Acordar com o estrondo de um trovão não é exatamente o que você espera no dia em você vai pilotar uma das motos estradeiras mais famosas do mundo. Mas o fato é que a agua que batia na janela do meu quarto era tão real quanto o bipe do WhatsApp no celular avisando que a nova BMW R 1250 RT estaria na minha garagem em mais alguns minutos.

Para quem não conhece, ela é, digamos, uma versão "on road" da R 1250 GS - mas também pode chamá-la de "Série 5" sobre duas rodas, considerando que o "Série 7" seria a K 1600 GTL. 

Em resumo, a estradeira alemã tem como destaque o motor de 1.254 cc com comando variável, o mesmo da bigtrail, e oferece uma série de itens de conforto e comodidade para longas viagens, tais como para-brisa ajustável eletricamente, manoplas e bancos aquecidos, sistema de som com bluetooth e, claro, uma ciclística incrível que faz você não cansar de pegar estrada. Por isso, mesmo com chuva, eu sabia que o dia ia ser memorável. 

Para melhorar, a "minha" R 1250 RT veio na belíssima configuração "Option 719", que combina pintura azul escura com bancos no tom caramelo e capas de cabeçote e de motor diferenciadas, além das rodas esportivas. Importada da Alemanha (é produzida em Berlim), a estradeira da marca bávara cobra o preço da exclusividade: R$ 165.750 na versão na cor Branco Alpine e R$ 178.750 nesta Azul Planet Option 719 como a avaliada.

Este tipo de moto, porém, não será comprada por quem pergunta o preço. Isso porque, da forma como será vendida por aqui, a R 1250 RT se enquadra na categoria de brinquedo de luxo, onde exclusividade e "vontade de ter" são mais importantes que custo-benefício. Sim, como versão "on road" da GS 1250, ela não justifica seu valor. Mas a BMW acredita que o consumidor dela é justamente aquele que procura algo diferente da GS. E, olhando ao redor, a concorrente mais próxima também está longe de ser acessível: a Honda GL 1800 Gold Wing sai por R$ 142.012. E a opção topo de linha da BMW, a K 1600 GTL, fica ainda mais distante, partindo de R$ 196.750. 

Num primeiro olhar, a R 1250 RT pode intimidar por conta de sua grande carenagem dianteira, que faz ela parecer maior (e mais pesada) do que realmente é. De fato, são 279 kg em ordem de marcha, incluindo os aproximados 25 litros de gasolina do imenso tanque de combustível (necessário por conta do consumo na casa dos 15 km/litro em nossa avaliação). Mas, quando montamos e a tiramos do pezinho, a impressão de "pesadona" já começa a se desfazer. 

Em movimento, essa sensação se esvai por completo. E logo eu estava no corredor entre os carros a caminho da estrada, sem nenhum problema. Claro que não se trata de um moto urbana, mas dá para usar na cidade numa boa - basta ter paciência para saber que ela não entra em qualquer espaço. Uma vez na estrada, nem a chuva atrapalha o passeio. Aciono eletricamente o para-brisa para a altura mais elevada (ele levanta e muda a inclinação para mais vertical), de modo que minha jaqueta fica praticamente seca. Enquanto isso, o motor boxer (com as cabeças dos cilindros para "fora") protege as pernas da água e detritos. Quase um carro!

Passado o trecho inicial de mais movimento na estrada, é hora de explorar o motorzão de 1.254 cc. Engana-se quem pensa que trata-se do antigo 1.200 com outro cabeçote e um pouco mais de cilindrada. Na verdade é quase um outro motor, incluindo novo cabeçote, pistões, sistema de arrefecimento e, claro, a cereja do bolo, o comando variável shiftcam. Já não bastasse o elevado toque do motor, de 14,6 kgfm a 6.250 rpm, essa variação deixa as respostas em baixas rotações ainda mais vigorosas, fazendo com que as trocas de marcha se tornem quase opcionais - pode vir a 50 km/h em sexta e acelerar que o motor responde sem engasgos. 

