Por conta da minha profissão de "testador de carros", tenho o privilégio de não precisar ter um automóvel pra chamar de meu. Até tenho vontade, mas, por conta dos inúmeros novos modelos para avaliar, eu acabaria não usando-o quase nunca. Pois bem, acontece que hoje a vida de casado faz com que tenhamos um segundo carro em casa - o de teste e o da minha esposa. Chegaram as férias e fomos viajar por uma semana. Só que desta vez eu não queria a responsabilidade de estar com um carro de montadora enquanto estava no lazer. Então escalei o Ford Ka 1.0 2016 da esposa para uma viagem de São Paulo até Búzios, litoral do Rio de Janeiro, ida e volta.
Claro que já tive diversos contatos com o "kazinho" e com outros 1.0 de teste, mas fazia tempo que não dirigia um por tantos quilômetros (foram mais de 2 mil km no total da viagem). E a experiência foi rica: impressionante como esses motores evoluíram nos últimos anos, especialmente com a chegada das novas unidades de 3 cilindros, como esta que equipa o hatch da Ford. Vejamos: são 85 cv de potência e 10,7 kgfm de torque, enquanto um Fiat Uno Mille, o pioneiro dos 1.0 nos anos 1990, tinha parcos 48,5 cv e 7,4 kgfm. Ou seja, o rendimento de um 1.0 moderno é semelhante ao que rendia um 1.4 ou 1.5 litro de anos atrás.
Além do bom desempenho, na estrada o Ka revela que outro incômodo comum dos 1.0 ficou para trás - o motor "berrando" na cabine. Mesmo rodando com 3,5 mil a 4 mil giros em quinta marcha, com a velocidade entre 110 e 120 km/h, você viaja em silêncio. Pintou um aclive? Ele encara a maioria sem precisar de redução de marcha, uma situação até pouco tempo impensável num "milzinho". Já o ar-condicionado ainda interfere um pouco na performance, mas não é mais aquele caso de escolher fazer uma ultrapassagem ou ficar no fresquinho. Dá para reduzir uma marcha e conciliar as duas coisas.
Sem passar apuros ao ultrapassar caminhões e com baixo ruído interno, o Ka se revelou um ótimo companheiro de viagem. Tudo bem que viajamos em apenas duas pessoas e com o porta-malas não abarrotado, mas não creio que ele ia perder muito se tivesse levando mais duas crianças. Da última vez que viajei com um 1.0 por pouco mais de mil km, lembro de não ter ficado com saudade nenhuma da experiência. Desta vez, sinceramente não senti falta de mais motor - isso considerando um ritmo de viagem tranquilo, claro.
Estou falando do Ka, mas também poderia estar falando do up!, do Gol, do Fox, do HB20, do March ou do Uno Firefly - todos com propulsores 1.0 de última geração, com 3 cilindros e comandos variáveis. Existem também os 1.0 turbinados, como o próprio up! e o HB20, mas aí é covardia - eles andam na frente de muito carro grande por aí. Tanto que a VW fez uma versão ainda mais forte de seu 1.0 TSI para o Golf, e o carro ficou show.
No começo, os 1.0 eram uma distorção de mercado. Nasceram por incentivo do Governo, que cobrava menos impostos para os carros com motores de até 1 litro, mas eles tinham desempenho sofrível. Tanto que nos últimos anos foram perdendo espaço para os 1.4 e 1.6. Mas, hoje, com bom desempenho e ainda o apelo do baixo consumo, os "mil" voltaram a crescer nas vendas. Talvez não voltem a representar os mais de 50% do mercado como aconteceu em 2001, mas têm ficado em torno dos 37% depois de chegarem a representar apenas 31% dos emplacamentos.
E você, compraria um 1.0 moderno ou ainda tem "preconceito" contra a baixa cilindrada?
RECOMENDADO PARA VOCÊ
Ostentação no Instagram está acabando com a cultura automotiva
Argentina: Territory vende mais que Compass, enquanto Hilux lidera
Corridas de kart merecem um lugar nas Olimpíadas
Polo lidera e HB20 se destaca; veja os carros mais vendidos de outubro
Vendas da Ford na Europa derreteram e o motivo é óbvio
Novo Mercedes CLA 2026 terá motor 2.0 turbo fabricado na China pela Geely
Opinião: 'A Peugeot tem tudo para fazer um 208 GTi argentino'