hidráulica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e eixo de torção com roda tipo semi-independente e molas helicoidal na traseira; Freios: disco ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS; Rodas: liga leve aro 16" com pneus 205/55 R16 Peso: 1.239 kg; Capacidades: porta-malas 477 litros, tanque 46 litros; Dimensões: comprimento 4.399 mm, largura 1.735 mm, altura 1.517 mm, entreeixos 2.525 mm
Medições CARPLACEAceleração
0 a 60 km/h: 5,3 s
0 a 80 km/h: 8,4 s
0 a 100 km/h: 12,2 s
Retomada
40 a 100 km/h em D: 9,3 s
80 a 120 km/h em D: 9,5 s
Frenagem
100 km/h a 0: 40,4 m
80 km/h a 0: 25,0 m
60 km/h a 0: 14,0 m
Consumo
Ciclo cidade: 6,8 km/l
Ciclo estrada: 9,7 km/l
Números do fabricante
Aceleração 0 a 100 km/h: -
Consumo cidade: -
Consumo estrada: -
Velocidade máxima: -
Galeria de fotos
Galeria: Teste CARPLACE: Linea baixa a bola e chama Sonic para a briga