Em giros médios e altos, é a potência de 136 cv a 7.750 rpm que fala mais alto, acompanhada de um ronco grave e uma fala grossa do escapamento. Velocidades de estrada são atingidas muito facilmente, pedindo atenção para não passar do limite sem nem perceber. Junte um motorzão forte, uma excelente proteção aerodinâmica e ainda um sistema de som com conexão para smartphone e temos a receita perfeita para viagens longas - e para perder a noção da velocidade. Sim, ela chega aos 200 km/h muito facilmente. Afinal, foi pensada para rodar nas autobanhs alemães. 

Outro item de comodidade fica por conta do quick shifter que permite trocar as marchas, tanto para cima quanto para baixo, sem necessidade de apertar a embreagem. O sistema funciona melhor em altos giros, para mudanças rápidas, mas também pode ser requisitado a qualquer hora (embora em baixa dê um tranquinho). Se o dia estiver frio e chuvoso, como no nosso test-ride, você pode aquecer as manoplas e os bancos. 

O trajeto original da nossa viagem era quase todo por retas, mas resolvi programar uma "fugida" pela Estrada dos Romeiros para avaliar a RT nas curvas - e também na superação das inúmeras lombadas do caminho. Palmas para a suspensão herdada da GS, Telelever na dianteira e Paralever na traseira, com suficientes 120 mm de curso na frente e 136 mm atrás. Ela não tem, claro, a maciez da GS nos obstáculos, mas absorve bem, e em compensação é mais ágil e estável nas curvas, ajudada também pela roda dianteira aro 17".

Seu porte e peso avantajados não a impedem de ser uma moto parceira nas inclinações e há muito torque para as saídas de curva, permitindo uma pilotagem bem animada em trechos sinuosos. Além disso, a suspensão ajustável ESA permite uma regulagem mais firme, macia ou com acerto automático - que trabalha muito bem. Por fim, os freios são potentes à altura, com discos duplos flutuantes de 320 mm na frente e simples de 276 mm na traseira, que estancam os quase 300 kg da RT com sobras. 

Minhas poucas críticas ficam para a falta de um velocímetro digital, para ter uma leitura de velocidade mais rápida, e para os faróis principais ainda halógenos - somente as luzes diurnas e os faróis de neblina são em LED.   

Na chegada ao destino, meu companheiro de viagem (que estava numa trail quase sem proteção aerodinâmica) e eu estávamos em estados tão diferentes que eu parecia ter vindo de carro. Sem cansaço, praticamente seco e já pronto pro caminho de volta. Ou seja, a R 1250 RT é realmente uma estradeira nata - até debaixo d"água! 

Fotos: autor

 

BMW R 1250 RT

MOTOR dois cilindros boxer, comando variável ShiftCam, 1.254 cm3, arrefecimento ar/líquido, gasolina
POTÊNCIA/TORQUE 136 cv a 7.750 rpm / 14,6 kgfm a 6.250 rpm
TRANSMISSÃO câmbio de 6 marchas; transmissão por cardã
SUSPENSÃO Telelever na dianteira com barras de 37 mm (120 mm de curso); monobraço oscilante Paralever ajustável na pré-carga na traseira (136 mm de curso)
RODAS E PNEUS aro 17" na dianteira com pneu 120/70; aro 17" na traseira com pneu 180/55 
FREIOS discos duplos flutuantes na dianteira (320 mm) e disco simples na traseira (276 mm), com ABS integral
PESO 279 kg (em ordem de marcha)
DIMENSÕES comprimento 2.222 mm, largura 985 mm (com malas 990 mm), altura 1.405 a 1.570 mm (conforte altura do para-brisa ajustável), entre-eixos 1.485 mm, altura do banco 805/825 mm
TANQUE 25 litros (aproximado)
PREÇO  R$ 165.750 / R$ 178.750 (Option 719)

Galeria: BMW R 1250 RT (BR)

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