Como parte do Plano de Segurança Viária, o prefeito de São Paulo Bruno Covas (PSDB) anunciou nesta quarta-feira (17) que a circulação de motos será proibida na pista expressa da Marginal Pinheiros como forma de reduzir o número de mortes no trânsito da capital paulista para 6 a cada 100 mil habitantes. A medida entrará em vigor a partir de maio e, segundo o governo, vem dos resultados positivos obtidos com a proibição das motocicletas nas pistas central e expressa da Marginal Tietê.
Para embasar sua decisão, a prefeitura paulistana diz que o plano levou um ano para ser preparado e envolveu 200 pessoas e 15 órgãos públicos. A meta é bonita, dizendo que "nenhuma morte é aceitável no trânsito". Concordo. Mas, mais uma vez, é como culpar a arma pela violência. Ou, como já sugeriram alguns políticos, colocar toque de recolher às 22h para reduzir assaltos e assassinatos. Isso não é resolver o problema.
Pelo visto, dessas 200 pessoas envolvidas na decisão, nenhuma é motociclista. Porque, se fosse, saberia que o problema dos acidentes com motos começa lá atrás, com a educação (ou a falta dela). Para começar, o Brasil não tem nenhuma matéria sobre segurança viária nas escolas. Em uma viagem à Londres, Inglaterra, lembro de ter ficado encantado com as crianças brincando de trânsito no pátio do colégio - público, claro. Com uma pista desenhada no chão, semáforos e faixas de pedestres, além de uma tia como guarda, as crianças já aprendem desde pequenas a respeitar as leis de trânsito, com seus carrinhos a pedal e velocípedes. Quando se tornam adultos e tiram sua habilitação, é instintivo agirem corretamente.
Risco: no Brasil você pode acabar de tirar a CNH e comprar uma moto de alto desempenho
Depois disso, vem o processo de tirar a CNH para motos. Alguém aí sabe que, para ter o direito de pilotar qualquer tipo de moto nas ruas, basta apenas fazer um circuito fechado em, no máximo, segunda marcha numa Honda CG com a marcha lenta acelerada para o motor não morrer? Sim, é patético. E depois disso você pode comprar uma superesportiva de 1000 cc e se matar por aí...
Isso mesmo, você tira CNH de moto em São Paulo sem sequer sair na rua ou passar da segunda marcha num circuitinho interno. O resultado não pode ser outro senão acidentes e mortes no feroz trânsito da capital paulista. As pessoas pegam suas motos completamente despreparadas para tal. A primeira vez que ela vai engatar a terceira marcha de sua moto é na rua, e talvez a primeira vez que atinja os 90 km/h seja na Marginal Pinheiros.
Isso me leva a outro ponto delicado que deveria voltar a ser implementado no Brasil - mas não é por questões de custo. A CNH de moto deveria ser por faixas de cilindrada e potência, como acontece na Europa. Ou seja, antes de pegar uma moto de alta cilindrada, você precisará ganhar experiência num modelo de baixa potência. Simples assim.
Daí voltamos à proibição de rodar na pista expressa da Marginal Pinheiros. Hoje, a maioria dos acidentes acontece na expressa simplesmente porque a maioria das motos está nela. Quem anda de moto por ali, como este que vos escreve, sabe muito bem que a maior incidência de carros mudando de faixa é na pista local, afinal, é onde os carros entram e saem dos bairros. E na faixa de fora ainda tem os carros que querem acessar a pista expressa.
Patinetes e bikes são boas soluções de transporte, mas precisam de regulamentação
A lei é tão questionável que será implementada somente no sentido Castelo Branco, ou seja, quem estiver no sentido Interlagos pode continuar morrendo... A prefeitura diz que estuda mudanças para tornar a lei aplicável também no sentido Interlagos a partir de 2020, porque hoje não existe uma pista local em diversos trechos. Mas ninguém se manisfesta sobre como controlar as bicicletas, que cada vez mais rodam nas vias principais sem qualquer tipo de lei, ou uma regulamentação para patinetes elétricos, a nova febre da cidade, que ameaçam pedestres em calçadas e também circulam entre os carros nas ruas de bairro sem qualquer segurança.
É uma pena que, vista como solução de transporte em diversas partes do mundo, a moto ainda seja tratada como problema no Brasil - e não os motociclistas irresponsáveis e a falta de uma política de segurança viária efetiva. Mais uma vez, os bons motociclistas pagarão pelos maus e terão outro direito perdido.
Este texto é de cunho opinativo e não reflete necessariamente a opinião do site
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