Pode parecer besteira, mas repare na imagem dos comandos dos vidros elétricos do novo Mercedes Classe C. Nada de simples teclas plásticas. São botões metalizados, de aparência refinadíssima, e que ainda têm um toque extremamente agradável (perdi a conta de quantas vezes fiquei baixando e subindo a janela só pra testá-los). Segundo a marca, são os mesmos componentes usados no Classe S, o sedã topo de linha da empresa. Pode parecer besteira (novamente), mas quando puder passe numa revenda Mercedes e abra as portas do C 2015. Elas são de alumínio, impressionantemente leves de manusear, e nem por isso deixam de emitir aquele som abafado que transmite qualidade ao fechá-las. São detalhes, caro leitor, mas que numa categoria com nomes como BMW Série 3 e Audi A4 podem fazer a diferença na hora de escolher entre um ou outro. Sem falar que a Mercedes acertou a mão no design do novo sedã: o carro é belíssimo!
O que é?
O Classe C 2015 (código W205) representa a quinta geração dos sedãs compactos da marca, que nasceu em 1982 com a clássica 190 E. Desta vez, porém, a mudança de ciclo foi provavelmente a mais radical desde que o modelo passou a ser chamado de "C Class", em 1993, com a geração W202. O design bebeu na fonte da nova Classe S e mantém, ao mesmo tempo, uma personalidade muito típica da Mercedes. Mesmo sem olhar a estrela incrustada na grade (para o Brasil não virão modelos com a estrela acima do capô), o novo carro é facilmente identificável como um sedã da marca de Sttutgart. As linhas fluidas garantem ainda um excelente coeficiente aerodinâmico de 0,24, o melhor da categoria.
À primeira vista, surpreende o porte superior do novo C - que chega a lembrar um Classe E. Por conta da estreia do CLA, inédita versão três-volumes do Classe A, a Mercedes precisou colocar fermento na receita do Classe C para deixar clara a diferenciação entre os modelos. Acabou que o W205 ficou 10 cm mais longo que o anterior, além de ter 8 cm a mais de entre-eixos e 4 cm extras de largura. O resultado em termos visuais é arrebatador, mas confesso que temi por uma perda de agilidade ao dirigir.
Apesar do incremento de tamanho, o espaço interno não impacta para um sedã com 2,84 m de entre-eixos. Repare que o capô é bastante longo e a cabine foi recuada, de modo que os ocupantes do banco traseiro não foram tão beneficiados assim. Um ocupante de até 1,80 m não vai passar aperto, mas o teto rebaixado (dá-lhe design!) já fica um pouco próximo da cabeça. O lugar do meio também é atrapalhado pelo túnel da transmissão que atravessa a cabine, fazendo do C ideal para apenas quatro pessoas. A tampa traseira rebaixada não chegou a prejudicar a capacidade do porta-malas, com bons 480 litros disponíveis.
Nada chama mais atenção neste carro, no entanto, do que o refinamento do acabamento e da construção. Faróis e lanternas parecem joias de tão trabalhados internamente, só com luzes de LEDs - sendo que na versão C250 temos facho alto automático (que baixa quando vem carro no sentido contrário) e luzes direcionais. Mesmo uma profunda pesquisa na cabine não revela plásticos de menor qualidade, tudo parece feito para agradar à vista e ao tato. Do couro macio dos bancos às teclas dos vidros elétricos (lembra delas?), o Classe C assume facilmente a ponta da categoria neste sentido.
Estamos no C250, versão topo de linha neste primeiro momento - depois haverá um V6, ainda sem data definida de lançamento - que impressiona com seu acabamento em tom escuro e volante esportivo de base reta. Alguns anacronismos da antiga geração foram finalmente resolvidos, como a substituição do freio de estacionamento no pé por um sistema eletrônico, acionado por um simples botão. Também diminuíram a alavanca de acionamento do "piloto automático", de forma que agora você não aciona o sistema involuntariamente quando vai ligar a seta. A posição de dirigir está mais esportiva e o volante, mais centralizado. Basta apenas se acostumar com a alavanca de câmbio na coluna de direção, como no Classe A. O espaço onde ela normalmente ficaria, no console central, foi aproveitado com um grande porta-objetos.
