Avaliação: Harley-Davidson Iron 883 numa bucólica viagem ao passado
Avaliação: Harley-Davidson Iron 883 numa bucólica viagem ao passado
Dizem que quando crescemos continuamos as mesmas crianças, o que muda é o tamanho e o preço dos nossos brinquedos. Para utilizá-los, imaginamos o cenário e nos transportamos ou vamos a ele, seja praia, piscina ou montanhas. Bom, hoje estou dono de uma Harley-Davidson Iron 883 bege (Sand Cammo/Denim) modelo 2014 com exatos 4.696 km, linda. Como o dia é de sol e sem previsão de chuva, considero uma ida à São Francisco Xavier, uma pequena vila situada na Serra da Mantiqueira, cujo caminho é mais um dos belos playgrounds que o Estado de São Paulo oferece para passeios de moto. Com o tanque cheio, pneus calibrados, check list ok, tudo funcionando, hodômetro parcial zerado, piloto equipado para o frio e, por precaução levando uma mochila com impermeável. Sim, na mochila, pois esta Harley tem apenas o banco do piloto e nada mais. Dou a partida com a chave no bolso (chave de presença) e pego a Avenida 23 de Maiona hora do almoço. Para facilitar a passagem entre os carros me posiciono para frente no banco, mas logo escorrego e percebo que, se eu fosse realmente o dono da moto, teria que passar no Fit Shop da Harley-Davidson para realizar os ajustes possíveis. Como não sou, logo me acostumo com a situação e vou em frente.
Medindo 830 mm de largura, cerca de 100 mm a mais que uma CG, a Iron, considerando seu esterço como intermediário entre uma naked e uma trail, passa com facilidade entre os carros e em pouco tempo já estou acessando a Rodovia Ayrton Senna rumo a São José dos Campos. Com o motor já aquecido, resolvo parar para observar a marcha lenta, que agora oscila entre 870 e 1.030 rpm, e prossigo observando a rotação: a 80 km/h é de 2.500 rpm, a 100 km/h é de 3.200 rpm e a 120 km/h o conta-giros marca 3.800 rpm - sempre em quinta marcha. O comportamento da Iron 883 é impecável, tanto pelo ronco agradável como pela pouca vibração. A posição de pilotagem nos convida realmente a passear, mas agora noto que, além do banco, precisaria ajustar o guidão para meu tamanho. Nas ultrapassagens e saídas de pedágios, a moto responde rápido. Isso graças ao bom torque de 6,7 kgfm a 3.750 rpm. A troca de marchas é suave e precisa, ainda que barulhenta. Já o ponto neutro dá trabalho: mesmo treinando bastante durante o percurso, tive mais erros que acertos. Neste trecho de pista dupla, curvas suaves e ótimo asfalto, fui praticamente o tempo todo a 120 km/h, o que para mim parece ser a velocidade ideal para a Iron. Pouco antes das 14h faço o primeiro abastecimento e medição: 108,2 km rodados com 6,85 litros, o que dá um consumo médio de 15,8 km/l.
Logo após o posto, pego a saída para a Rodovia Tamoios (SP-99) e em poucos minutos entro em São José dos Campos, onde já começo a ver as placas indicativas de São Francisco Xavier e Monteiro Lobato. Aí foi só seguir as setas e em pouco tempo estava na SP-050, Rodovia Monteiro Lobato: agora sim, uma estrada sinuosa de mão dupla e com o asfalto em ótimas condições, tanto que decido mudar o destino para Santo Antonio do Pinhal, município considerado estância climática na região do Vale do Paraíba, para rodar e curtir mais. Como a Iron possui limitadores de inclinação nas pedaleiras, decido aproveitar a largura total da minha pista, inclinando menos mas sem perder o pique, alternando entre a terceira e quarta marcha a uns 3.300 rpm. Puro prazer: a posição baixa de pilotagem e a velocidade moderada permite contornar as curvas com segurança e firmeza, e a brincadeira passa a ser não deixar raspar a pedaleira, o que consegui em 90% do percurso de 94 km até o destino, parando algumas vezes para apreciar a paisagem.
