Foi por pouco que, no fechamento das vendas de julho, o Gol não caiu para a terceira colocação do ranking. Com o Palio abrindo vantagem na liderança e o Onix ficando cada vez maior no retrovisor do VW, a tendência é que 2014 fique marcado como o começo da nova fase do mercado automotivo brasileiro, apesar das vendas abaixo do esperado. E isso é bom. Entenda o porquê.
Analistas do setor não falam abertamente, mas, dentro de diversas montadoras, o sentimento é de que o mercado brasileiro está saturado da forma como é hoje. Claro que ainda há muito o que evoluir, pois nossa relação carro por habitante (1 para 6) ainda é menor que na Argentina. No entanto, nos grandes centros, essa relação já atingiu níveis europeus faz algum tempo (1 para 2). Ou seja, para sair do patamar médio dos 3,5 milhões de automóveis ano, o Brasil vai precisar de uma nova política sobre carga de impostos e infra-estrutura.
Ao mesmo tempo, neste cenário estamos assistindo à chegada de novas fabricantes, e todas anunciando números de produção animadores. Utopia? Não. Como diz o presidente da Anfavea, Luiz Moan, "ninguém faz um investimento desses pensando a curto prazo". Pode ser, mas diante dos fatos também é difícil acreditar em mercado para todo mundo. Ou seja, serão mais marcas e modelos dividindo o mesmo bolo. E isso nos leva ao amadurecimento do nosso mercado.
Em outras palavras, será muito difícil uma marca ter cerca de 20% de participação, como acontece hoje com Fiat, VW e GM. E as três grandes são justamente as mais propensas a perderem vendas - principalmente as que não tiverem linhas atualizadas e em sintonia com o que o consumidor deseja. Aos poucos, o consumido brasileiro vai ficando mais exigente: já não aceita mais carro pelado e, enfim, passa a dar atenção aos itens de segurança. Prova disso é que hoje já temos 1.0 com controle de estabilidade, e em breve outros carros compactos terão o recurso. Além disso, o número de estrelas obtidas nos testes de impacto também está sendo levado em conta na hora da compra.
Isso tudo nos leva a questão crucial: com mais marcas disputando o mesmo consumidor, a tendência é ter produtos melhores e com preços mais competitivos. Anote aí: Audi, BMW-MINI, Mercedes-Benz, Jaguar-Land Rover, Jeep, Chery e JAC em breve terão carros nacionais, sem contar as recentes investidas de Nissan e Honda. Desta forma, não só a briga entre as fabricantes como também entre os modelos deve se acirrar. Hoje ainda vemos lideranças "tranquilas" em alguns segmentos, como a Strada nas picapes pequenas, a S10 entre as médias, o EcoSport entre os SUVs compactos e a alternância de Civic e Corolla entre os sedãs médios. Num mercado maduro, a dança das cadeiras tende a ser maior.
Vejamos: a Renault terá uma picape derivada do Duster (rival da Strada), a Fiat terá um novo conceito de picape média com plataforma de carro de passeio (vai acabar brigando com a S10) e o EcoSport vai ganhar uma enxurrada de concorrentes vindos da Honda (Vezel), Jeep (Renegade), Hyundai (ix25) e Nissan (SUV do March), entre outros. No segmento de sedãs médios, nunca houve tantas boas opções. E a entrada de Audi A3, BMW Série 3 e Mercedes CLA nacionais na briga tem tudo para esquentar o tempo no andar de cima.
Ainda é um pouco cedo para afirmar que o mercado brasileiro vai se transformar, mas não deixa de ser um começo. Ano passado, fiz uma análise dizendo que o Gol poderia perder a liderança em 2014 (relembre clicando aqui), o que de fato está acontecendo após 27 anos. Sinal dos novos tempos.
Galeria: Opinião: dança das cadeiras na liderança mostra mercado mais maduro