A primeira motocicleta Honda fabricada no Brasil foi a CG 125, lançada em 1976. O primeiro carro nacional da marca veio bem depois: o Civic, em 1997. Mas muito antes disso, a companhia japonesa já marcava presença - ainda que discreta - no país.
A primeira participação da Honda em uma competição internacional foi, acreditem, em Interlagos! Soichiro Honda - que fundara sua fábrica de motocicletas em 1949 - foi convidado a inscrever uma de suas máquinas em um torneio, promovido em fevereiro de 1954, pela Federação Paulista de Motociclismo. A temporada comemorava os 400 anos de fundação da cidade de São Paulo e reunia os melhores pilotos do mundo.
Soichiro-san ainda não tinha uma moto pronta para corridas. A competição em São Paulo, contudo, poderia servir como ensaio para uma grande ambição do empresário: participar da famosa Tourist Trophy da Ilha de Man, no Reino Unido, e ganhar projeção no mercado externo.
O jeito foi pegar um motor quatro tempos da Honda Dream E-Type 150, baixar sua cilindrada para 125cm³ (categoria em que teria mais chances desportivas) e construir artesanalmente um chassi inteiramente novo. Nascia a Benly R125, a primeira Honda projetada para corridas.
O piloto Mikio Omura, de apenas 20 anos de idade, era funcionário da fábrica e veio de avião trazendo a moto desmontada na bagagem. Foi uma viagem de seis dias (e incontáveis escalas entre Tóquio e São Paulo) da qual participaram ainda Toshiji Baba, jovem mecânico da Honda, e o também piloto Katsuhiro Tashiro - este representando a Meguro, marca japonesa que anos mais tarde seria incorporada pela Kawasaki.
Um acidente nas eliminatórias deixou Tashiro e sua Meguro 250 fora do torneio. Sobrou para Omura defender a honra pátria diante da numerosa colônia japonesa de São Paulo. Não seria uma tarefa simples, já que participavam da disputa nada menos que o italiano Roberto Colombo (então bicampeão mundial da categoria 125), além dos vencedores dos campeonatos nacionais de Itália, Inglaterra, Argentina e até de Gibraltar. Luiz Latorre, campeão brasileiro na mesma cilindrada, também estava inscrito.
Com parcos 5,5 cv, a R125 (que correu levando o número 136) não era páreo para as MV Agusta e Mondial, máquinas italianas que dominavam as pistas e rendiam mais que o dobro da potência da japonesa. Nos treinos, enquanto a Mondial do favorito Nello Pagani dava a volta no antigo traçado de Interlagos em 4'41", a desconhecida Honda fazia o tempo de 6'10"...
Mesmo assim, Omura conseguiu largar em décimo lugar entre os 20 concorrentes da prova comemorativa do IV Centenário de São Paulo. E, depois de oito voltas, num total de 64 quilômetros, obteve um 13º lugar na corrida. Pagani foi o vencedor.
Essa histórica moto acabou sendo vendida em São Paulo (sim... foi a primeira Honda comercializada no Brasil!) para pagar as despesas e a volta do piloto e do mecânico ao Japão! Na década de 70, Soichiro Honda bem que tentou resgatar a pioneira R125 mas, depois de muitas buscas, não encontrou sequer um parafuso dela por aqui. O jeito foi pegar fotos e blueprints da época para fazer uma réplica, que desde 2000 está no museu da marca em Motegi (a 150 km de Tóquio).
Chegamos ao início dos anos 60, quando a Honda já era a maior fabricante de motocicletas do mundo. Seus produtos, contudo, ainda eram praticamente ignorados no Brasil. As motos da companhia japonesa só começaram a ser vendidas oficialmente por aqui em 1968, trazidas pelo distribuidor Irmãos Kai Ltda - cujo carro chefe, até então, eram os geradores portáteis Honda. O outro representante da marca era a Companhia Brasileira de Importação (Cobri), de São Paulo.
Em fevereiro de 1969, mais novidade: automóveis da marca haviam desembarcado no país. À época, a linha de carros da Honda era formada apenas por modelos de pequena cilindrada, ainda que a empresa já tivesse tentado a sorte na Fórmula-1, entre 1964 e 1968. Os primeiros a chegar ao Brasil foram os S800, esportivos de dois lugares e diminutos 3,33 m de comprimento, nas versões cupê e conversível.
Seu motorzinho de quatro cilindros em linha e 791cm³ era uma joia mecânica. Trazia duplo comando de válvulas no cabeçote, característica então restrita aos grandes esportivos. A potência máxima de 70 cv — incrível para cilindrada tão modesta — era alcançada a 8.000rpm, rotação tipicamente motociclística. Era o suficiente para que o carro alcançasse 160 km/h, marca de respeito para a época.
Suspensão independente nas quatro rodas e freios a disco na dianteira, além dos enormes faróis e lanternas, também mostravam o quão moderno era o modelo japonês. Caro e raro, o S800 era visto mais como um exotismo mecânico oriental do que como concorrente para os esportivos nacionais.
Pouquíssimos S800 vieram parar no Brasil. Em 1969, havia apenas quatro deles circulando em São Paulo, e um único exemplar despertando atenções no Rio. Seu dono era Bruno Garavaglia, que tinha uma revendedora de motocicletas Honda no Posto 6, em Copacabana. Há registros de que três S800 importados nessa leva ainda sobrevivem em 2022.
Outros automóveis Honda chegariam ao país, via Zona Franca de Manaus, até o início dos anos 70. Eram do modelo N360, um kei car (subcompacto japonês) com 2,99m de comprimento e motorzinho quatro tempos, refrigerado a ar, de dois cilindros paralelos, 354 cm³ e 31 cv. Era, basicamente, uma versão de menor cilindrada da mecânica utilizada nas motos Honda CB450 da época.
Também chegaram a Manaus as pequeninas picapes Honda TN360, bicilíndricas, mas com motor e caixa montados sob a a caçamba, tracionando o eixo traseiro.
A legislação brasileira de então estabelecia que os veículos importados via Zona Franca estavam proibidos de circular fora de Manaus (que, aliás, não tinha estrada para lugar algum naquela época, só balsas). Além disso, tinham que ser utilitários - daí que o N360 chegava à capital do Amazonas na versão LN360 Van, sem os bancos de trás e com placas opacas no lugar dos vidros laterais traseiros.
É claro que, com o passar do tempo, alguns "escaparam" de Manaus e acabaram revendidos pelo Brasil afora. Os LN360 Van, inclusive, logo ganhavam vidros laterais e bancos traseiros.
- Os Honda N360 chegavam aqui em Boa Vista e a gente conseguia fazer manutenção com peças de moto. Na época, havia muito carro contrabandeado via Guiana Inglesa e também alguns que vinham de Manaus - recorda-se Francisco Dilson, mecânico de Roraima. Hoje restam uns poucos sobreviventes da fase amazônica espalhados pelo país.
Somente na década de 1990 os automóveis da Honda se tornariam comuns por aqui, com a importação dos Civic e sua produção no Brasil.
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