A Iron tem origem na década de 1950 e, como um Porsche 911, veio sendo atualizada ao longo dos anos sem perder seu DNA. Com ângulo de inclinação de 30,5° e trail de 117 mm, caracterizando seu estilo "chopper", ela possui chassi tubular de berço duplo com reforços em cada união, suspensão dianteira com garfos telescópicos (curso de 92 mm) e duplos amortecedores (41 mm de curso) na traseira, que condizem com o estilo da moto. Completam o belo visual o motor preto com detalhes na cor prata e cromados incluindo o duplo escapamento. As rodas com 13 raios em liga de alumínio na cor preta com detalhes em cinza são de aro 19" na dianteira e 16" na traseira.
O motor que equipa esta HD é um dois cilindros Evolution V-Twin com 883 cm³ de cilindrada e potência não declarada pela fabricante, montado sobre coxins de borracha. A transmissão é de cinco marchas, com correia para transmissão à roda, formando um conjunto que prioriza torque e durabilidade.
Apesar do estilo clássico, a Iron tem freios com ABS, trazendo disco simples de duplo pistão na dianteira e na traseira, capazes de parar a motocicleta de forma progressiva. O painel é minimalista, composto de uma base com velocímetro analógico e luzes indicadoras de farol alto, ponto neutro, baixa pressão de óleo, piscas, diagnóstico do motor, alerta de baixo nível de combustível, bateria fraca e sistema de segurança, tudo em LED. O velocímetro possui ainda um pequeno visor digital que, por meio de um botão, alterna as informações de hodômetro total, parcial A e B, relógio, indicador de marchas e rotações do motor.
Os comandos da Iron estão bem posicionados e são de fácil acionamento. No lado direito ficam três botões que concentram corta-corrente, partida, seta direita e pisca alerta. No lado esquerdo também aparecem três botões, com as funções de lampejar e acender o farol alto, buzina e seta esquerda. Uma particularidade desta moto é a sua lanterna traseira dupla, mas embutida nas setas: isso é Harley-Davidson! Quase às 16h, já em Santo Antônio do Pinhal, uma parada no posto para dois abastecimentos: moto e piloto. Nestes 94 km, com trechos de subida, o consumo médio apresentado ficou em 26 km/l. É provável que esta média tenha sido conseguida por ter mantido uma velocidade constante e também pela estrada vazia. Para o meu abastecimento, escolho a estação de trem Lefèvre, da estrada que liga Pindamonhangaba a Campos do Jordão, situada na entrada de Santo Antônio, onde está o mirante de Nossa Senhora Auxiliadora - um belo lugar para estar e lanchar.
Por volta das 17h30, retorno ao playground para mais uma hora da mesma diversão da subida, agora com o farol ligado (que por sinal é mais que suficiente). Já em são José dos Campos, volto à realidade do transito intenso (o parque também tem fila para entrar nos brinquedos, não?) até mais um abastecimento na entrada da Carvalho Pinto: 102,7 km rodados com 5,53 litros de combustível e média de 18,6 km/l. Na volta a São Paulo, mantenho uma média de 100 Km/h, raramente acionando o farol alto, e a sensação que tenho ao chegar, quase às 21h, no posto próximo de casa para o abastecimento final, é uma mistura de paz e alegria. Neste trecho de 110 km o consumo ficou em 25,6 km/l, e para os 415 km totais percorridos foram 20,4 km/l. O que concluo? A praia da Harley-Davidson Iron 883 não é trânsito e nem giro alto do motor, podendo compará-la com um traje "Casual Day”, que combina perfeitamente com seu estilo e proposta. Uma roupa de marca, claro, cuja etiqueta estampa um preço de R$ 34.100. Texto e fotos: Eduardo Silveira
Ficha técnica - Harley-Davidson Iron 883
Motor: dois cilindros em V, 4 válvulas, 883 cm3, injeção eletrônica, refrigeração a ar; gasolina Potência: Não declarada; Torque: 6,7 kgfm a 3.750 rpm; Transmissão: câmbio de cinco marchas, transmissão por corrente; Quadro: estrutura tubular de aço; Suspensão: garfo telescópico na dianteira (92 mm de curso) e biamortecida na traseira (54 mm de curso); Freios: disco duplo na dianteira e simples na traseira, com ABS; Rodas: aro 19" com pneu 100/90 na dianteira e aro 16" com pneu 150/80 na traseira; Peso: 260 kg (em ordem de marcha); Capacidades: tanque 12,5 litros; Dimensões: comprimento 2.255 mm, largura N/D, altura N/D, altura do assento 735 mm, entre-eixos 1.510 mm
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