Opinião: limitador de 110 km/h para motos é tão arbitrário quanto ineficaz
Opinião: limitador de 110 km/h para motos é tão arbitrário quanto ineficaz
Após não conseguir emplacar a obrigatoriedade do colete-airbag, por ser muito caro para o motociclista, agora o senador Marcelo Crivella quer a instalação de limitador de velocidade para motos e motonetas, independente da cilindrada do modelo, para que não seja ultrapassado o limite de 110 km/h. A sugestão foi aprovada na comissão da Câmara dos Deputados e segue para votação em plenário.
O projeto ainda precisa passar por um turno suplementar de votação, ou seja, está aberto para emendas até a próxima reunião. Se até lá não forem apresentadas novas sugestões, a proposta seguirá para a Câmara dos Deputados com exatamente a redação definida nesta última quarta-feira (4).
Pois a ideia mostra o quanto Crivella não entende nada de motos, ou muito menos já pilotou uma na vida. Para começar, o limite de 110 km/h é totalmente arbitrário e contrário a qualquer outra lei no Brasil. Afinal, o limite máximo em nossas estradas é de 120 km/h. E basta um pouco de observação e simples análise de dados estatísticos para perceber que a grande maioria dos acidentes de moto acontece na cidade, e não nas estradas. Sob este aspecto, 110 km/h continua sendo uma velocidade altíssima para se trafegar em ambientes urbanos.
Outra incoerência: as motos mais vendidas do país, esmagadoramente, têm cilindrada de 125 e 150 cc, o que significa que a maioria delas sequer atinge 110 km/h de velocidade máxima. Da mesma forma, donos de motos maiores ficariam penalizados em uma ultrapassagem, por exemplo, em que o limitador certamente faria a moto engasgar bem no meio da manobra (quando chegasse a 110 km/h), resultando numa situação muito mais perigosa do que atingir os 120 km/h atualmente legais nas estradas.
Mais uma exemplo de que o senador tem total desconhecimento do mundo das duas rodas é que, numa moto pequena, 110 km/h geralmente já é uma velocidade insegura devido à estrutura desses modelos, com freios simples (algumas vezes com tambor na frente) e pneus finos, entre outros fatores. Numa moto maior, ao contrário, há sistemas eletrônicos como freios ABS (com discos potentes), controle de tração e toda uma estrutura que faz com que seja muito mais seguro trafegar em alta velocidade do que a 80 km/h numa motoneta.
Não estou defendendo aqui a velocidade acima da lei na cidade ou nas estradas, que fique bem claro, mas acho que o caminho para prevenção de acidentes com moto passa pela educação e formação dos condutores, além do uso de vestimentas adequadas para, em caso de queda, reduzir as chances de ferimento. Então, por que em vez do caro colete-inflável não se sugeriu a obrigatoriedade de jaquetas com proteção, mais baratas e já eficientes? Por que não se obriga o uso de luvas protetoras, uma vez que as mãos tendem a ser o primeiro ponto de contato com o solo em caso de queda?
Para terminar, o que precisa ser feito (e urgente!) é mudar o modo como as moto-escolas "ensinam" os futuros motociclistas. Ou você acha que fazer um circuitinho fechado num modelo 125 cc somente em primeira marcha, sem nunca ter ido para a rua, prepara alguém para pilotar uma moto por aí? Fica a dica, senador.
Fotos Rafael Munhoz
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