A garotinha não resistiu à curiosidade, abriu um sorriso e emendou: "Moço, esse é o Camaro amarelo?". Pois é, nem a BMW escapou de ser confundida com o Chevrolet que serviu de tema para a música de maior sucesso da dupla sertaneja Munhoz e Mariano. Lamento desapontar a criança, mas uma das poucas semelhanças desse Z4 20i com o famoso Camaro da canção se resume à cor. Trata-se de uma série especial do roadster alemão, chamada de Pure Impulse, mostrada no Salão do Automóvel para atrair a atenção do público para o modelo. Mas tire um pouco os olhos da chamativa pintura e se concentre na novidade de verdade: motor 2.0 turbo de 184 cv e câmbio automático de oito marchas, conjunto que passa a equipar também a versão de entrada do conversível, chamada simplesmente de 20i. Se você fizer questão da cor amarela, do acabamento interno exclusivo (amarelo, claro!) e das belíssimas rodas grafite aro 19, a Pure Impulse é o que você procura. Mas, na minha modesta opinião, é preciso muita dose de "puro impulso" para optar por essa série especial. Digo isso porque ela custa a bagatela de R$ 269.950 (e não tem sensor de estacionamento!), enquanto a 20i "básica" sai por R$ 229.950 - e, apesar de não ser tão "presença", já te deixa bem "doce, doce, doce". Eu havia acabado de devolver a SLK AMG (veja teste) quando entrei no Z4. E logo as diferenças ficaram nítidas. O BMW tem o volante levemente deslocado para o centro da cabine, e a posição das pernas é ainda mais esportiva, bem "deitada". O longo capô à frente consegue ser mais comprido que o do Mercedes, dando a impressão (real) de que você está sentado quase sobre o eixo traseiro. Como não se trata de uma versão superesportiva, como a SLK AMG, o Z4 20i tem a suspensão um pouco mais macia e direção (elétrica) ligeiramente mais leve. Ainda assim, as rodonas aro 19 não combinam com o asfalto esburacado de nossas ruas, e dão pancadas secas ao circular pela cidade. O acabamento interno dessa versão é tão bacana quanto o design externo. Há forração de couro Alcântara no painel, nas portas e nos bancos, sem falar na costura e nos detalhes em amarelo, para combinar com a carroceria. No painel, destaque para o desenho retrô dos comandos da ventilação em contraste com a tela digital (com GPS) que "levanta" automaticamente quando ligamos o carro. O espaço é bom para os dois ocupantes, e existe ainda um bom porta-trecos entre os bancos. Os assentos com ajustes elétricos, por sua vez, são confortáveis e seguram bem o corpo nas curvas. O volante de três raios, da divisão esportiva M, oferece boa pegada e tem revestimento de couro macio, bem agradável ao toque. No entanto, pegue leve com a bagagem porque o porta-malas é ainda menor que o do SLK: 310 litros que se transformam em míseros 180 quando a capota está recolhida. É para duas mochilas e olhe lá. As melhores notícias desse Z4, no entanto, vêm de carona com o novo powertrain. Até pouco tempo atrás, as versões da entrada da BMW não ofereciam motor à altura da esportividade intrínseca à marca. O antigo 118i tinha 136 cv e o 320i da geração anterior ficava nos 156 cv. Felizmente, a nova linha de motores com turbo de duplo fluxo da BMW veio trazer a solução. Mesmo esse 2.0 amansado do Z4 20i entrega bons 184 cv (há uma versão com 245 cv no 328i), além de 27,5 kgfm de torque plenos numa faixa que vai de 1.250 a 4.500 giros. Ou seja, tem elasticidade de sobra para retomadas e acelerações, sem falar na suavidade de trabalho mesmo em altos giros. Para completar, o ronco encorpado e grave faz parecer que estamos diante de um motor maior, deixando a condução a céu