Desde que foi lançada no Brasil, no ano passado, a nova geração do BMW Série 3 vem dominando as vendas de sedãs premium no país. Primeiro com o 330i importado, depois com o 320i nacional e, agora, com a versão híbrida 330e, que estreia desde já como o modelo mais interessante da gama - isso sem esquecer o também novo M340i, este com público mais restrito devido ao preço e proposta esportiva. 

Mas por que o 330e é mais interessante que o próprio 330i ou mesmo o 320i? Porque ele entrega mais desempenho com o menor consumo entre os três, e ainda num preço intermediário entre os dois modelos somente a combustão, por conta dos incentivos fiscais aos veículos eletrificados. O 330e chega apenas na versão M Sport, já recheada de itens de série, como rodas aro 19", faróis a laser, teto solar e o sistema mais completo de multimídia da marca (com comando de voz, 4G nativo e conexões Apple Carplay e Android Auto sem fio), além do pacote de auxílios ao motorista que inclui piloto automático adaptativo, frenagem automática de emergência, alerta de ponto cego e aviso de saída de faixa com atuação na direção. Mas, como todo BMW que se preze, a grande sacada do 330e está na mecânica. 

BMW 330e (Teste BR)

Sob o capô, pulsa o mesmo motor 2.0 turbo do 320i, com 184 cv e 30,6 kgfm de torque. A diferença é que, acoplado à transmissão automática de 8 marchas, está um motor elétrico que gera uma potência contínua de 68 cv (50 kW), com pico de 113 cv (83 kW). Apesar de a BMW divulgar a potência máxima do 330e como sendo de 252 cv, na verdade o sedã tem picos de 292 cv quando o acelerador é exigido ao máximo (durante 10 segundos). É o recurso que a BMW chama de XtraBoost, e que fez o modelo híbrido acelerar de 0 a 100 km/h em apenas 5,9 segundos em nosso teste - deixando para trás o 330i a gasolina, que fez 6,1 segundos na mesma prova, mesmo com o 330e sendo cerca de 300 kg mais pesado. 

Além do desempenho digno de esportivo quando os dois motores atuam unidos, o mais legal da nova versão do Série 3 é a capacidade de se ajustar ao tipo de uso. Caso a bateria de 12,0 kWh esteja totalmente carregada, você pode rodar até 59 km no modo 100% elétrico, que permite uma velocidade máxima de 140 km/h - isso mesmo, para se ter ideia de quanto esse motor é forte. Na condução urbana, entrega respostas mais que suficientes. Recomendamos, porém, que o interessado no 330e tenha uma tomada na garagem (na compra carro vem uma Wallbox incluída), pois usar um dos pontos de recarga públicos ainda é um transtorno. Em três dos visitados pela reportagem do Inside EVs, localizados no estacionamento de supermercados da capital paulista, em todas as ocasiões a vaga de recarga estava ocupada... por um carro a combustão! Sim, a transição aos carros elétricos vai exigir uma mudança na sociedade, inclusive no que diz respeito à educação.

BMW 330e (Teste BR)
BMW 330e (Teste BR)

Se não tiver tomada por perto, OK, você pode carregar a bateria do 300e usando o próprio motor a combustão. Para tanto, basta apertar um botão com o desenho de uma bateria próximo da alavanca de câmbio. O problema, neste caso, é que o motor 2.0 turbo fica encarregado de mover o carro e carregar a bateria, de modo que seu consumo aumenta consideravelmente, ficando próximo dos 6 km/litro. No entanto, esse é o pior cenário. No melhor, usando o modo elétrico, você não gasta nenhuma gota de gasolina. 

Já no modo híbrido, o 330e repete o comportamento de outros híbridos plug-in (carregáveis na tomada) que testamos, priorizando sempre que possível o motor elétrico - o que faz o consumo variar bastante. Em algumas ocasiões, cheguei a pensar que estava no modo 100% elétrico, pela pura e simples falta de acionamento do motor a combustão. No fim, a média urbana ficou em 29,4 km/litro. Mas pode passar dos 40 km/litro caso seu trajeto não exija a entrada do motor a gasolina. Já na estrada, o motor 2.0 é mais exigido e a média ficou em 16,6 km/litro, também no modo híbrido. 

