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OPINIÃO: Reles compradores ou simples “Zé Ninguém”?

OPINIÃO: Reles compradores ou simples “Zé Ninguém”?

OPINIÃO: Reles compradores ou simples “Zé Ninguém”?
Somos um dos maiores mercados automotivos do mundo, estamos em uma excelente fase de crescimento econômico, temos estrutura para receber dezenas de outras indústrias, temos poder de compra. Então, por que a indústria automotiva ainda nos trata como reles compradores? Sabemos que a carga tributária nacional é enorme e estupidamente imoral. Mas chega dessa desculpa para tentar nos fazer de bobos. O brasileiro se acostumou a comprar “gato por lebre” e, pior, a achar que está levando para casa uma das oitavas maravilhas do mundo automotivo. Quando os importados aportaram neste solo foram recebidos com muita desconfiança. Com o passar dos meses o que se viu foi uma reconfiguração no comportamento de milhares de consumidores que deixaram de caminhar para trás para dar um passo rumo ao futuro. Todavia, como por aqui tudo o que é bom dura pouco, veio o lobby das montadoras “nacionais” e o governo recuou, elevando o IPI de quem estava fazendo a coisa certa. Em outras palavras, tratando o consumidor como ele merece (?) ser tratado. Não estou aqui questionando se uma marca é ou não melhor do que outra. Se aquelas que geram empregos no país merecem ou não ter um tratamento diferenciado. O que questiono é o meu direito de ter acesso a produtos de qualidade superior, confortáveis e seguros. É um tanto hilário quando se fala que o brasileiro é apaixonado por carros. Por quais carros, se a maioria do que temos sequer é considerado como tal em outras nações? Talvez sejamos alucinados pelos automóveis de verdade, aqueles que poucos brasileiros podem ter, e cuidadosos com os que possuímos. Façamos uma retrospectiva a respeito de como são feitos (a grande maioria) os lançamentos no Brasil. - “Novo isso, novo aquilo... você ainda terá um!” - “Novo XXXX, você nunca teve outro igual!” - será? Pelo amor de Deus, relançam modelos como se eles houvessem passado por uma total reestilização. Mas, como? Ah, vá lá, mudam uma lanterna aqui, colocam uma nova tonalidade ali e, para coroar, fazem uma promoção estendendo a garantia (aplausos) por mais um ou dois anos. É brincadeira! Quer dizer, é uma piada! Em novembro, passamos por um vexame internacional. Na segunda fase do Latin NCAP, programa que avalia a segurança dos veículos comercializados na América Latina, soubemos (se é que já não sabíamos) que alguns de nossos modelos mais populares não eram seguros o suficiente por conta de fragilidades estruturais. Durante os testes ficaram evidentes problemas nas carrocerias, incapazes de aguentar impactos mais fortes, além da presença de estruturas perigosas que apresentavam graves riscos de lesão e de morte para os passageiros.
OPINIÃO: Reles compradores ou simples “Zé Ninguém”?
Diante de tudo isso ainda tem montadora afirmando que seus modelos são mais do que EX-CE-LEN-TES. É desconcertante ter que presenciar esse posicionamento e saber que há cidadãos dispostos a brigar por quem os ludibria. Defender um produto por o que realmente ele vale é uma coisa completamente diferente de discutir sua significância e seus benefícios ou não para o consumidor. Sobre apoiar certas marcas pelo que elas representam é algo normal. O que não deve acontecer é ignorar quando o mercado quer se aproveitar da “ingenuidade” e paixão desenfreada de alguns. A deslealdade começa por quem deveria cuidar dos interesses do povo. Afinal, do pouco que já é feito o mínimo é para beneficiar a população. Na relação indústria x governo a nossa importância é ínfima. Sabe por quê? Porque as leis estão aí para serem burladas e ainda deixam fendas imensas para que a parte mais frágil da relação continue como está: frágil. A decisão é somente nossa. Atuar coletivamente para sermos tratados com o respeito que nos é devido ou agir individualmente e continuarmos sendo vistos como reles compradores ou simples “Zé Ninguém”. Afinal, parodiando a música da banda Biquini Cavadão: “eu sou do povo, eu sou um ‘Zé Ninguém’, aqui embaixo as leis são diferentes...” Por Michelle Sá

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