Outra atração é o sistema touchpad para comandar a central multimídia. Trata-se de uma espécie de mouse com a parte superior sensível ao toque, onde você pode escrever números e letras para fazer uma chamada ou entrar com um endereço no GPS, por exemplo. Como no Classe A, a tela da central tem formato semelhante a um iPad (embora não seja sensível ao toque), medindo 7" nas versões de entrada e 8,4" na C250.
Mesmo na versão de entrada C180 Avantgarde, que tive a oportunidade de fuçar depois, o interior faz ótima figura com acabamento em black piano no painel central e metalizado numa faixa que atravessa o painel até as portas. Uma novidade é a opção da C180 Exclusive, uma versão, digamos, "tiozinho" do novo carro. Ela vem com acabamento de madeira, relógio analógico no painel e revestimento em dois tons. Em todos, incluindo o C250 Sport que vamos acelerar agora, o único ponto a se questionar fica para o grafismo do quadro de instrumentos, de aparência mais simples do que antes.
Como anda?
Construído sobre uma nova plataforma, o C 2015 traz novidades como o motor 2.0 turbo em duas configurações (184 cv no C200 ou 211 cv no C250), além de assistência elétrica da direção, pela primeira vez. Modificação mais importante ainda é o uso de alumínio em quase 50% da estrutura do carro, como suspensões, capô, tampa do porta-malas e portas (por isso a leveza citada no começo). Foi uma medida que reduziu o peso do sedã em 60 kg, apesar das dimensões externas maiores, com benefícios na eficiência do modelo.
Assim, minha preocupação com a perda de agilidade foi embora logo nos primeiros quilômetros do test-drive. O Classe C nunca foi tão bom de dirigir! A última geração já havia dado um passo em direção à esportividade, mas o carro de agora vai além. A leveza e precisão da direção elétrica impressionam bem, mas é a suspensão finamente calibrada (mesmo nesta versão Sport) que mais chama a atenção. Ela é firme, mais até que a do BMW 328i, só que amortece os impactos de forma bem mais eficiente, sem pancadas secas. Nas versões C180 e C200, o resultado de conforto deve ser até melhor, pois além das rodas aro 17" (são 18" nesta C250), os amortecedores variam sua rigidez automaticamente de acordo com o piso. Já a C250 os mantém sempre mais firmes, devido à conotação mais esportiva do modelo.
O sistema Agility permite alterar parâmetros como peso da direção, atuação do sistema start-stop, intensidade do ar-condicionado (para condução econômica) e também a resposta de motor e câmbio. São cinco modos: Eco, Comfort, Sport e Sport +, além do Individual, que permite andar com a direção mais firme e o câmbio em modo confortável, por exemplo. Nem preciso dizer que o mais legal é o Sport +, colocando os 211 cv e os 35,7 kgfm do bloco "dois zero" turbo para trabalhar, orquestrado pelas trocas de marcha manuais nas borboletas no volante. Como esperado para um sedã desta cavalaria e peso, o C250 responde rápido ao acelerador e viaja soberbo em velocidades germânicas, sem sentirmos falta de potência extra. Comparado ao rival 328i Active Flex, porém, o BMW oferece mais "punch" nas acelerações e retomadas, não só pelos seus 245 cv como também pela transmissão de oito marchas.
O Classe C traz uma atualização do câmbio 7 G-Tronic de sete marchas, com um novo conversor de torque com menor deslizamento. As trocas continuam bastante suaves (bem melhor que o de dupla embreagem do Classe A), mas agora ficaram mais espertas numa condução animada. Aliás, o C250 pareceu divertido de ser tocado mais agressivamente. A firmeza do conjunto dá confiança para entrar mais forte nas curvas, enquanto a direção está mais rápida e a tração traseira dá o ar da graça nas saídas de curva, com aquela leve abanada de rabo que tanto agrada aos entusiastas. Dá para desafiar o Série 3? Ainda é cedo para dizer, pois a maioria do test-drive foi feito em estradas retas. Mas ficamos com boa impressão do Mercedes numas alças de rodovia feitas com menos juízo...
