O Volkswagen Gol foi lançado em 1980 com uma missão que parecia muito difícil - para não dizer quase impossível. Com a proposta de ser um sucessor do Fusca, tinha a carroceria hatch do Passat com uma queda mais acentuada da traseira como no Scirocco e no Golf (vendidos na Europa), mostrando uma clara inspiração na escola alemã da racionalidade.
Tinha uma proposta moderna, mas com o mesmo motor antiquado do besouro em sua forma mais enxuta, o 1.300 cc com carburador simples. Eram apenas 50 cv a 4.000 rpm com 9,2 kgfm de torque a 2.800 rpm. Levou algum tempo para o Gol receber o esperado motor 1.600 cc refrigerado a água, o que só ocorreu na linha 1985. Assim, no intervalo do seu insucesso, são poucos os exemplares que contam a história da chegada do Gol, projeto totalmente desenvolvido aqui como a Brasilia.
O Gol tinha uma boa paleta de cores quando estreou em maio de 1980. As mais raras eram o azul, vermelho e os tons metálicos, mas entre elas não estava o amarelo manga que ilustra boa parte da nossa história de hoje. Fabricado em 1983, este Gol foi “descoberto” em um anúncio de rede social. O candidato a futuro dono, o publicitário Luiz Miranda, estranhou a cor do carro, mas a paixão o impediu de seguir sozinho. Anunciado na cidade de Estrela/RS, foi descoberto por dois jovens após anos “aposentado” em um celeiro - o legítimo "barn find".
Miranda pediu a opinião do consultor Mário Buzian, conhecido no antigomobilismo, para vistoriar o veículo. Com a aprovação, negociou e trouxe o carro de guincho para São Paulo. O carro tinha boa mecânica e pequenos detalhes de pintura. “Acabei optando por um novo banho de cor, já que ele havia sofrido um banho ralo provavelmente em cima da pintura já desgastada” conta Luiz Miranda. Para finalizar, trocou uma faixa do tecido do banco do motorista e uma forração interna. E a cor? A questão da cor já estava deixando Miranda intrigado, que foi adiante e pediu placa preta dada a originalidade do carro.
“Com o Karman Ghia Clube pleiteei a placa preta e me negaram. Alegaram que a cor não saiu para o Gol sem ouvir meus argumentos”, conta. Segundo Miranda, o KGC informou que conceder a placa preta seria “uma espécie de vergonha para o clube” e o orientou a procurar outro emissor para a esperada placa de originalidade. Na vistoria, então feita pelo Automóvel Clube, constatou o estado do carro e concedeu a placa. Assim o novo dono aprofundou sua pesquisa em busca da história verdadeira do Gol Amarelo Manga.
No catálogo da Volkswagen, a cor estava disponível nos anos 1970 e constava na plaqueta do Gol 1983. Isso quer dizer que de fato o carro foi pintado naquela cor na sua produção. Além disso, a tonalidade constava como “cor especial” da época, ou seja, poderia ser encomendada. Era comum naqueles tempos uma encomenda especial à montadora, algo impensável hoje em dia.
Se o carro foi pintado assim, o primeiro dono quis o Amarelo Manga de algum jeito. “Só não sei o porque ele saiu naquela cor. Se foi encomenda especial ou excedente de frota”, diz o dono orgulhoso. O carro teve uma médica como primeira dona e depois foi vendido a outra pessoa até parar em um celeiro por anos e ser resgatado por Miranda. Na vistoria, até itens como o disco de embreagem e o filtro de gasolina ainda eram originais. E a cor, estranha ou não, é mesmo original do carro. Estas e outras boas histórias terão espaço reservado na próxima terça, dia 02 de julho, na Noite do Gol Quadrado, um dos maiores eventos do Auto Show Collection, realizado há 17 anos no sambódromo do Anhembi.
O AutoShow Collection é parceiro do Motor1.com Brasil. O evento acontece na primeira terça-feira de cada mês e reúne carros clássicos e modificados no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo (SP). Para mais informações, acesse www.autoshowcollection.com.br
Fotos: arquivo pessoal
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