Teste rápido Fiat Uno Attractive 1.0 3 cilindros - Quando o melhor está sob o capô
O Uno é um dos poucos casos na indústria brasileira em que o motor é mais novo e moderno que o carro
Há não muito tempo, o Brasil recebia carros novos com os mesmos motores de sempre. Defasados demais, alguns deles em algumas décadas. O máximo que acontecia era uma mudança “leve”: taxa mais alta, comando diferente, algum aumento de cilindrada… Mas o motor era essencialmente o mesmo. O Fiat Uno 2017 inverteu o jogo. Com o lançamento do motor GSE, o Firefly, o mercado ganhou um motor novo, e elogiável. Mas, além de beneficiar o modelo, ele acabou mostrando que o Uno, sem mudanças radicais desde 2010, está envelhecendo. Com alguns agravantes: o preço mais alto, por conta de mais itens de série, e uma competição com cada vez mais apetite.
O Uno Attractive começa em R$ 41.840. Tudo bem que ele vem com direção elétrica, ar-condicionado, faróis de neblina, vidros elétricos dianteiros, travas elétricas e computador de bordo, mas esse valor é R$ 2.250 mais alto que o do Chevrolet Onix Joy, atual líder do mercado. O Chevrolet só não traz o computador de bordo e o motor de 3-cilindros, mas é maior e mais espaçoso do que o Uno, além de mais moderno. O mesmo acontece com Ford Ka (R$ 43.290), que traz motor equivalente mais ótima reputação de segurança (4 estrelas no Latin NCAP), rádio de série e Isofix, e com Renault Sandero (R$ 42.400), que também acabou de ganhar motor 1.0 tricilíndrico novo em folha.
O que mais uma família, das que só podem ter um carro em casa, pode querer além de espaço e economia de combustível? Espaço o Uno fica devendo (pelo menos algo próximo do que seus concorrentes oferecem), mas sua sede é bastante contida. E é aqui que ele começa a se beneficiar do Firefly (vaga-lume, em inglês).
O “vaga-lume”
Na cidade, com etanol, o Uno fez 9,3 km/l. Foi uma melhoria relativamente modesta em relação ao modelo com motor Fire, que fez 9 km/l em nossos testes. Na estrada, ela foi bem mais sensível: 13,2 km/l, contra 12,4 km/l do Fire. Mas não foi apenas em consumo que o motor da família GSE (Global Small Engine) beneficiou o hatch, como nossos números evidenciam. O motor mais leve e os pneus verdes reduziram o espaço de frenagem. Se antes o Uno levava 45,2 m para frear completamente, quando vindo a 100 km/h, agora gasta 44,4 m. Essa pode ser a diferença entre um “ufa” e um “lascou-se”.
No outro extremo, o Uno também ficou muito mais esperto, acelerando de 0 a 100 km/h em 14,9 s, contra 17,4 s do modelo com motor Fire, sem falar nas retomadas que antes demoravam uma eternidade e agora se equiparam às dos melhores "milzinhos". Por ironia, o Uno 1.0 que mais merecia ser chamado de “Vivace” agora é chamado apenas de “Attractive”.
Houve aperfeiçoamentos na construção e no acabamento, mas o Uno ainda parece ser um modelo simples. Há partes da lataria aparentes por entre os painéis das portas, por mais que eles tenham sido concebidos para escondê-los. Os bancos não oferecem muito apoio lateral e trazem assentos curtos. O acabamento, ainda que bem cuidado e mais cuidadoso que no Uno anterior, usa plásticos duros e de alto brilho. Como não poderia deixar de ser em um modelo de entrada, diga-se.
Ao volante
Do ponto de vista dinâmico, o que se destaca é o motor 1.0 Firefly. Elástico, do modo que um 1.0 pode ser, ele tem bom torque em baixa com suas duas válvulas por cilindro e não exige tantas trocas de marcha no anda-e-para imposto pelo trânsito pesado. Ali, o Uno está em seu ambiente natural. Em avenidas largas ou estradas, porém, você nota que a assistência elétrica da direção a deixou imprecisa. O peso é um pouco menor do que o ideal e é preciso corrigir a rota com uma certa frequência. Falta um pouco mais de firmeza e de disposição em repassar o que o asfalto conta para os pneus.