Quanto custa?
Avaliar a evolução do Classe C por este 250 Sport é fácil, mas também não parece muito justo. Afinal, a versão que vai vender de fato é a C180, que mantém o motor 1.6 turbo de 156 cv. Parada, ela encanta apesar da falta de alguns equipamentos: os bancos têm ajustes manuais, não há teto-solar ou sequer sensores de estacionamento traseiro. Pelo menos temos GPS, faróis Full LED e o touchpad. O preço de R$ 138.900 vale tanto para a versão Avantgarde quanto para a Exclusive, sendo que a primeira representará a maioria esmagadora das vendas. Na comparação, o BMW 320i Active Flex custa de R$ 134.950 a R$ 164.950, dependendo da versão e equipamentos.
Na sequência vem aquele que acreditamos ser o mais equilibrado dos C, tanto em termos de motor quanto de equipamentos e preço. Por R$ 154.900, o C200 adiciona o 2.0 turbo de 184 cv, teto-solar, bancos elétricos com memória e o sistema Active Park Assist. A novidade do recurso é que, além de medir a vaga e esterçar o volante, ele também controla o acelerador e o freio automaticamente. Ou seja, você não precisa fazer mais nada na hora de estacionar, e mesmo quando for sair da vaga, o que ele também faz sozinho.
Por fim, o C250 Sport acrescenta o motor 2.0 de 211 cv, os faróis que viram nas curvas e têm facho alto automático, além das rodas aro 18" da AMG e o sistema Comand de entretenimento, com tela de 8,4" contra 7" das demais versões. Custa R$ 189.900, o que lhe dá alguma vantagem sobre os R$ 203.950 cobrados pela BMW no 328i.
Uma novidade importante para quem deseja um Mercedes, mas tem receio do custo de manutenção é que, a partir do novo Classe C, a marca inaugura um plano de revisões com preço fixo. Segundo a empresa, o intervalo das revisões aumentou de 8 mil para 10 mil km, com custo de R$ 750 na de 10 mil km, R$ 1.450 na de 20 mil km e novamente R$ 750 na de 30 mil km. O plano faz parte da preparação da Mercedes para voltar a ter veículos de passeio produzidos no Brasil, o que acontecerá em 2016 justamente com este novo Classe C na fábrica que está sendo construída em Iracemápolis, interior de São Paulo.
E aí fica a pergunta: há chances de o Classe C brasileiro custar menos que o importado? Segundo o gerente de vendas da Mercedes, Dirlei Dias, esta é uma hipótese remota. "Fazer o carro aqui não o torna mais barato, mas pode haver uma versão menos equipada como modelo de entrada". Junto com a nacionalização virá também a versão flex do motor 1.6 turbo, que está em desenvolvimento na Alemanha.
Por Daniel Messeder, de Campinas (SP)
Fotos DivulgaçãoMercedes C250 SportMotor: dianteiro, longitudinal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.991 cm3, comando duplo variável, turbo, injeção direta, gasolina ; Potência: 211 cv a 5.500 rpm; Torque: 35,7 kgfm de 1.200 a 4.000 rpm; Transmissão: câmbio automático de sete marchas, tração traseira; Direção: elétrica; Suspensão: independente tipo four-link na dianteira e multilink na traseira; Freios: discos ventilados na frente e sólidos atrás, com ABS; Rodas: liga-leve aro 18" com pneus 225/45 R18; Peso: 1.480 kg; Capacidades: porta-malas 480 litros, tanque 66 litros; Dimensões: comprimento 4.680 mm, largura 1.810 mm, altura 1.440 mm, entreeixos 2.840 mm; Desempenho: aceleração 0 a 100 km/h em 6,6 s e velocidade máxima de 250 km/h (limitada)
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