"Nós erramos", admitiu o diretor comercial da Fiat Lélio Ramos ao falar sobre o posicionamento do Linea na época do lançamento, em 2008. De fato, ao querer encarar os medalhões Civic e Corolla, o sedã da marca italiana não teve chance. Mas o tempo e os consumidores trataram de colocar o modelo em seu devido lugar no mercado. Dos R$ 61 mil iniciais, o preço caiu para ao redor dos R$ 54 mil na tabela (chegou a ser encontrado abaixo de R$ 50 mil nas lojas) e as vendas chegaram até a razoável cifra de 14 mil unidades/ano. Lição aprendida, o discurso mudou completamente na apresentação do Linea 2015, se comparado ao de cinco anos atrás. Com preço a partir de R$ 55.850, a meta agora é brigar com Ford New Fiesta Sedan, Honda City (que muda logo) e Chevrolet Sonic Sedan, podendo beliscar clientes dos sedãs médios de entrada.
O que é?Sabe a mudança de meia vida do Punto? Pois é, ela chegou ao Linea. Mudam para-choques, grade, desenho de rodas e, na traseira, a placa subiu para a tampa do porta-malas. Como visual nunca foi o problema do sedã, as alterações chegam apenas para dar um ar de novidade, sem alterar muita coisa de fato - destaque para as rodas aro 17" com desenho do tipo turbina, opcionais na versão Essence e de série na Absolute. Internamente o painel segue o do hatch, com linhas mais suaves e modernas. A diferença fica por conta do acabamento exclusivo, na cor bege ou marrom, que reveste a faixa horizontal no painel e as laterais de porta. Ainda assim, é possível encontrar algumas rebarbas em peças plásticas. Intrigante é que a Fiat insiste em separar Linea e Punto como se fossem carros absolutamente distintos, quando na verdade um tem a plataforma alongada do outro e a comunização de componentes fica clara até para leigos.
A marca diz ter feito alterações na suspensão, de modo a filtrar melhor imperfeições do piso e vibrações do conjunto mecânico. Em termos de motor e câmbio, nada muda: segue o E-torQ 1.8 16V de 132 cv e 18,9 kgfm de torque acoplado à caixa manual de cinco marchas ou automatizada Dualogic Plus também de cinco velocidades (que equipa 50% dos Linea). O elogiado 1.4 16V turbo de 152 cv, que animava a versão T-Jet quando o Linea estreou, foi abandonado de vez. Uma pena, visto que este propulsor dava outro temperamento ao sedã e, nesses cinco anos, poderia ter sido nacionalizado e virado flex. Mas pelo visto os custos falaram mais alto.
As novidades no tocante a equipamentos se resumem a comando de seta rápido (com um leve toque ela pisca cinco vezes), sensor de estacionamento com gráfico de distância (opcional), luz de freio com acionamento do pisca em paradas de emergência e comandos do som no volante desde a versão de entrada. O melhor gadget é acessório: uma central multimídia com tela de 4,3" que inclui GPS, TV Digital e entrada USB - vendida a cerca de R$ 3,5 mil nas concessionárias. Sem ela, o GPS oferecido como opcional é aquele do sistema Blue&Me, com indicações numa pequena janela digital no quadro de instrumentos. Outro acessório interessante é o retrovisor interno com câmera de ré, oferecido com a grife Mopar.
Como anda?Melhor por dentro e por fora, o Linea é o mesmo ao volante. Ao ajustar a posição de dirigir, fica claro que o sedã tem porte inferior ao dos legítimos sedãs médios - não em comprimento, mas principalmente em largura. Os bancos dianteiros ficam bem mais próximos entre si do que num Civic ou Corolla (que comparamos há pouco tempo e estão "frescos" na memória), além de o assento ser mais estreito e curto. Atrás, o espaço é bom para as pernas, mas nem tanto para a cabeça e o ocupante do meio. Já o porta-malas é exemplar: com generosos 500 litros de capacidade, traz braços pantográficos (que estão se tornando raros) e tampa com forração completa.
Escolhemos a versão top de linha Absolute para o test-drive da capital paulista até Riviera de São Lourenço, no litoral norte do Estado. Equipado exclusivamente com câmbio Dualogic, o modelo agrada pelo painel na cor clara e a forração de couro nos bancos com o nome do carro perfurado. A posição de guiar é esportiva e o volante encaixa bem nas mãos, como no Punto.
Passada a boa impressão com a cabine redesenhada, encontramos o Linea de sempre. A suspensão é bem calibrada entre conforto e estabilidade (não notamos diferença com a mudança que a Fiat efetuou), a direção hidráulica é rápida e precisa (embora pesada nas manobras) e o E-torQ 1.8 16V garante desempenho satisfatório. Mas não espere o refinamento encontrado nos rivais do "andar de cima". A 120 km/h em quinta marcha, o motor gira a elevadas 3.500 rpm e os ruídos, tanto do propulsor quanto de vento e rodagem, passam a incomodar.
Mas a maior reclamação fica mesmo para a transmissão Dualogic. O sistema padece de ter apenas uma embreagem e, por melhor que esteja na comparação com as primeiras versões, ainda está longe da suavidade e rapidez de trocas de um bom câmbio automático (GF6 do Sonic Sedan) ou de dupla embreagem (Powershift do New Fiesta Sedan), além de ter uma marcha a menos - são seis nestes rivais. Para dirigir o Fiat sem "cabeçadas", só optando pelo modo manual (que agora pode ser operado por meio de borboletas na direção) e aliviando o acelerador durante as trocas.
Quanto custa?
Para quem precisa de espaço e não quer gastar muito, o Linea Essence manual pode ser boa pedida. A R$ 55.850 iniciais, vem com volante de couro com comandos para o áudio, regulagem elétrica dos faróis, airbags frontais, freios ABS, computador de bordo, faróis de neblina, apoia-braço central traseiro, controlador automático de velocidade, rádio CD com MP3 e entrada USB, ar-condicionado e rodas de liga leve aro 15". Opcionais incluem câmbio Dualogic (total de R$ 59.240), ar digital, sensor de estacionamento traseiro com visualizador gráfico, sensores de chuva e crepuscular + retrovisor interno eletrocrômico, saída de ar para o banco traseiro, bancos de couro, Blue&Me ou Blue&Me Nav, rodas de liga aro 16" ou 17" e airbags laterais e de cortina.
Em vez de rechear o Essence, o consumidor pode optar pelo Absolute, que já traz o Dualogic com borboletas, sensor de estacionamento, ar digital, couro, Blue&Me, cortina para-sol no vidro traseiro e rodas aro 17". Só que aí voltamos à velha dificuldade do Linea. A R$ 66.450, sem contar os opcionais, o sedã da Fiat volta a entrar na seara de C4 Lounge, Sentra, Civic, Corolla...
Por Daniel Messeder, de Riviera de São Lourenço (SP)
Fotos DivulgaçãoFicha técnica - Fiat Linea AbsoluteMotor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.747 cm3, comando simples, flex; Potência: 130/132 cv a 5.250 rpm; Torque: 18,4/18,9 kgfm a 4.500 rpm; Transmissão: câmbio automatizado de cinco marchas, tração dianteira; Direção: hidráulica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira; Freios: disco ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS; Rodas: liga leve aro 17" com pneus 205/45 R17 Peso: 1.325 kg; Capacidades: porta-malas 500 litros, tanque 60 litros; Dimensões: comprimento 4.560 mm, largura 1.730 mm, altura 1.505 mm, entreeixos 2.603 mm
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