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Especial dia 4x4: do Jeep se fez a Rural Willys

Utilitário criado nos EUA em 1946 foi modificado para o mercado brasileiro e teve muito sucesso até os anos 70

Rural dos anos 60 em seu ambiente (2)

Nos anos 50, as estradas brasileiras eram ainda mais precárias que as de hoje: faltava asfalto e sobrava lama. Não é de se estranhar que a norte-americana Willys-Overland tenha se interessado em abrir uma fábrica por aqui. Vivíamos os tempos de industrialização entre o fim do segundo governo de Getúlio Vargas e o início dos anos JK.

A Willys era uma fábrica independente que, durante a Segunda Guerra, ganhou força e fama produzindo o Jeep militar. Com o fim do conflito mundial, o bravo 4x4 passou a ser vendido também a civis. Era considerado equipamento agrícola.

O Jeepster chegou a ser exportado para o Brasil nos anos 50

O Jeepster chegou a ser exportado para o Brasil nos anos 50

Importada - Willys Station Wagon de 1947

Importada - Willys Station Wagon de 1947

Ainda nos anos 40, a Willys começou a diversificar sua linha nos EUA, criando versões mais sociais do Jeep. Uma era o Jeepster (conversível que nunca seria feito no Brasil), outra era a Station Wagon - que pode ser considerada a mãe de todos os SUVs.

Lançada em 1946, a Willys Station Wagon tinha chassi com longarinas separado da carroceria, eixos rígidos e feixes de molas. Seu motor de estreia era o modestíssimo L-134 Go-Devil, de quatro cilindros, do Jeep militar e de seu irmão civil, o CJ-2A. Uma versão 4x4 da Station Wagon foi lançada em 1949 e logo o modelo passou a ser equipado com um motor de seis cilindros, ainda do tipo “cabeça chata” (ou seja: com as válvulas no bloco).

Importada -  Willys Station Wagon de 1947, o primeiro modelo

Importada - Willys Station Wagon de 1947, o primeiro modelo

A traseira da Willys Station Wagon com suas duas janelinhas

A traseira da Willys Station Wagon com suas duas janelinhas

Mas era na carroceria de aço estampado e nas linhas quadradas que estava a grande revolução: até então, todos os utilitários e caminhonetes fabricados nos Estados Unidos usavam madeira em sua construção. E eis que a Willys Station Wagon mudou esse quadro com uma estrutura inteirinha de metal. Cupins, nunca mais! O curioso é que, nos primeiros anos de produção, a pintura do corpo da carroceria em marrom e bege poderia sugerir que a Willys Station Wagon era uma woodie.

DA IMPORTAÇÃO À PRODUÇÃO LOCAL

Em 1947, os Willys começaram a desembarcar no Brasil trazidos pela Gastal. Era uma empresa com sede no Rio de Janeiro, que chegou a ter uma pequena linha de montagem no município fluminense de Nova Iguaçu. Logo depois, os Jeep passaram a ser montados também em São Paulo, pela Jeepsa (1948) e sua sucessora Agromotor (1949).

Um anuncio americano de 1949, com foto feita no Rio

Um anuncio americano de 1949, com foto feita no Rio

As vendas de Willys por aqui prosperaram tanto que, em 1952, a companhia decidiu que era hora de construir uma fábrica de verdade em São Bernardo do Campo, São Paulo.

Assim, a Willys se antecipou: a partir de 1º de julho de 1953, a importação de veículos já montados seria proibida pelo governo Getulio Vargas, como estratégia para fomentar o surgimento da indústria automobilística brasileira.

O primeiro modelo da marca produzido nas novas instalações foi o CJ-3B, em março de 1954 e com 35% de seus componentes feitos aqui. A essa altura, a Willys-Overland já passara a fazer parte do grupo Kaiser-Frazer nos EUA - e as operações no Brasil, comandadas por Hickman Price Jr., tinham grande participação acionária de investidores brasileiros (como a família Aranha, dona da Gastal).

A primeira Rural nacional, de 1958, ainda tinha a frente bicudinha e para-brisa bipartido

A primeira Rural nacional, de 1958, ainda tinha a frente bicudinha e para-brisa bipartido

O Jeep evoluiu rapidamente: em outubro de 1955, a Willys-Overland já anunciava o início da produção do modelo CJ-5 no Brasil, com 40% de nacionalização. E a Station Wagon, que até então era importada, passou a ser fabricada no Brasil em 1958, sendo rebatizada de Rural Willys.

Nesses primeiros tempos da produção nacional, o modelo manteve o desenho original dos EUA (com a “frente bicuda”) mas já recebeu o motor Hurricane BF-161 a gasolina, de seis cilindros em linha e 2.638 cm³. Fundido no Brasil, tinha o chamado cabeçote em “F” (ou seja: com as válvulas de admissão na cabeça e as de admissão no bloco) e rendia 90 cv brutos - era o mesmo motor do Jeep CJ-5. O câmbio era de três marchas, com caixa de transferência para tração 4x4.

O exemplar da foto ainda é um Willys legítimo

O exemplar da foto ainda é um Willys legítimo

A Rural foi muito usada como carro de reportagem até os anos 70

A Rural foi muito usada como carro de reportagem até os anos 70

Havia eixos rígidos na dianteira e na traseira. Além de ser usado no campo, o utilitário Willys também era uma visão comum nas grandes cidades e muito aproveitado como carro de frota. Era, por exemplo, o carro de reportagem de nove entre dez jornais brasileiros.

Mas havia uma grande mudança a caminho: em novembro de 1959, a Rural foi mostrada com cara nova - e já como “modelo 1960”. Era a primeira vez que um automóvel ganhava alterações visuais exclusivas para a produção no Brasil, e quem comandou a cirurgia plástica foi o designer americano Brooks Stevens.

