Humvee é coisa do passado... O novo jipão militar do pedaço é o Oshkosh JLTV, que acaba de chegar dos Estados Unidos para servir à Marinha do Brasil. O lote inicial, com quatro unidades, desembarcou mês passado no Rio de Janeiro e sua apresentação oficial aconteceu ontem (7/3), na base naval carioca da Ilha das Cobras.
A previsão é que 12 blindados desse tipo entrem em serviço no Corpo de Fuzileiros Navais até o fim do ano que vem, alcançando um total de 60 viaturas até a virada da década. Os JLTV serão usados em missões no Brasil e no exterior, bem como veículo apoio à defesa Civil (em desabamentos e enchentes, por exemplo).
JLTV é a sigla de Joint Light Tactical Vehicle, que em português pode ser traduzido como "veículo tático leve comum" - nome de um programa militar americano lançado em 2006 para desenvolver substitutos para o HMMWV (mais conhecido como Humvee) nas forças armadas dos EUA.
Oshkosh JLTV com suspensão no ponto mais baixo x Humvee normal
Quando foi criado pela AM General, nos anos 80, o Humvee parecia imbatível, mas as guerras do Iraque (2003-2011) e do Afeganistão (2001-2021) expuseram seu calcanhar de aquiles: a falta de proteção contra explosões de bombas artesanais e minas. O jeito foi desenvolver blindagens que mais do que dobraram o peso do Humvee, deixando-o extremamente lento (0-100 km/h em 37 segundos) e suscetível a quebras, reduzindo ainda sua carga útil.
A companhia Oshkosh Corporation, dedicada à construção de caminhões para usos especiais (como modelos para uso de bombeiros em aeroportos, por exemplo), levou a melhor na concorrência do programa JLTV, que teve sete competidores.
Da divisão militar Oshkosh Defense saiu o projeto do L-ATV (Light Combat Tactical All-Terrain Vehicle, veículo todo-terreno leve de combate tático) e, desde 2020, as forças armadas dos EUA já encomendaram 17 mil unidades do jipão blindado. Além do Brasil, países como a Eslovênia, a Lituânia, Montenegro e a Bélgica já fizeram seus pedidos.
A confiabilidade foi um dos principais requisitos durante a concorrência para a produção do JLTV. Ao longo de 33 meses de testes pesados, o modelo da Oshkosh apresentou uma falha a cada 11.347 km, em média. Para se ter uma ideia, o protótipo de JLTV feito pela AM General (a fábrica do Humvee) teve um defeito a cada 846 km, em média.
O outro destaque do novo jipão militar é a suspensão patenteada pela Oshkosh com o nome de TAK-4i. É independente nas quatro rodas, tipo duplo A (dois braços triangulares superpostos nas pontas de cada eixo) e com molas a gás de alta pressão.
Oshkosh JLTV na montanha
Aperfeiçoada na dura prova Baja 1000, na Califórnia, a TAK-4i foi feita para resistir a qualquer terreno, absorvendo grandes impactos e mantendo o conforto de rodar para os quatro (ou até cinco) tripulantes do JLTV. Não se trata de frescura: era comum que os soldados dos EUA no Afeganistão ou no Iraque encarassem missões de 10 a 12 horas "presos" dentro de uma viatura. E quanto menos sacolejos, mais inteiro se chega ao fim da jornada.
A suspensão tem nada menos que 50,8 cm de curso! Sua altura pode ser ajustada de forma independente em cada eixo - até colando o JLTV da Oshkosh no chão, qual um lowrider, para facilitar seu transporte em aviões cargueiros, helicópteros ou veículos anfíbios. Na altura máxima, o blindado pode cruzar trechos alagados com 1,50 de profundidade, mesmo sem o snorkel opcional.
Suspensão nivela automaticamente a carroceria
Além disso, a suspensão tem um sistema de auto nivelamento que reduz a inclinação da cabine quando o jipão está parado em uma rampa ou terreno irregular. Isso é importante até para que os soldados possam abrir as pesadíssimas portas capazes de absorver explosões. A blindagem inclui os bancos e há sistemas automáticos contra incêndios.
Para mover o monstro de 7 toneladas, há um V8 turbodiesel Duramax de 6,6 litros, produzido originalmente pela General Motors para suas picaponas "heavy duty". Esses motores civis são enviados para a empresa Banks Power, que os equipa com componentes internos reforçados para uso severo. Além disso, o V8 é transformado em um flex apto a queimar diesel, querosene ou álcool. Conta-se que, durante os testes, o motor de um dos protótipos do Oshkosh JLTV aspirou um pouco de água - e assim rodou por 3 mil quilômetros até que, finalmente, fosse aberto e reparado.
O ajuste de altura da suspensão facilita embarque em aviões
A potência é segredo de estado, como boa parte das características técnicas do jipão, mas estima-se que gire em torno de 345 cv, com uns 120 kgfm de torque máximo. Para administrar tudo, há uma confiável caixa automática Allison 2500SP de seis marchas e tração permanente nas quatro rodas. A aceleração de 0 a 100km/h é feita na casa dos 10 segundos, mas a máxima é limitada a 110 km/h, para evitar arroubos dos jovens soldados.
Na cabine, nada do aperto do Humvee. O espaço interno do JLTV está mais para o de uma cabine de um caminhão - e há até porta-copos no console. O blindado da Oshkosh consegue apequenar o Humvee, se estacionado lado a lado. Tem nada menos que 6,2 m de comprimento, por 2,6 m de altura. Em termos de altura, está mais para os Unimog 5000, também usados pelos Fuzileiros Navais do Brasil.
Oshkosh JLTV recém-chegado ao Corpo de Fuzileiros Navais - Brasil
Diferentemente do que ocorre no Humvee, a visibilidade para frente é boa. Uma câmera de ré compensa a inexistência de vigia traseira. Preocupação estética? O modelo mais parece uma mistura de caveirão com carro forte, acrescido de parafusos e rebites aparentes por toda parte.
O negócio aqui é levar quatro tripulantes e mais 1.600 kg de carga. Entre as tantas versões, há uma picape para levar dois soldados e 2.300 kg de "bagagem". O armamento é variado: vai de metralhadoras e mísseis antitanque. A autonomia é de 480 km, mas poderá aumentar com as futuras versões híbridas.
Estima-se que o custo de cada unidade 0km em configuração básica gire em torno de US$ 345 mil (ou R$ 1,8 milhão, pela cotação atual). Para quem gosta de viaturas militares e já sonha em comprar um Oshkosh JLTV no futuro, em algum leilão de sobras militares, a má notícia: mesmo nas configurações básicas, o nível de blindagem desse jipão está acima do permitido para o uso civil.
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