Com um acerto mais voltado ao conforto, o Uno é estável, mas não inspira uma condução mais arrojada. A carroceria inclina mais do que seria desejável em curvas fechadas. Em outras palavras, ainda que o ronco do 3-cilindros instigue uma tocada mais rápida, a suspensão não acompanha o fôlego do motor. Vale ressaltar que e essa não é a proposta do carro, mas outros 1.0 são mais legais neste ponto.
Por fim, o Uno é pequeno. Um motorista de 1,80 m só conseguirá levar crianças pequenas no banco de trás. E poderá ficar apertado com cadeirinhas atrás de seu banco. O porta-malas, de 290 l, é igual ao do Chevrolet Cruze Sport6, o hatch, o que poderia ser um elogio, mas a verdade é que o Chevrolet fica devendo um bocado nesse quesito. O Uno se vira, mas o do Renault Sandero, por exemplo, oferece 320 l.
Não dá para negar que o pequeno Fiat melhorou muito em pontos fundamentais, como consumo, aceleração e frenagem. Ele também está com interior mais bem cuidado e reserva bons mimos para quem se dispõe a pagar R$ 3.740 pelo kit Tech. Ele acrescenta alarme ao carro, um item tão fundamental que o torna quase obrigatório. E vem acompanhado de ESC, ASR e Hill Holder, além do sistema de rádio. Com ele, o Uno chega a R$ 45.580.
Por este valor, porém, o Uno fica pequeno diante da nova concorrência, literalmente. O X6H talvez consiga sanar essa lacuna, oferecendo um modelo mais moderno e mais espaçoso para completar a linha da fabricante italiana. Enquanto isso não acontece, o Uno é a melhor opção entre os muitos 1.0 oferecidos pela Fiat. O problema é que há muitas outras além de suas fronteiras.
Itens de série
Uno Attractive: ar-condicionado, direção elétrica, vidros elétricos dianteiros, travas elétricas, computador de bordo e faróis de neblina.
PRÓS
- O motor 1.0 GSE é elástico, moderno e econômico
- A aceleração de 0 a 100 km/h, que era das piores dos 1.0, passou a figurar entre as melhores.
- Equipamentos: além do Ka, o Uno é o único 1.0 com opção de controle de estabilidade.
CONTRAS
- É apertado quando comparado a seus concorrentes.
- Seu projeto, de 2010, dá sinais de cansaço.
- Vendido a R$ 41.840, ele perdeu o apelo de pechincha e cai numa faixa de preço em que se encontra produtos melhores em diversos aspectos. Talvez não apenas em motor, mas o GSE não é suficiente para fazer a balança pender a seu favor.
Texto e fotos: Gustavo Henrique Ruffo
Fiat Uno Attractive 1.0
MOTOR | dianteiro, transversal, três cilindros, 6 válvulas, 999 cm³, comando variável de válvulas, com ciclo Atkinson/Miller em cargas parciais, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 72/77 cv a 6.250 rpm / 10,4/10,9 kgfm a 3.250 rpm |
TRANSMISSÃO | manual de cinco marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | de aço de aro 14", com pneus 175/65 R14 |
FREIOS | discos sólidos na dianteira e tambores na traseira, com ABS e ESP |
PESO | 1.010 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento de 3.820 mm, largura de 1.636 mm, altura de 1.480 mm e entre-eixos 2.376 mm |
PORTA-MALAS | 290 litros |
PREÇO | R$ 41.840 |
MEDIÇÕES | |||
---|---|---|---|
Uno Attractive 1.0 | |||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h | 5,2 s | ||
0 a 80 km/h | 10 s | ||
0 a 100 km/h | 14,9 s | ||
Retomada | |||
40 a 100 km/h em 3ª | 12,9 s | ||
80 a 120 km/h em 4ª | 13,5 s | ||
Frenagem | |||
100 km/h a 0 | 44,4 m | ||
80 km/h a 0 | 27,8 m | ||
60 km/h a 0 | 15,6 m | ||
Consumo | |||
Ciclo cidade | 9,3 km/l | ||
Ciclo estrada | 13,2 km/l |
Galeria: Fiat Uno Attractive - teste rápido
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