Brasileiras - a Rural 1960 e sua antecessora bicudinha

Brasileiras - a Rural 1960 e sua antecessora bicudinha

EXCLUSIVIDADE BRASILEIRA

Stevens era o homem certo para renovar a Rural brasileira: ele prestava serviços à Willys desde os anos 40 e havia trabalhado no projeto da Station Wagon original.

O designer fez milagres para lançar a Rural-Willys de 1960. Sem mexer nos painéis laterais de 1947, ele deu uma bela modernizada no modelo fabricado em São Bernardo do Campo.

A Pick-up Jeep dos anos 60

A Pick-up Jeep dos anos 60

Pick-up Jeep era pau pra toda obra

Pick-up Jeep era pau pra toda obra

A dianteira ganhou linhas específicas para o mercado brasileiro (como faróis embutidos nos para-lamas e uma grade que lembrava as colunas de Niemeyer em Brasília), o para-brisa passou a ser inteiriço e o mesmo aconteceu com o vidro traseiro. Isso sem esquecer da Pick-Up Jeep, uma Rural com caçamba que também passou a ser feita aqui.

O Willys Saci seria o Jeepster brasileiro - foi mostrado em 1960 mas nunca entrou em linha (2)

O Willys Saci seria o Jeepster brasileiro - foi mostrado em 1960 mas nunca entrou em linha

O Willys Saci seria o Jeepster brasileiro - foi mostrado em 1960 mas nunca entrou em linha (3)
O Willys Saci seria o Jeepster brasileiro - foi mostrado em 1960 mas nunca entrou em linha (1)

No I Salão do Automóvel de São Paulo, em 1960, a Willys-Overland mostrou o carro-conceito Saci, uma espécie de Rural conversível. Seria a versão brasileira do Jeepster norte-americano, mas o projeto foi abortado. Quem entrou em produção mesmo foi a Rural 4x2 - criada para quem não precisava enfrentar trilhas difíceis, tinha alavanca do câmbio na coluna de direção. Para aumentar o conforto, foi lançada em 1964 a versão 4x2 com suspensão independente na dianteira e molas helicoidais (em vez do eixo rígido com feixes de molas).

A Ford rebatizou a Pick-up Jeep como F-75

A Ford rebatizou a Pick-up Jeep como F-75

DE WILLYS A FORD

Quando a Ford comprou a Willys-Overland do Brasil, em 1967, as linhas Jeep e Rural foram mantidas em produção. A Rural chegou a ganhar um motor de 3 litros e dois carburadores, que rendia 140 cv. Havia também a versão de quatro marchas.

Com a crise do petróleo, a Ford passou a equipar a Rural com o moderno motor OHC de quatro cilindros e 2,3 litros do Maverick. Mas já era tarde e o projeto da Rural tinha quase 30 anos. A produção em São Bernardo do Campo foi encerrada em 1977.

Quem ganhou maior sobrevida foi a Pick-up Jeep: rebatizada de F-75 pela Ford, continuou a ser fabricada no Brasil até 1982.

EUA, JAPÃO E ARGENTINA

Lá fora, o utilitário continuou com sua “cara antiga” (pré-1959) por muitos anos. Nos EUA, a Willys Station Wagon foi produzida até 1965, quando deu lugar ao Jeep Wagoneer, outra criação de Brooks Stevens. De evolução em evolução, chegou-se ao Grand Cherokee.

Versão japonesa - o Jeep Mitsubishi J37. Modelo durou até 1983

Versão japonesa - o Jeep Mitsubishi J37. Modelo durou até 1983

Versão japonesa - o Jeep Mitsubishi J37. Daqui nasceu a Pajero

Versão japonesa - o Jeep Mitsubishi J37. Daqui nasceu a Pajero

No Japão, a velha Willys Station Wagon foi fabricada sob licença pela Mitsubishi e com a frente do Jeep CJ-3B, vulgo “Cara de Cavalo”. O primeiro modelo nipônico foi o J11, com carroceria de duas portas e entre eixos igual ao da nossa Rural (2,65 m). Durou de 1956 a 1961. Depois veio uma versão de quatro portas inexistente em outros países. Batizada de Jeep J37, foi produzida de 1962 até 1983 e pode ser considerada a origem dos atuais Pajero.

IKA Estanciera, a Rural argentina

IKA Estanciera, a Rural argentina

Em 1966, a IKA Estanciera argentina foi modernizada com a carroceria brasileira, mas a grade era diferente

Em 1966, a IKA Estanciera argentina foi modernizada com a carroceria brasileira, mas a grade era diferente

Já a Willys Station Wagon produzida pelas Industrias Kaiser Argentina recebia o nome de IKA Estanciera. Lançada em 1957, manteve a aparência original da versão estadunidense até 1966, quando ganhou carroceria semelhante à da Rural de São Bernardo do Campo. Até hoje, esse modelo é chamado pelos hermanos de “Estanciera brasileña”. A produção foi até 1970.

Rural dos anos 60 em seu ambiente

Rural dos anos 60 em seu ambiente

NA PERSPECTIVA ATUAL

Para os padrões de hoje, a Rural é um carro beberrão. Faz cerca de 6,5 km/l na estrada, na versão com motor Willys 2.600. Já a direção é dada a passarinhar e o motorista vai executando o trabalho de “corrigir a rota” seguidamente.

Mas o que importa em um veículo desse tipo é a resistência. Desde que se lubrifique sempre os mais de 30 pinos de graxa, a suspensão dura para sempre.

Inteiras ou alquebradas, originais ou modificadas, muitas Rural continuam prestando serviços em cidades do interior ou fazendo a alegria dos jipeiros.

Galeria: Rural Willys - Dia do 4x4

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