Para a recarga usando o Wallbox que vem com o carro, cuja potência é de 21 kW, a BMW divulga tempo de 2 horas e 40 minutos para ter 80% da bateria completa. Ou seja, quem roda até cerca 50 km por dia (não chegamos nos 59 km divulgados) poderá ficar livre da gasolina se deixar o carro carregando de dia, na garagem do escritório, ou de noite, na garagem de casa. 

Por conta da presença da bateria, que foi instalada debaixo do banco traseiro, o tanque de combustível ficou menor (40 litros) e teve de ser reposicionado acima do eixo traseiro. Tal arranjo roubou 105 litros do porta-malas, fazendo com que o compartimento fique mais raso e comporte apenas 375 litros. É basicamente o mesmo das versões a gasolina que possuem o estepe (365 litros). Os pneus são do tipo Runflat, que podem rodar furados até o borracheiro mais próximo (não há pneu reserva no 330e). 

Ter dois motores e a bateria do sistema elétrico deixou o Série 3 híbrido mais pesado, mas isso pouco interfere na (excelente) dinâmica do sedã. Ele continua com a traseira bem "viva" (onde está a tração), uma direção afiada e freios sublimes, com pedal firme. O fato de ser eletrificado não impede uma condução esportiva, pelo contrário, temos ainda mais força que no 330i tanto para as acelerações quanto para as retomadas. E a resposta do câmbio não muda em nada em relação ao modelo somente a combustão, com trocas rápidas e reduções eficientes antes da curvas. 

Variando entre os modos de condução (elétrico, híbrido ou esportivo), você pode ter o 330e mais esperto (resposta de motor e câmbio), mais econômico (mexe até no ar-condicionado) e com a direção mais leve ou pesada. Também é possível ter o desempenho máximo com a direção leve, pelo modo individual. A suspensão não muda a rigidez, mas seu acerto foi finamente calibrado para firmeza nas curvas sem descuidar do conforto ao passar por imperfeições. É mais suave e silenciosa, por exemplo, que a do M135i xDrive que testamos recentemente no Motor1.com.     

Ao fim da semana de testes, ficou a certeza de que o 330e estreia já como o mais sensato dos Série 3. Por R$ 297.950, ele é mais caro que o 320i M Sport (R$ 259.950), mas entrega bem mais desempenho e a opção de rodar sem gastar gasolina, além do consumo muito mais eficiente - e de ficar livre do rodízio na capital paulista. Já o 330i Sport, de R$ 319.950, vai precisar de novos argumentos de venda...

Fotos: autor/Motor1.com

 

Ficha Técnica - BMW 330e

MOTOR

combustão: dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, 1.998 cm³, duplo comando de válvulas com variador na admissão e escape, injeção direta, turbo, gasolina

elétrico: traseiro na transmissão

POTÊNCIA/TORQUE

combustão: 184 cv de 5.000 a 6.500 rpm; 30,6 kgfm de 1.350 a 4.250 rpm

elétrico: 113 cv (83 kW) e 27 kgfm 

combinados: 252 cv; 42,8 kgfm de torque

TRANSMISSÃO automático de 8 marchas, tração traseira
SUSPENSÃO independente McPherson na dianteira e multilink na traseira 
RODAS E PNEUS liga-leve aro 19" com pneus 225/40 R19
FREIOS discos ventilados na dianteira e traseira
PESO 1.840 kg em ordem de marcha
DIMENSÕES comprimento 4.709 mm, largura 1.827 mm, altura 1.442 mm, entre-eixos 2.851 mm
CAPACIDADES porta-malas 375 litros, tanque 40 litros, bateria 10,8 kWh
PREÇO  R$ 297.950
MEDIÇÕES MOTOR1 (gasolina)
    BMW 330e
  Aceleração  
  0 a 60 km/h 2,8 s
  0 a 80 km/h 4,2 s
  0 a 100 km/h 5,9 s
  Retomada  
  40 a 100 km/h em S 4,3 s
  80 a 120 km/h em S 3,8 s
  Frenagem  
  100 km/h a 0 37,7 m
  80 km/h a 0 24,0 m
  60 km/h a 0 13,7 m
  Consumo (modo Hybrid)  
  Ciclo cidade 29,4 km/litro (modo Hybrid)
  Ciclo estrada 16,6 km/litro (modo Hybrid)

Galeria: BMW 330e (Teste BR)