aberto ainda mais divertida. Impossível elogiar o motor sem comentar também sobre ótima transmissão automática de oito marchas. Fiquei surpreso com a rapidez de trocas e a proximidade das marchas entre si, o que permite reduções com o giro elevado numa boa. Dá até para confundir com um câmbio automatizado de dupla embreagem, tamanha a eficiência da operação. E o trabalho fica ainda mais prazeroso se feito pelas borboletas no volante. A única coisa estranha de se ter oito marchas é quando você está em Drive, na última marcha, e resolve puxar a borboleta para fazer uma redução. Aí é muita marcha para baixo até se chegar onde você quer - geralmente uma terceira para uma tomada de curva mais radical. Tirando isso, as diversas relações garantem que sempre haja uma marcha certa para cada situação - e o modo Sport do câmbio faz essa escolha com maestria. A oitava marcha permite viajar com giro abaixo de 2 mil rpm, e conseguir nada menos que 15 km/l de consumo médio na estrada. Na cidade, o Z4 também faz bonito na economia: 9,6 km/l. E olha que estamos falando de um roadster que, quando provocado, é capaz de arrancar de 0 a 100 km/h em 7,2 s, como fez em nosso teste - tempo exatamente igual ao divulgado pela BMW. Apesar de ser voltado à uma condução relaxada, curtindo a brisa no rosto, o Z4 é um BMW com algum tempero esportivo. Isso significa que você pode mudar o seletor no console de comfort para sport e se divertir nas curvas da vida. A dianteira longa dá uma ideia de que o carro vai escorregar de frente no limite, o que realmente acontece, mas no geral as massas são bem distribuídas e o roadster encara com firmeza as curvas de raio longo, sempre bem postado ao chão. Os pneus mais largos desse pacote Pure Impulse (225/35 na frente e 255/30 atrás) mantêm elevado nível de aderência mesmo quando o controle de estabilidade está desativado - operação feita por um botão no console. Belo, versátil (vira um cupê em 20 segundos, com a capota rígida) e agora com um motor à altura, o novo Z4 de entrada se candidata à hit do verão 2013 - dos endinheirados, que fique bem claro. Mas quem levar um igual a esse que testamos deve estar preparado para responder perguntas sobre o famoso "Camaro amarelo"... Por Daniel Messeder Fotos Rafael Munhoz exclusivo para o CARPLACE - Portfólio FlickrFicha técnica – BMW Z4 20iMotor: dianteiro, longitudinal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, 1.997 cm3, injeção direta, turbo e intercooler, gasolina; Potência: 184 cv a 5.000 rpm; Torque: 27,5 kgfm de 1.250 a 4.500 rpm; Transmissão: câmbio automático de oito marchas, tração traseira; Direção: elétrica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e multibraços na traseira; Freios: discos ventilados nas quatro rodas, com ABS; Rodas: aro 19 com pneus 225/35 na frente e 255/30 atrás; Peso: 1.495 kg; Capacidades: porta-malas 310/180 litros, tanque 55 litros; Dimensões: comprimento 4,239 mm, largura 1,790 mm, altura 1,291 mm, entreeixos 2,496 mm Medições CARPLACE – valores entre parênteses se referem ao teste com ar-condicionado ligado Aceleração 0 a 60 km/h: 3,0 s (3,1) 0 a 80 km/h: 4,9 s (5,0) 0 a 100 km/h: 7,2 s (7,4) Retomada 40 a 100 km/h em Drive: 5,9 s (6,1) 80 a 120 km/h em Drive: 5,5 s (5,9) Frenagem 100 km/h a 0: 36,4 m 80 km/h a 0: 22,7 m 60 km/h a 0: 12,8 m Consumo Ciclo cidade: 9,6 km/l Ciclo estrada: 15,0 km/l Números do fabricante Aceleração 0 a 100 km/h: 7,2 s Consumo cidade: 11,0 km/l Consumo estrada: 18,1 km/l Velocidade máxima: 232 km/l (limitada)
Galeria: Teste especial de verão Carplace: BMW Z4 20i Pure Impulse - Na cor da estação