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Nissan Leaf na praça: a divertida rotina de dirigir um táxi elétrico no Brasil

Nissan Leaf na praça: a divertida rotina de dirigir um táxi elétrico no Brasil

Nissan Leaf na praça: a divertida rotina de dirigir um táxi elétrico no Brasil
"Virei celebridade! Agora tenho que andar ligado o tempo todo, porque se eu parar o carro em cima da faixa de pedestre ou fizer alguma besteira no trânsito vou parar na hora no Instagram ou no Facebook", brinca o taxista Breno de Souza Oliveira, que já dedica 24 anos de seus 47 à profissão. O motorista é um dos 15 felizardos, como ele próprio define, a dirigir um Nissan Leaf pelas ruas do Rio de Janeiro (RJ). O projeto é uma parceria da marca japonesa com a Petrobrás e a prefeitura da cidade para promover a viabilidade do veículo elétrico no país, que ainda depende de uma política de incentivos por parte do governo para vingar.
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Dono de uma Chevrolet Zafira, que agora ele usa somente no trajeto de casa para o local onde busca o Leaf (e na volta), Oliveira se tornou praticamente embaixador do carro elétrico no Rio de Janeiro. Em cerca de uma hora de corrida até o novo escritório da Nissan, no centro carioca, o motorista foi contando histórias curiosas e, num bate-papo pra lá de descontraído, me convencendo de quanto o Leaf é o carro certo para as grandes cidades - seja como táxi ou veículo particular.
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A primeira coisa que reparei como passageiro do Leaf é o fim da privacidade - pelo menos os vidros traseiros têm películas escuras. É praticamente impossível passar despercebido num carro com design futurista como esse, ainda mais pintado de amarelo (cor oficial dos táxis comuns no Rio de Janeiro) e com a inscrição "Emissão Zero" nas laterais. "É exótico, chama a atenção desde crianças até idosos que nem dirigem mais", conta o profissional. Pois logo que o semáforo fecha um motoboy encosta na janela e pergunta: "Esse é aquele que roda sem gasolina, né?". Depois, vejo que os próprios taxistas puxam papo em meio ao trânsito para saber mais sobre o "carro do futuro". Por fim, foi a vez de um pedestre questionar como o Nissan andava. Oliveira responde que o hatch chega a 100 km/h em cerca de 12 segundos (o motor elétrico gera 109 cv de potência e 28,5 kgfm de torque), ao que o senhor logo emenda com um "quero saber é sobre o consumo".
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Bom, é justamente neste quesito que o taxista se orgulha ainda mais do Leaf e de suas próprias façanhas. "A autonomia média da bateria é de 160 km, mas depende muito de como o motorista dirige", explica Oliveira. "Se ligar o ar-condicionado, cai para cerca de 140 km, se acelerar forte também. Meu recorde é 184 km de autonomia (ele me mostra uma foto do computador de bordo no celular), cheguei até a postar na comunidade oficial do Leaf na internet, da qual participo e troco ideias com outros proprietários do carro ao redor do mundo".
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No meio do caminho paramos num posto. Não que o Leaf precise de carga, mas sim para eu conhecer o local de recarga do modelo. Trata-se de uma central de energia semelhante a uma bomba de combustível, que fica numa parte reservada do posto. "Aqui é para recarga rápida, leva só meia hora para encher a bateria se estiver totalmente vazia". Como Oliveira roda em média 300 km por dia, é preciso fazer um pit-stop numa dessas centrais para cumprir seu trabalho. Além deste posto, no bairro da Lagoa, há centrais nos aeroportos (Santos Dumont e Galeão), Barra, São Cristóvão e concessionárias Nissan.
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À noite, Oliveira deixa o Leaf na central da prefeitura para a recarga normal, que leva de 9 a 12 horas numa tomada de 110 V e 5 horas numa de 220 V. No porta-malas fica uma fonte como a de um notebook (obviamente bem maior) para ligar o carro na tomada comum. "Se abastecer em casa, gasto apenas R$ 7 para encher a bateria", conta Oliveira. Assim, com a autonomia de 160 km, o custo do km rodado sai por pouco mais de R$ 0,04. Para efeito de comparação, o custo/km de um VW Fox Bluemotion na estrada - o carro flex mais econômico já testado por CARPLACE - fica em R$ 0,13 considerando o consumo de 20 km/l e a gasolina a R$ 2,70.
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Além da economia de combustível (e o fato de não poluir o ar), Oliveira destaca também que o Leaf é quase isento de manutenção. "Aqui não tem troca de óleo, filtros, bicos injetores, correia dentada, radiador, nada disso! E se você souber dirigir de forma moderada, as pastilhas de freio podem durar até 100 mil km", garante o taxista, que ainda explica que a bateria tem vida útil de 8 a 10 anos. Outro aspecto interessante é o sistema Kers, que reaproveita a energia gerada em desacelerações e frenagens para recarregar a bateria. Fora isso, uma placa solar na parte traseira do teto usa a luz do dia para carregar a bateria dos sistemas periféricos, como os vidros e travas elétricos, entre outros recursos.
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Medo de choque Nos sete meses e pouco mais de 20 mil km rodados com o Leaf, Oliveira diz não querer mais voltar para sua Zafira. "Este carro é infinitamente mais confortável, eu termino meu dia de trabalho descansado". De fato, o motor elétrico não gera quase nenhum ruído (só ouvimos o atrito dos pneus com o solo) e a transmissão do tipo CVT proporciona corridas livres dos solavancos das trocas de marcha. Acomodado no banco traseiro, também achei a acomodação muito boa e a suspensão bastante macia e silenciosa. As baterias ficam posicionadas no assoalho e praticamente não interferem no espaço interno. No porta-malas há uma certa perda, "mas é menor que a causada pelos cilindros de gás nos carros que usam GNV", defende o motorista. Todas essas características, somadas ao ineditismo do Leaf, têm trazido mais clientes para Oliveira. "Sem dúvida sou mais requisitado do que antes. Tem gente que chega a dispensar o táxi da frente da fila só para andar neste carro", conta. Mas, ao mesmo tempo, há quem estranhe ou até sinta medo de andar num elétrico. "Uma vez fui levar um casal de idosos que fez sinal na rua e a senhora se negou a fazer a corrida ao saber que o carro era movido a eletricidade. Ela chegou a brigar com o marido, dizendo que não entrava ali de jeito nenhum porque ia levar um choque!", se diverte o motorista. "Outra vez um francês estava acompanhado do filho e o moleque, ao saber que estava num veículo elétrico, queria porque queria ligar a tomada do vídeo-game dele no carro".
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Corrida de R$ 6 O Leaf usado por Oliveira foi um dos dois primeiros a circular no Rio de Janeiro, numa primeira fase do projeto. Segundo o taxista, hoje existem outros 13 carros do tipo (mais 10 em São Paulo), todos nas mãos de motoristas escolhidos pela Nissan (em parceria com a prefeitura) para divulgar o modelo elétrico. "Agora preciso reforçar meu inglês para explicar os detalhes do carro para os gringos na Copa do Mundo e nas Olimpíadas de 2016", completa o taxista "vendedor", que diz ter uma lista com mais de 200 interessados no Leaf.
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Outro dos 15 motoristas profissionais que atualmente dirigem o Nissan pelo Rio é Mario Amilton dos Reis, com quem fiz o percurso de volta. Com 50 anos e 20 de praça, ele chegou a instalar uma câmera no para-brisa para registrar seu dia-a-dia com o modelo elétrico. Proprietário de um Fiat Idea, com o qual ainda trabalha parte do dia, Reis também afirma que dirigir o Leaf mudou completamente sua rotina. "Não tem como não mudar, todos ficam curiosos para saber mais sobre o carro. Teve uma vez que um rapaz estava num ponto de ônibus e fez sinal ao ver o Leaf. Parei, abri a janela e ele perguntou se eu faria uma corrida curtinha, só para ele tirar uma foto e dizer que andou no carro. Topei e ele então desceu dois apenas pontos depois, todo feliz. A corrida deu R$ 6!" Por falar em tarifa, Reis conta que às vezes os passageiros ficam receosos de entrar no Leaf por acharem que trata-se de um táxi especial, pensando que vão pagar mais caro. E aí chegamos ao grande entrave do carro elétrico no Brasil. Embora como táxi a tarifa seja a mesma dos demais, o Leaf só está rodando no Brasil porque a Nissan e os patrocinadores bancaram a ideia. Com toda a tecnologia do modelo e mais a pesada carga de impostos, o hatch elétrico japonês custaria cerca de R$ 160 mil no Brasil, nas estimativas dos taxistas. Ou seja, um valor que inviabiliza a venda do modelo em nosso mercado.
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Uma das esperanças está na proposta que a Anfavea (associação que reúne as principais montadoras) apresentou, no último mês de julho, para promover novas tecnologias de propulsão para automóveis ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O projeto, que engloba elétricos e híbridos, prevê duas fases: primeiro, a importação seria incentivada com a mesma vigência do programa Inovar-Auto, com início imediato e valendo até 2017. Haveria uma cota de importação de veículos por empresa, com aumento progressivo, adicional à importação já aprovada pelo Inovar-Auto. Depois, a segunda fase estimularia a produção local com desenvolvimento de engenharia e fornecedores.
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É o sinal que a Nissan aguarda para entrar de vez com o Leaf no país. Os executivos da marca não falam abertamente, mas há, sim, planos de produzir o modelo na fábrica que a empresa está construindo em Resende (RJ) ao lado de March, Versa e o futuro SUV compacto. Mas, enquanto os incentivos fiscais não pintam, o único jeito de andar num carro elétrico no Brasil é pegando um táxi desses. Texto e fotos: Daniel Messeder

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